Gloria é ascensorista na UERJ. Ela foi criada e vive até hoje no Morro da Providência. Filha de um pai abusivo, quando se vê livre dele, passa para as mãos de um irmão, chefe do tráfico, que ainda se faz presente e exerce enorme influência sobre sua vida, mesmo estando preso. Camila é uma jovem psicanalista portuguesa que está no Brasil para estudos de pós-graduação sobre violência também na UERJ, onde começa a atender Gloria em seu consultório. É estrangeira e deslocada em meio ao caos de uma cidade desigual, ruidosa, hostil e em constante transformação. Um vínculo entre elas se inicia.
Décimo terceiro de Lucia Murat, Praça Paris é um drama psicológico cheio de contrapartidas e contrapontos em seus personagens. Contado do ponto de vista hora de Glória, ora de Camila, a trama envolve o espectador nessa teia sem começo e fim. Além da violência do dia a dia, a psicóloga, interpretada por Joana de Verona, ao se envolver com a história de sua paciente, sofre de delírios. A estrutura cênica montada corresponde aos anos da Ditadura que diretora sofreu, sendo inclusive presa e torturada nesse período.
A narrativa coloca em questão como o amor é frágil onde o medo é forte, junto ao olhar da paranoia que se cria através do medo da violência. Ao mesmo tempo, a diferença na realidade de suas protagonistas pontua a trama.
A fotografia assim como a trilha sonora crua complementa o roteiro pontuando os momentos de tensão e alivio (se é que existe em tempos de insegurança).
Praça Paris relata a veracidade dos fatos em que vivemos, configurando a realidade do Rio de Janeiro em tempos de violência. Paranoia, medo, a violência pela violência, o preconceito tudo isso é colocado em cena, de modo a colocar o espectador a pensar sobre a situação de apenas subsistimos.
Coprodução Brasil-Argentina foi exibida na mostra competitiva, Premiere Brasil, do Festival do Rio 2017.