“A Mentira”, de Nelson Rodrigues, ganha aspectos simplórios no olhar da Cia Omondé

Chama atenção a simplicidade na produção, que, mesmo prescindindo de traquitanas e pirotecnias, consegue maximizar a mensagem do texto trágico, apresentando soluções cênicas desconcertantemente originais. A narrativa é feitas de retalhos e é entrecortada, de forma que há o revezamento de personagens – os atores interpretam fluidamente os personagens.

A dramaturgia rica de Nelson Rodrigues é o que a direção deixa brilhar com mais intensidade. Todos os artistas estão ali para montar uma bela peça e o fazem de maneira bem-sucedida. Acontece a exploração criativa de todo o espaço cênico e das possibilidades de movimento.

Lúcia aparece grávida e todo o circo está montado, pela mãe, pai, possíveis genitores do bebê. Reprimendas, cobranças, ameaças, tudo acontece na revirada vida de Lúcia. Há uma crítica bastante expressiva aos ditames e ao modus operandi da sociedade média brasileira – que estava em formação quando Nelson escreveu sua obra. Toda a hipocrisia e as mazelas do moralismo pátrio estão ali.

A grávida é a irmã caçula de uma família com quatro mulheres criadas por um patriarca repressor do subúrbio do Rio de Janeiro no início da década de 50. Segredos e inverdades vão se desvelando e uma estrutura trágica é tecida a partir da gestação em questão, Os suspeitos são os cunhados, que dividem o teto da família. É um grande chiste, cujo objeto é a sacralidade familiar e o conservadorismo.

A Cia Omondé , mais uma vez, sob a direção de Inez Viana, realiza uma montagem que vale a pena ser conferida. O elenco conta com atores empedernidos como André Senna, Elisa Barbosa, Junior Dantas, Denise Stutz, Leonardo Brício, Lucas Lacerda e Zé Wendell.