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Gaby Amarantos fala de empoderamento e Carmen Miranda em “Sou + Eu”

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A cantora e compositora está mais arretada, do que nunca, Gaby Amarantos lançou no dia 27 de maio, sua nova música de trabalho, “Sou + Eu”, levando as redes sociais anônimos e famosos ao delírio.

  A mulher de opinião forte, mais uma vez, mostra o que pensa e questiona padrões impostos pela sociedade com representatividade no clipe da nova música de trabalho, que eleva a auto-estima do público.  “É uma mensagem muito direta, simples, mas tenho certeza que muitas pessoas vão se identificar”, explica a paraense. O nome que leva a música tem explicação: “Cantar ‘Sou + Eu’ significa uma forma de você se libertar de padrões e reconhecer seu valor”, completa.

Com um elenco composto apenas por negros e indígenas, Gaby fala de emponderamento racial, feminino, liberdade corporal e Carmen Miranda e muita mais, confira!

Você faz uma critica social muito pertinente à vaidade das pessoas ao mesmo tempo em que levanta a questão do empoderamento feminino. “Sou + Eu” tem tudo para virar um hino contemporâneo. O que te levou a escrever essa letra?

Gaby Amarantos – Foi a necessidade de ativar o poder pessoal de cada um. A gente tá vivendo uma fase, um momento no Brasil, em que a gente precisa cada vez mais dar poder para as pessoas. Eu sou super a favor do empoderamento, eu já fui uma pessoa que não tive poder, e a partir do momento eu comecei a ser essa pessoa que me dava poder, eu comecei a entender que o poder estava dentro de mim. Então, “Sou + Eu” é uma forma de ativar esse poder interior que cada um de nós tem, de uma forma leve, divertida, por isso que o clipe é super colorido e a música é super popular. Eu quis fazer uma música simples para poder atingir, agregar o máximo de pessoas possíveis.

 Alias, você é um símbolo do empoderamento feminino, desde o seu primeiro sucesso, o que você tem achado da evolução do movimento?

Gaby Amarantos – É muito bom fazer parte desse movimento. De um cinco anos para cá tem sido muito falado, sobre isso. Eu acho que a gente tem muito para avançar, ainda. O empoderamento para mim só vai se tornar real quando a gente tiver mais igualdade. Então, a gente precisa muito agregar o empoderamento à igualdade, sabe, de empoderar todos os tipos de pessoa. No clipe tem pessoas negras, onde a gente já vê um avanço nessa discussão do negro no Brasil, mas o indígena ainda nem entrou na pauta. A gente tem que normalizar esse poder para todos.

Seu som é autentico e dominante e você leva isso para o clipe de “Sou + Eu”. Você imprime no clipe um colorido contagiante, como foi o processo de criação da estética dele?

Gaby Amarantos – Foi criado dentro da etnologia do próprio paraense, né. A gente tem muito essa questão das cores, que tá presente não só na nossa música, mas também na nossa gastronomia, na nossa floresta, e ai eu quis misturar tudo isso com esse movimento do afro futurismo que está acontecendo no mundo, que vem do filme Pantera Negra, do clipe de “This Is America” de Childish Gambino, do show da Beyoncé no Coachella, mas eu quis fazer um afro tropical, trazendo pro Brasil. Então o que eu tô propondo para música é algo novo, é um pop realmente com personalidade brasileira, sabe. Por que é muito importante a gente fazer a música pop, ter um movimento lindo que tá acontecendo pelo Brasil de música pop, mas quanto mais a gente abrasileirar esse movimento, mais a gente vai conseguir exportar essa música com verdade para o mundo inteiro.

 Você faz uma referencia clara à Carmen Miranda no final do clipe. Seria uma homenagem à obra dela? Aliás, qual é a influencia dela na sua carreira?

Gaby Amarantos – Sim, foi uma homenagem à Carmen Miranda. Mas, além disso, a gente quis também mostrar que esse ícone pode se tornar mais brasileiro ainda. Eu sempre fui fã da Carmen desde criança, por conta dos figurinos, né, e eu queria fazer uma Carmen Miranda mais brasileira, sabe, da Amazônia, negra, com um cabelo afro, para trazer mais as minhas raízes imprimidas, assim, a minha forma de ver Carmen Miranda. E é um momento de impacto visual do clipe, quando ela entra naquela mistura de boto rosa na cabeça, com açaí, com folhas de açaizeiro, com toda essa mistura, né, do tropicalismo amazônico, foi uma parada que me deixou muito orgulhosa! Agradeço muito ao Marcelo Sebá, diretor do clipe, que embarcou nesse processo criativo e me possibilitou fazer todas essas ideias junto comigo.

A música tem uma mensagem muito direta, é uma libertação de padrões e reconhecimento do seu valor, qual é a importância de levantar essa questão?

Gaby Amarantos – Nossa! Isso é muito importante! Tem várias questões ai embutidas, é até complexo tentar responder de uma forma resumida. Mas quando a gente quebra os padrões, a gente além de libertar vários corpos, a gente facilita o dialogo da beleza, com esses corpos que antes não eram considerados belos, eu tô falando principalmente no meu lugar de mulher fora do padrão e mulher negra, essa é uma das questões. O genocídio do povo negro que tá sendo exterminado no Brasil, a juventude negra está sendo exterminada, esse jovem que é da periferia, da comunidade, na favela, que tá morrendo. Ele é um jovem que também não se enquadra nesse padrão, que não tá nas capas de revista, que não está nas novelas, que não está sendo visibilizado pela sociedade. Então, é super importante quando a gente quebra o padrão, a gente amplifica o diálogo e a gente pode cada vez mais mostrar para as pessoas que elas podem ser lindas, entendendo a beleza de cada ser humano, mostrando que a beleza tá na normalidade, que está no jeito de você ser autêntico, que a beleza não está necessariamente em você ser magro, branco, Barbie, princesa da Disney, sabe, e isso sempre fez parte do meu discurso, por que eu sinto muito isso na pele, assim, eu vejo que o quanto que o poder, e quando eu me coloco nesse lugar de poder e o quanto que ajudo outras pessoas a ser colocar nesse lugar.

Estamos num momento no Brasil em que muitos movimentos, movimentos feministas negros, principalmente, buscam mudar a imagem da mulher negra na mídia. Ha uma busca pela reconexão com as raízes e a cultura negra, e o clipe enaltece isso. Foi uma escolha intencional?

Gaby Amarantos – Essa escolha faz parte de um processo que eu tenho acompanhado, que eu como mulher negra e que muitas mulheres negras estão vivendo. Se a gente for estudar a história da Lupita Nyong’o, a gente vai ver que há poucos anos atrás, ela era uma mulher negra que alisava o cabelo e hoje, ela é um ícone de beleza para as mulheres negras e para todas as mulheres do mundo, assim como Beyoncé, assim como Rihanna. Eu entendendo que a gente tá passando por um processo de redescoberta e de entender o quanto que a nossa simbologia, o quanto que a nossa cultura é forte, sabe. A gente tá nesse processo de poder.

Por exemplo, o turbante na minha vida, foi uma parada que me fez cada vez mais me empoderar dessa mulher negra que eu sou, sabe, de querer cada vez menos alisar o cabelo, eu tô na transição capilar já faz um ano e meio, choro de lembrar como eram os meus cachos e como eles estão na luta para voltar. E nesse processo eu fiz a minha primeira viagem à África para me encontrar mais com as minhas raízes, entendendo o quanto que é incrível ser negro, sabe, eu acho que é isso que a gente precise entender, e isso que talvez, grande parte da sociedade entenda, mas talvez dê medo nas pessoas.

E é importante também, o quanto mulher negra na mídia, para a gente poder acabar com a questão da solidão da mulher negra, é ter mais mulheres negras em todos os espaços de poder. Não só, como aquela mulher padrão que tá na novela, mas, sim em todos os espaços de poder.

Não dá mais para se oportunizar desse debate, sem transformar. A gente precisa agora é partir para ação, a gente já entende as questões. E nós, como população negra a gente tem que cada vez mais, entender o nosso poder de consumo, de assistir programas que nos representam, de comprar revistas que tem capas que nos represente, a questão do nosso poder econômico é algo que pode ajudar muito a transformar o Brasil em um lugar mais igual.

Você exala brasilidade no clipe e o elenco todo também. Há a participação de etnias indígenas brasileira, além do ator Jonathan Azevedo, a judoca Rafaela Silva e Gleici, vencedora do ‘BBB18’, como foi esse convite?

Gaby Amarantos – Antes de mais nada, eu gostaria de exaltar essas perguntas, essa entrevista por que é muito bacana falar com um veiculo que explorar de forma muito inteligente e relevante as questões que a gente quis abordar no clipe, principalmente da brasilidade, da gente colocar diversos corpos e diversas etnias.

Ter o Jonathan, que para mim é um irmão que ganhei, tem Rafa, judoca, que é uma pessoa que me emocionou tanto quando ela ganhou aquela medalha e pela história de vida dela. E da Gleici que aproveitou os espaços para falar de direitos humanos, sabe, uma pessoa que tem conteúdo. É muito bom poder reunir essas pessoas, e todas as pessoas anônimas que estão nesse clipe, elas são pessoas que tem história de vida. Tem uma história de superação e a música fala disso, a música é uma história de superação, é uma volta por cima. E o povo brasileiro tá precisando tanto dessa volta por cima, tá precisando tanto se olhar no espelho e dizer: “eu sou mais eu”, e esse convite foi muito direto. Eu mesma entrei contato com todo mundo e na hora eu recebi mensagens eufóricas de sim, fiquei muito feliz com o resultado. A galera das etnias indígenas ficou muito feliz de estar de se representando. Isso é muito importante, ver o índio representado por ele mesmo. Nossa! Foi muito especial! Eu tô muito orgulhosa de ter feito esse trabalho e de ter contribuído de alguma forma. Daqui alguns anos, eu vou olhar para trás e vou olhar com orgulho!

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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