“Contracapa”: Uma leitura subjetiva sobre relacionamentos familiares

“Contracapa”, espetáculo com direção de Priscila Vidca e texto de Suzana Nascimento, traz Rocio Durán, Saulo Rodrigues, José Karini e Roberto Frota, em um enredo pouco monótono e encenação bastante original. O projeto foi idealizado pelo próprio Rocio.

Um casal, o velho pai da mulher e um convidado que tem uma história amorosa com a mulher. É um desenho relacional que parece explorado, mas a peça consegue lançar olhar fresco à dinâmica dessas personagens. Situações, diálogos e tipos são utilizados de maneira a expor sob o microscópio as delicadezas do comportamento familiar, amoroso e social, de maneira a ironizar mas também a considerar seriamente as angústias dos cidadãos contemporâneos, que vivem conflitos existenciais muito parecidos com os do começo dos tempos. A questão da escolha e da responsabilidade que temos pelos caminhos que percorremos é central.

A vida é vivida, mas também é inventada. “No me gusta la mentira, me gusta la ficción”. O velho pai carrega o discurso conservador e pragmático, o convidado traz consigo a juventude, a aventura e o artista romantizado. Nesse meio tempo marido e mulher lidam com suas inseguranças, dúvidas, medos. E, como em um livro, um romance, tudo é possível: “E se eu quiser acabar com essa história aqui?”

O recurso da metalinguagem é usado. A personagem pára o drama e se coloca do lado de fora, interferindo na história, fazendo as outras personagens moverem-se segundo seu comando e ressaltando o que mais lhe convém na trama. O que há dentro desse livro? O que diz a contracapa? “Nada disso é real”.

É uma peça agradável e instigante ao mesmo tempo. vale a pena conferir.