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Corpos Opacos: Um espetáculo cheio de nuances

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Duas freiras colombianas, paradoxalmente, encontraram o claustro no mosteiro de Santa Clara, a santa da luz. As atrizes Carolina Virgüez e Sara Antunes encontraram nessa premissa um argumento sólido no qual basearam uma performance cheia de nuances, referências, revelações e luzes.

As duas artistas executam uma coreografia rica, contando a vida das pessoas religiosas sem negar o ser humano e, também, o animal que existe por debaixo dos hábitos. São citadas freiras que tiveram vidas difíceis, que foram retratadas em sua vida e morte. A narrativa trata, em síntese, de uma ode também à feminilidade e ao papel da mulher na sociedade e no mundo.

O espetáculo Corpos Opacos, dirigido por Yara de Novaes, traz retratos póstumos de monjas coroadas de Bogotá, lastreando a performance, que finda em um semi-ritual de expurgação de males e vomitório das frustrações dessas mulheres consagradas espiritualmente, mas que padecem de limitações em suas fisicalidades. Acaba por se tornar um espetáculo revolucionário, no sentido de que dá visibilidade às demandas dessa classe. É bastante emocionante a dedicatória final de uma das atrizes, que parece falar em primeira pessoa.

Um flerte com o etéreo, o repertório da castidade e da abdicação não escondem um trabalho de ator e de corpo bastante vivos, assim como uma poesia especial. Carolina Virgüez diz: “trata-se de posicionar no teatro corpos que em vida não foram vistos, nem ouvidos e pesquisar de que modo é possível conceber práticas que restituam essas corporalidades”.

A questão da virgindade e da pureza daqueles corpos é central. Apreciar o inacessível; ser inacessível é bom ou ruim? Qual é o sentido de só serem olhados quando mortos em uma espécie de nascimento às avessas? Um linguagem de silêncios, visões do imaterial, transes, êxtases místicos. Um estética ritualista e sacra que transparece o erótico dentro da religiosidade. A ideia é dar voz e rosto às usualmente anônimas cônjuges divinas.

Pedro Kosovski contribui artisticamente e a dramaturgia é assinada pelas próprias atrizes, cuja trajetória apoia-se na pesquisa de uma linguagem cênica autêntica.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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