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Estás Me Matando Susana traz Gael Garcia Bernal em grande atuação

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Ao longo dos últimos anos, tem-se notado uma tentativa de desconstrução de várias convenções sociais e paradigmas; uma das que está mais em voga é o machismo, o qual é mostrado de maneira tragicômica no longa Estás Me Matando Susana. Adaptado do livro “Ciudades Desiertas”, de (José Agustín), lançado em 1982, o filme acompanha Elígio (Gael Garcia Bernal), um ator mulherengo e extremamente machista, que trai a esposa, Susana (Verónica Echegui), sempre que surge uma oportunidade, cobra fidelidade da mulher e não vê nada de errado nisso, afirmando sempre que o relacionamento está ótimo. Um dia, após mais uma noite de bebedeira, Elígio acorda e descobre que Susana saiu de casa, sem avisar e sem dizer para onde ia. Assim, o homem, quase em surto, tenta descobrir onde a esposa está e vai atrás dela.

O primeiro destaque da produção é, sem dúvidas, Gael Garcia Bernal – em um papel diferente do que o público está acostumado a vê-lo -; o aclamado ator mexicano se sai muito bem dando vida a um machista clássico, mas extremamente carismático que consegue facilmente se tornar o centro das atenções em uma mesa de bar, fazendo o espectador rir enquanto sente uma pulsante raiva da personagem. Essa característica se salienta quando Elígio chega aos Estados Unidos, quando o roteiro passa a abordar a xenofobia, desde o momento em que o homem chega ao aeroporto e tem que lidar com os agentes de imigração até sua interação com as outras personagens norte-americanos.

Este é um aspecto que os roteiristas Roberto Sneider – tembém responsável pela direção – e Luis Cámara souberam trabalhar de forma bastante interessante: todos os estadunidenses que cruzam o caminho de Elígio ou o tratam como se estivessem lhe fazendo um grande favor por recebê-lo em solo americano ou o veem quase como um ser alienígena digno de curiosidade. Este é um dos pontos altos do longa. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de seu arco principal. Elígio é o típico cara que adora bancar o machão – mesmo que seu porte físico não imponha autoridade ou medo -; além disso, ele não vê que aplica uma relação de dois pesos e duas medidas em seu casamento, então quando Susana, uma mulher que possui ideais feministas – mesmo que o tema nunca seja de fato trabalhado no roteiro -, o abandona, Elígio entra em colapso por não saber mais qual o seu papel no próprio mundo, ameaçando, inclusive, agredir Susana fisicamente em mais de uma ocasião.

E Gael desempenha bem essa função, o talento dele é inegável uma vez que o ator realmente consegue vender o equivocado Elígio. Porém, ao mesmo tempo em que isso é um ponto positivo, também expõe um grave erro do roteiro: apesar de ser um enredo envolvente, o material fonte foi escrito há 36 anos e, levando em consideração a temática da história, a trama precisaria de uma grande atualização. No entanto, os roteiristas resolveram ignorar esta necessidade – o próprio diretor já declarou que queria adaptar a obra porque se identificava muito com o protagonista. E isso fica evidente até mesmo em algumas decisões técnicas e estilísticas.

E, ainda, conforme a história avança, fica cada vez mais claro que Estás Me Matando Susana é um filme escrito por homens, baseado no livro de um homem, dirigido por um homem e que busca seu público nos homens, deixando, no fim – mais especificamente na última cena -, a amarga “explicação” de que o comportamento machista de Elígio é justificável e a culpada por isso é Susana. Ou seja, em meio às atuais discussões sobre igualdade entre os gêneros, esta produção até consegue prender a atenção do espectador por algum tempo, mas ao não atualizar o plot principal, torna-se previsível e frustrante bem antes dos créditos finais – o que é uma pena, pois a premissa tem potencial, mas, na prática e da forma como foi realizada, mostra-se extremamente datada. Por fim, é apenas mais claro exemplo de anacronismo na atualidade.

 

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