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Depois da Guerra: Um passado doloroso pode criar novas feridas

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Por Tarsso Freire Sá

Durante o período do final da década de 1960 até o fim da década de 1980, a Itália sofreu um momento de desordem política, marcado por um grande número de terrorismo, esse período histórico ficou conhecido como os Anos de Chumbo.

O filme de Annarita Zombrano, Depois da Guerra, narra a história de Marco Lamberti (Giuseppe Battiston) que foi um terrorista político, e membro do grupo de extrema esquerda, Formação Armada pela Revolução. Após matar um juiz, ele foge para a França junto de outros companheiros e lá conseguem asilo para recomeçar uma nova vida. Porém, tudo muda com o assassinato do professor Marini por um integrante de um grupo terrorista de mesmo nome que o de Marco. O governo francês então decide aceitar o pedido de extradição do homem de volta a Itália, onde ele seria preso. Este que se recusa o voltar para a Itália, vivo ou morto.

O longa se divide em dois núcleos, a família italiana do ex-terrorista, que se foca principalmente em sua irmã, Anna (Barbora Bobulora). E em sua família francesa composta apenas por sua filha de 16 anos, Viola (Charlotte Célaire). A câmera segue apenas estas duas personagens para demonstrar como as ações de Marco afetaram suas vidas.
O tom político é bem presente, fazendo referências a acontecimentos reais na história italiana. Como os atentados dos Anos de Chumbo. O repúdio contra a reforma trabalhista de 2015, que retirou o artigo 18 do Estatuto dos Trabalhadores, que autorizava a reintegração do funcionário demitido sem justa causa. O próprio Brasil possui uma história semelhante, o caso de Cesare Battisti. Ativista politico italiano de extrema esquerda na década de 1980, fugiu para a França, como Marco, e para escapar da extradição se refugiou no Brasil, onde permanece até hoje.

De um lado, há Anna que precisa lidar com a pressão sobre sua família, sendo esposa do Promotor Público Chefe, que se vê em um conflito de interesses, já que é cunhado do acusado. Isso começa a afetar o trabalho dos dois, ela perde o seu e ele abdica de seu posto. Durante esse conflito interno, a mulher descobre a existência de sua sobrinha, Viola, que foi escondida por sua mãe. Na França, Viola se vê forçada a fugir com o pai, e largar tudo que tem. Eles se escondem no campo em uma casa que seus pais usavam quando era necessário se esconder. A fotografia no núcleo de Viola é particularmente bela, já que se faz o uso de luz natural nas cenas. A jovem sofre com toda a situação que o passado de seu pai criou. A relação dos dois é conturbada, a falta que a presença da mãe dela faz é talvez a única coisa que os une.

É muito interessante a forma com que Zombrano demonstra como as guerras, grandes ou pequenas, deixam cicatrizes e como podem ainda causar dores se o passado for remexido.

*filme visto durante o  7º Panorama do cinema suíço contemporâneo 

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