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ENCANTADO: UMA ANIMAÇÃO QUE NÃO ENTREGA O QUE PROMETE

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Nos últimos tempos, é notável um esforço da indústria cinematográfica para atualizar suas produções, adequando-as ao pensamento atual. E um terreno com farto material para isso são os contos de fadas, cada vez mais criticados por suas narrativas nas quais as mocinhas são subservientes e estão sempre à espera de um príncipe para salvá-las no fim da história – em uma entrevista recente, inclusive, a atriz Keira Knightley revelou uma lista de animações clássicas que ela não permite que sua filha pequena assista.

Assim, a mais recente tentativa de releitura destas tramas é o longa Encantado. Dos mesmos produtores de Shrek, o filme conta a história do Príncipe Felipe Encantado (Wilmer Valderrama/Leo Cidade), que, ainda bebê, foi amaldiçoado por uma bruxa, cujo feitiço faz com que qualquer mulher que o olhe nos olhos se apaixone imediatamente. Tal trabalho só será quebrado quando, aos 21 anos, o nobre encontrar o amor verdadeiro após cumprir três tarefas perigosas.

Mas, enquanto o vigésimo primeiro aniversário dele não chega, o príncipe acaba ficando noivo de três princesas: Cinderela, Bela Adormecida e Branca de Neve – além de todas as outras pretendentes do reino, o que faz com que o rapaz seja odiado por todos os homens da região. A única que não se rende aos encantos de Encantado é Leonora (Demi Lovato/Larissa Manoela), uma ladra que foge totalmente aos padrões de feminilidade exibido pela princesas e, travestida de homem, que ajuda o príncipe a cumprir as três tarefas.

Este terreno é bem previsível e isso não seria exatamente um problema se o roteiro soubesse usar a previsibilidade de forma positiva. Porém, o longa se veste com uma capa de novidade e transgressão que serve apenas para esconder seu interior formulaico e nada original. Para começar, há o trio de princesas que estão comprometidas com o príncipe. As três são mostradas como adolescentes fúteis e burras, como uma paródia moderna mal realizada das princesas clássicas.

Além disso, é colocado uma sequência musical – presente até no trailer – na qual elas demonstram sua ânsia pelo casamento, referindo-se ao noivo como “troféu”, o que ressalta o tom de competição que anula qualquer possibilidade de abordar a sororidade. E esta é a primeira bola fora do longa, pois, se por um lado temas as caricaturas das princesas, por outro temos a figura de Leonora. A gatuna é corajosa, sagaz e usa roupas associadas aos homens pobres da época.

Contudo, seu arco na trama é subaproveitado e só apresenta algum desenvolvimento quando ela veste roupas femininas nobres que ressaltam sua silhueta – de uma mulher adulta, em contraste com as princesas, representadas como adolescentes. Ou seja, além que fazer com que a personagem “se adeque” aos padrões de feminilidade pré-concebidos, ainda há, constantemente esta relação “superioridade X inferioridade” entre as mulheres do longa – aspecto presente desde a premissa, impulsionada pelas ações de uma personagem que se enquadra do estereótipo da “mulher despeitada e vingativa”.

Desta forma, talvez, o único ponto eficiente da produção seja o príncipe, que criado por empregados com toda a mordomia imaginável, é retratado como uma pessoa absolutamente equivocada, munido de uma certa fragilidade, covardia e arrogância cômica que é capaz de tirar algumas risadas – em especial do público mais jovem. Porém, “Encantado” é um filme que se apresenta com uma proposta que não parece estar disposto a cumprir, resultando em uma trama que nada mais faz do que reafirmar a conformidade aos padrões históricos que a sociedade vem tentando quebrar.

 

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