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Pedro Mariano fala sobre o novo álbum e mercado fonográfico independente

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Um dos maiores intérpretes da música brasileira, indicado quatro vezes ao Grammy Latino, Pedro Mariano lançou seu novo trabalho, “Pedro Mariano e Orquestra – DNA”, gravado em 2018, no Teatro Alfa (SP),  pelos selos LAB 344 e NAU, em todas as lojas e plataformas digitais. 

Filho da cantora Elis Regina e do músico Cesar Camargo Mariano, Pedro conquistou o disco de ouro e consagrou o artista como uma das grandes vozes da música brasileira.  Com  23 anos de carreira, 10 discos lançados, sendo 4 em CD e DVD. Já fez parte da trilha sonora de novelas da TV Globo. Seu segundo disco, “Voz No Ouvido”, lançado em 2000, recebeu a indicação ao Grammy Latino 2001, na categoria “Melhor Disco Pop Contemporâneo Brasileiro”.

São 23 anos de carreira, 10 álbuns lançados e quatro indicações ao Grammy latino, suas influências musicais ainda são as mesmas ou existe uma constante transição musical dentro de você?
Pedro Mariano – Na verdade, as duas coisas. Continuo sendo influenciado por todos os artistas que me ajudaram a ouvir e aprender com a música. Com os anos, fui ficando mais “democrático”, permitindo a entrada de novos sons e de novas vertentes musicais que não eram tão comuns na minha discoteca, e só tive a ganhar com isso. Hoje não sou mais um ávido ouvinte de música, como na adolescência, mas ouço uma variedade bem maior.

 Você vem de uma família musical de grande importância, como isso faz parte da sua construção como artista?
Pedro Mariano – Acredito que só o fato de ter crescido num ambiente extremamente musical, já seria algo de muita relevância para minha formação. Quando adiciono todo esse legado, uma responsabilidade interna surge imediatamente. Nunca me propus ser maior ou melhor que meus pais, mas quero ter certeza que represento esse legado. Para isso o foco na qualidade, seriedade e verdade tem que ser o maior possível. Essa cobrança eu tenho e me faz bem.

Seu mais novo trabalho está sendo lançado por uma produtora independente, como você vê o mercado atual musical ? E como a nova logística de distribuição influência o seu trabalho?
Pedro Mariano – Quando eu montei meu selo, para lançar o álbum “Incondicional” (2009), já sentia há muito tempo a necessidade de ter um olhar mais cuidadoso com meu trabalho. Não me sentia mais parte de um casting numeroso de uma grande gravadora. Aquilo não me satisfazia. Percebi, também, que era uma demanda de muitos outros artistas e que não demoraria muito a ser uma realidade. O grande atrativo de uma grande gravadora, seria seu poder financeiro, e isso não acontece mais. As facilidades de se lançar álbuns de forma independente e através de muitas outras formas, como as plataformas digitais, fizeram com que um grande número de artistas tomassem coragem para se lançarem, e isso é sensacional. Muita coisas devem mudar nos próximos anos, porém tudo o que há hoje em dia, trás uma série de informações que, há alguns anos, seria impensável de se ter. Hoje, pensar em ter músicas sendo lançadas separadamente do formato “álbum” se apresenta como uma grande ferramenta, e isso pode mudar todo o caminho de uma produção de qualquer artista.

A internet e as plataformas digitais são cada vez mais usadas no processo de criação e divulgação de novos artistas. As plataformas de streaming criaram um novo mercado de distribuição e publicidade. Você acha que o mercado musical independente ganha mais força com esse novo movimento?
Pedro Mariano – Sim, sem dúvida! Porém a forma de se divulgar a música para chegar ao grande público, ainda requer as mesmas ferramentas de sempre, e custam muito dinheiro. Eu acredito estar aí o grande entrave para que se tenha grandes transformações na música brasileira. Artistas novos que conseguem uma exposição nas mídias sociais digitais, nem sempre estão preparados para atender esta demanda. Vejo um grande número de “artistas/celebridades/youtubers” sem qualquer preparo técnico e artístico, existindo uma grande chance de durarem bem menos do que seus talentos poderiam lhes render. Muita gente mirando no resultado e se esquecendo que é o processo que te traz a segurança e experiência para chegar ao resultado.

Nesse novo álbum, algumas músicas são regravações de grandes artistas da MPB, como foi feita essa seleção? E o trabalho junto à orquestra, como foi feita a transição dos arranjos musicais?
Pedro Mariano – O repertório de regravações foi construído de forma a atender um desejo meu de cantar algumas canções que são de uma seleção de músicas que ouço em casa e que nunca havia cantado para ninguém. Gosto pessoal e bem particular. Nesse caso, os arranjos foram criados a partir de como eu canto essas canções. Fui me juntar com os arranjadores e gravamos uma versão com a minha voz e um piano, ou violão e só. Daí em diante eles criaram tudo em função da emoção que eu demonstrava ao cantar essas músicas.

Cada musica tem um processo de criação diferente? Como é o seu processo de criação?
Pedro Mariano –  Sim, absolutamente! Porém buscamos fazer com que todas se comuniquem entre si. A unidade entre elas está nos arranjos e em mim. Gosto de repertórios plurais, por me considerar um cantor de personalidade plural, mas isso traz o desafio que buscar a unidade do repertório em outras frentes, como a sonoridade, instrumentação, temas a serem abordados, etc.

A geração mais jovem (de hoje) não tem grandes poetas como: Caetano Veloso, Chico Buarque, Cazuza, Cássia Eller, Renato Russo. A música brasileira atual tem sofrido com a falta de músicas com letras mais completas e poetas mais profundos?
Pedro Mariano – Não posso concordar com isso. Temos muitos grandes letristas hoje em dia, como o Jair Olveira, Tó Brandileone, Lenine, Dudu Falcão, Jorge Vercillo, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Fabio Cadore e por aí vai! A grande diferença está no fato de que os nomes citados na pergunta são de uma época em que a cultura não era tão volátil como hoje. Esses artistas não disputavam espaço com uma cultura extremamente pobre e imediatista, fruto de um descaso com a cultura nas escolas e a internet que cria distorções artísticas a todo tempo. Dê o mesmo espaço em TV, Rádio e no mundo digital a eles que veremos uma transformação em muito pouco tempo.

Você acha que a música brasileira de hoje pode ser subdividida em alternativo, MPB tradicional como Chico e Caetano e MPB Pop?
Pedro Mariano – Não saberia dizer. A necessidade de se criar um nome para tudo isso é do mercado. Para mim a música brasileira se divide em “boa” e “ruim”, e ambas precisam existir. Nosso país é muito grande, com muitas vertentes e a MPB é uma delas. Confesso que sempre tive dificuldades em definir a MPB, porque a Cassia Eller, por exemplo, quando surgiu, era POP-Rock, e quando ficou mais velha, e mais experiente, passaram a chamá-la de MPB. Confuso! Nunca gostei de rótulos.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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