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Exposição no IMS Rio apresenta fotografias da italiana Letizia Battaglia

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A partir de 30 de setembro, às 16h, o IMS Rio recebe a mostra Letizia Battaglia: Palermo. A exposição reúne 60 imagens da fotógrafa italiana, exemplares de publicações e filmes, entre eles o documentário La mia Battaglia (2016), do cineasta siciliano Franco Maresco. Ao longo de quatro décadas de carreira, Letizia Battaglia (1935) documentou a Guerra da Máfia em Palermo, especialmente nas décadas de 1970 e 1980. Também registrou o cotidiano, a vida cultural e as transformações da cidade. No dia da abertura (30), às 18h, Letizia conversará sobre a sua trajetória, em um bate-papo com João Moreira Salles e o jornalista Leandro Demori. O evento é aberto ao público e acontece no Auditório do IMS Rio.

Antes de chegar ao IMS, a mostra passou pelo Zisa Zona Arti Contemporanee (ZAC), em Palermo, e pelo Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo (MAXXI), em Roma. A curadoria é de Paolo Falcone, fundador e diretor artístico da Fundação Sambuca e especialista na obra da artista. A seleção apresenta um panorama da produção de Letizia, que sempre encarou a fotografia como instrumento de intervenção e denúncia social. Em preto e branco, suas imagens contam uma parte da história de Palermo, cidade onde nasceu e que marcou profundamente toda a sua carreira.

Com uma trajetória intensa, que envolve desde inúmeras coberturas jornalísticas até a atuação em cargos políticos, Letizia começou a fotografar relativamente tarde, quando tinha 36 anos. Antes disso, vivia em Palermo com as filhas e o marido, com quem se casara aos 16 anos. Em 1971, em busca do “seu direito à liberdade”, como descreve, separou-se do marido e se mudou para Milão, onde passou a contribuir com alguns periódicos. Na nova cidade, marcada por protestos e uma intensa vida cultural, Letizia começou a fotografar e desenvolver sua poética.

Em 1974, ela foi convidada a retornar a Palermo e trabalhar como editora de fotografia no L´Ora, jornal, com viés de esquerda, que, “nos anos 1970, era o único a denunciar o sistema degradado e corrupto”, relembra o curador. Nesse período, ela conhece o fotógrafo milanês Franco Zecchin, que se tornaria seu companheiro e também parceiro no L´Ora. Juntos, os dois registraram os conflitos da chamada Guerra da Máfia, que assolou a cidade, principalmente nas décadas de 1970 e 1980. Segundo Falcone, havia, na época, “um pacto entre política e máfia, nascido no imediato pós-guerra, que foi se consolidando desde os anos 1950. A cidade estava sob controle, eles que decidiam tudo: licitações, acordos, divisões de poder, especulação imobiliária.”

Em texto publicado na revista piauí, a artista relembra o período: “Com a máquina fotográfica, a tiracolo, me tornei testemunha de todo o mal que estava ocorrendo. Foram anos de guerra civil: sicilianos contra sicilianos. Foram assassinados os melhores juízes, os jornalistas mais corajosos, os políticos avessos à corrupção.” Nos anos em que trabalhou no L´Ora, Letizia documentou ostensivamente os rastros de violência deixados pelo conflito. A exposição apresenta um conjunto de reproduções de capas do L´Ora, com fotografias de Letizia.

Entre as imagens selecionadas, uma das mais famosas é a que retrata, em 1979, a prisão do chefe mafioso Leoluca Bagarella, responsável por dezenas de assassinatos. Com o intuito de conseguir o melhor ângulo possível, Letizia ficou tão próxima do preso que ele conseguiu lhe deferir um pontapé e derrubá-la no chão. A situação era recorrente no dia a dia da fotógrafa, que, com seu físico pequeno e ágil, se posicionava exatamente onde a cena ocorria. “No caso de Battaglia, a imagem não é só o resultado de uma observação mais ou menos aproximada, é um embate em que a fotógrafa está fisicamente engajada”, afirma Lorenzo Mammì, curador de programação e eventos do IMS. Na mostra, é possível assistir ao documentário Amore amaro, de Francesco G. Raganato, no qual Letizia relembra o contexto em que produziu a imagem.

Em outra foto conhecida, ela documenta, em 1980, o assassinato de Piersanti Mattarella, governador da Sicília. Clicada poucos minutos após o crime, a foto mostra o corpo de Mattarella sendo tirado do carro, com sua filha ainda no banco de trás, o rosto coberto pelas mãos. Assim como essa, há outras imagens em que Letizia retrata os inúmeros assassinatos ocorridos em Palermo. São fotos de denúncia e engajamento, testemunho de histórias que não podem ser esquecidas. Na mostra, as vítimas também serão lembradas em uma linha do tempo, que inclui personalidades como o próprio Piersanti Mattarella e o juiz Giovanni Falcone.

A exposição traz também uma série de fotografias de meninas, tiradas pela artista ao longo de sua carreira. As imagens revelam o cotidiano dessas crianças, marcado pela pobreza e a violência, mas também pela inocência da infância. “As meninas, os sonhos das meninas me emocionam. Tenho muitas fotos de meninas no meu acervo. Busquei nelas meu sonho, o sonho de encontrar um amor, um futuro fantástico, aventuras. Nelas, reencontro a mim mesma”, afirma.

Ao longo de sua carreira, Letizia se engajou em diversas atividades culturais, seja no teatro, na fotografia ou no meio editorial, como ela mesmo relembra: “Enquanto a Guerra da Máfia recrudescia, dávamos cursos para jovens fotógrafos. Franco e eu abrimos a primeira galeria fotográfica siciliana, levamos para casa pacientes saídos de hospitais psiquiátricos, fundamos uma revista chamada Grandevú, divertida e politicamente corajosa.” A mostra exibirá 28 exemplares originais da revista. Haverá ainda uma vitrine com publicações lançadas pela Edizioni della Battaglia, pequena editora independente fundada pela artista em 1992, que promovia autores famosos e desconhecidos, locais ou de países diversos.

Premiada e com exposições pelo mundo, Letizia via a fotografia como uma forma de militância e denúncia da realidade em que vivia. Quando as imagens pareciam já não ser o bastante, entrou na política, ingressando, em 1986, no Conselho Municipal da Cidade. Posteriormente, foi eleita deputada regional. Ainda assim, a fotografia sempre esteve presente em sua vida. A partir dos anos 2000, iniciou um trabalho de reflexão sobre seu próprio arquivo, alterando e inserindo novos elementos em imagens antigas, imprimindo-as em novos formatos que resultaram na série Reelaborações, também exibida na mostra.

Em cartaz até 17 de fevereiro de 2019, a exposição tem apoio do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, do Departamento de Cultura do Município de Palermo e da Fundação Sambuca. Em 2019, a mostra será exibida no IMS Paulista.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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