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Gabriella Vergani fala da experiencia em “O Negócio”, série da HBO

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Cada personagem exige um processo de construção. Como você trabalha a essência deles?
Gabriella Vergani – Cada projeto e personagem é um processo de estudo, depende do que eu estou vivendo. Quando eu comecei a atuar usava muito “O Método” de Stanislavsky. Funcionou para aquele momento, mas depois me sentia presa para atuar livremente. Nos meus primeiros curtas só usei “O Método”. Depois senti a necessidade de ir para outros horizontes atuando.

No longa Tais & Taiane fizemos a preparação com o Márcio Mehiel que trabalha com os movimentos internos como alicerces da expressão. A partir desse processo então estudava os personagens partindo desse ponto bioenergético. Quando me mudei para New York, fiz coach com o Harold Guskin ( autor do livro “Como Parar de Atuar”). Harold trabalha com a respiração e a inspiração a partir do texto. Quando filmei Cacaya optei por vivenciar apenas o momento presente de “estar”. Segundo ele, não estamos em cena, estamos vivendo aquela experiência. Por tanto o estudo para a personagem é mais um processo de auto-conhecimento.  Agora, estudando com a Ana Paula Dias, Meisner, onde você reage com sinceridade ao que você está sentindo naquela experiência com o texto e a situação ao redor. Jamais é um personagem, sempre é você reagindo naquelas circunstâncias.

Gosto desse processo de metamorfose, de ter liberdade para poder aprender em cada processo e ser aberta as possibilidades de melhor explora-ló.

Você já atuou em séries como “It Girls” e “O Negócio” da HBO . Como a diferença de linguagem entre os formatos, permite que você trabalhe a construção dos personagens e na atuação?
Gabriella Vergani – Quando fiz a Webserie “It Girls” estava em uma sequência de trabalhos no mundo teenager. Logo em seguida fiz uma peça que fazia muitas personagens e sempre como adolescente. Era engraçado porque as pessoas achavam que eu era de fato adolescente e na época eu já tinha 25 anos. Tenho um lado menina, que consigo acessar com facilidade. Também o recurso da minha voz e o fato de fotografar mais nova, deixando o processo natural e prazeroso de fazer. Era como se eu revivesse minha adolescência e os conflitos dela. Claro que eram conflitos diferentes da realidade que vivi mas era como se eu entendesse o que a personagem estava vivendo. Atuar pela plataforma da internet é muito interessante. Pois podemos ver tanto como está a audiência (pelo número de views) e acompanhar pelos comentários o que os expectadores estão sentindo. Esse contato imediato com o público é interessante.

A Série “O Negócio” tem uma outra atmosfera, pelo tema e tudo envolvido. A diferença das duas é o meu estado interno que eu me coloco em cada projeto.

A série “O Negócio” foi um projeto nacional muito ousado por abordar uma temática sexual. Como foi o convite para participar dessa série? E por que você quis fazer parte desse projeto?
Gabriella Vergani – Lembro que soube dessa Série e que logo no teste tinha essa questão “Pode fazer nu? Gravaria cena de sexo?”. A produtora me perguntou se eu faria, já que a personagem teria cenas nua. Eu não tive nenhuma preocupação com isso e para mim hoje conhecendo ainda mais o projeto vejo que “O Negócio” é muito mais do que uma série que aborda temática sexual. Tanto os conflitos da minha personagem “Letícia” quanto do restante da série, são riquíssimos. Cada personagem ali aborda não só uma questão pessoal mas como uma questão “social” de como somos encarados perante a sociedade. Quando fiquei sabendo que passei e assim recebi o roteiro fiquei apaixonada. Entrei fazendo uma participação na segunda temporada e meu personagem acabou ficando até o última temporada.

Você tem uma ligação forte com o cinema alternativo. Já fez muitos curtas. Qual é a importância deles na construção da sua carreira?
Gabriella Vergani – Tenho de fato uma ligação forte, pois foi dessa forma alternativa que eu consegui minhas experiências e vivências como atriz de cinema. Depender da quantidade de testes ou de conseguir pegar um papel em um filme me angustiava. Eu queria filmar, atuar. Desde meu primeiro curta me apaixonei pelo linguagem cinematográfica. E foi através dos Curtas que consegui experiencia-lo; o set, os roteiros e os personagens.

Como a sua experiência em Nova York agregou à sua carreira?
Gabriella Vergani – Quando optei mudar para os EUA, queria aprender um segundo idioma. Me tornar uma atriz bilíngue, criou uma ponte com o mercado exterior, aumentando as minhas possibilidades e diminuindo as fronteiras com diferentes culturas. Mas New York foi além disso, lá conheci Harold Guskin, com quem tive coach como atriz. Lembro anos atrás de ler “Como Parar de Atuar” e fiquei encantada pelo processo de como ele trabalhava com os atores, nunca imaginaria que iria viver a experiência de ser preparada por ele. Conheci lá em NY também a equipe do filme “Cacaya”, pessoas talentosas com uma proposta de liberdade no cinema independente.  E uma das coisas principais; o ganho e a maturidade como humano que ganhei de lá, com a família que fiz de amigos imigrantes, que me acolheram.

A peça “Beatriz” usa de um formato diferente, com a linguagem de um documentário, correto? Você pode falar mais sobre esse projeto e à que ele se propõe .
Gabriella Vergani – Uma das nossas maiores inspirações para “Beatriz” foi o filme de Petra Costa “Elena”. No documentário sobre sua irmã atriz, Petra costura poesias e vivências. Nossa peça será esse patchwork; uma colcha de retalhos do universo de Atriz.
É como se abríssemos nosso coração, compartilhando do nosso mundo, sendo jovens atrizes e mulheres, através de relatos pessoais. Nesse primeiro momento estamos finalizando a dramaturgia, eu e Mariana Mazivieiro, para começarmos a ensaiar. Posteriormente temos a intenção de seguir com o projeto, reescrevendo-o a partir dos relatos de atrizes com diferentes idades; com mais e também com menos experiência que nós, de acordo com a vivência de cada momento de atriz.

Em Tais & Tatiane você Filmou na Chapada dos Veadeiros, como foi essa experiência?
Gabriella Vergani –  O filme foi um processo imerso. Estávamos fazendo um filme de duas meninas que se tornariam amigas e se aventurariam pela estrada. E foi isso que o filme me proporcionou; uma amiga, aventuras e a estrada. Tivemos a chance de vivenciar o roteiro estando lá. Eu, Yasmin Santos, a equipe de filmagem com o diretor Augusto Sevá, e a Chapada nos abençoando com seus cristais e Canyons. A pesar de muito trabalho, durante aproximadamente dois meses filmando todos os dias, filmar lá foi um encontro entre a sétima arte com a imensidão da natureza.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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