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Os Fantasmas de Ismael: desventuras amorosas de um criativo cômico

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Ismael (Mathieu Amalric) é um cineasta em meio a um processo criativo, mais especificamente a produção de um filme que fala sobre a história de um suposto irmão seu, Ivan Dedalus (Louis Garrel). Durante este processo criativo atribulado, Ismael conhece Silvia (Charlotte Gaisbourg), com quem logo desperta uma paixão fervorosa e sexual. Quando tudo parece estar indo bem, surge Carlotta (Marion Cotillard), sua ex-mulher que havia desaparecido há mais de 20 anos.  A partir daí começa-se uma jornada de encontros e desencontros com seu próprio eu, onde todos os cenários da vida de Ismael parecem se confundir e o cineasta têm de lidar com um turbilhão de emoções, perda do foco profissional, memórias e literalmente, fantasmas do passado.

Arnauld Desplechin é conhecido por um estilo muito próprio de narrativa. Em matéria de estrutura de roteiro, não saberíamos muito bem aonde encaixar os elementos de Os Fantasmas de Ismael. Passa por todos os campos, utiliza-se de várias tramas e sub-tramas intercaladas, e aparece fazendo um filme, dentro de um filme. Não parece haver muita preocupação com a estrutura, e sim com seu próprio jeito de contar história. Alguns o relacionam com Woody Allen, eu particularmente acho que Woody Allen carrega um pouco do sarcasmo e da arrogância francesa, logo, não é difícil apontar trabalhos do cinema francês parecidos com obras “woodialleanas”, (Acabei de inventar o termo).

E uma das mais latentes características neste trabalho, é a falta de foco no caracter/plot driven. Difícil apontar qual das histórias é de fato o “telos”, ou seja, o objetivo de Ismael no longa. Conseguir produzir seu mais novo filme? Viver a sua nova paixão? Resgatar seu antigo amor que surge do nada? Esquecer este amor que o abandonou por 20 anos sem dar uma notícia? Criar?  Neste aspecto, o título não é apenas sugestivo, como literal. São vários fantasmas rodeando a mente do personagem que por si só, talvez pelo fato de ser um artista, e quem é artista e criativo sabe o quão instável e dependente de muitas variáveis é o trabalho, já tem dificuldades em lidar com esse espiral de funções.

Talvez a ideia do diretor fosse essa: uma grande história falando tudo sobre um grande nada. O trabalho, a criatividade, a paixão, o amor, a saudade, a dor, o sexo, a dança, a natureza. Ppara muitos isso pode ser um ótimo enredo para um filme, e é nisso que Desplechin parece apostar, ao meu ver. Ele confia muito na sua dialética, e coloca em tela sem tanto receio em apresentar uma coesão, ou uma verossimilidade. Embora pareça uma narrativa de cotidiano, Os Fantasmas de Ismael não é uma história que acontece com seu vizinho, ou um conhecido seu. É um romance cheio de metáforas cômicas surreais, triângulo amoroso, processo criativo em meio a flashbacks sutis e ao mesmo tempo inquietantes.

Quanto à edição, a junção de todas estas histórias em relação a sua temporalidade, não me parece um trabalho tão bem feito. Dá para se confundir no tempo em que as ações são tomadas.

As atuações do trio principal são boas, em especial Marion, de quem sou pessoalmente, fã. Cotillard trabalha muito bem a delicadeza das expressões faciais e corporais, imprime o drama na medida certa, na hora em que tem que ser mais agudo, inclusive. Acho-a sensual, e contracenar com Gainsbourg, que em matéria de sexualidade, fez doutorado com Ninfomaníaca, foi um desafio interessante. Amalric manda bem, com a dramatização meio cômica meio aflita.

Ademais, Os Fantasmas de Ismael é uma opção para quem conhece o estilo francês de se fazer cinema, curte o casting, que é bem forte de fato, e não se preocupa muito com estruturas narrativas.

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