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Guerra Fria traz uma Polônia no estilo Casablanca, de 1942

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Em uma Polônia governada pelos comunistas e alinhada com os soviéticos, em plena Guerra Fria, jovens camponeses são recrutados por uma espécie de Escola Nacional de Música. A cena destes garotos e garotas chegando ao local onde aprumarão seus talentos é antecedida por várias outras onde eles aparecem em situações cotidianas cantando. Uma adolescente loura, Zula (Joanna Kulig), logo chama a atenção de um dos responsáveis pelas aulas, Wiktor (Tomasz Kot). A apesar da professora Irena (Agata Kulesza) achar uma outra jovem melhor, com uma voz mais limpa, ele advoga que sua preferida tem algo de especial. Uma potência vocal nunca vista por aquelas bandas. Só que Zula não parece uma camponesa de fato, condição indispensável para estar ali. Contudo, como trata-se de um prodígio, ela fica.

Enclausurados naquela instituição educacional, tão rígida e espartana como qualquer outra dos regimes da “Cortina de Ferro”, eles começam a ensaiar músicas populares e danças folclóricas. No entanto, com o passar do tempo, estas perdem espaço e todos passam a entoar canções que louvam o país, o povo e, principalmente, os feitos do governo. Aqueles jovens não estão ali para serem artistas, mas, sim, para servirem de garotos-propaganda. No horizonte próximo, um périplo pela Alemanha Oriental, a Iugoslávia, a União Soviética e por outras nações irmãs. E é neste contexto que floresce o amor proibido entre Zula e Wiktor. Paixão desenfreada, o casal aproveita todas as brechas possíveis para ficar a sós. Acontece que daquele jeito, o relação deles não tem muito como vingar. Eles precisam encontrar uma solução.

Comparado a Casablanca (1942), de Michael Curtiz, por causa do amor entre Zula e Wiktor, que de muitas maneiras remete ao de Ilsa (Ingrid Bergman) e Ricky (Humphrey Bogart), Guerra Fria (Cold War) é o primeiro longa-metragem do cineasta polonês Pawel Pawlikowski após um hiato de cinco anos. O último tinha sido Ida (2013), produção vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. E, ao que tudo indica, este vai pelo mesmo caminho, pelo menos quanto a indicação, hoje, tida como certeira. E se isto acontecer, será bastante merecido, pois estamos diante de uma obra-prima superlativa onde tudo, absolutamente tudo, do trabalho de direção (premiado na edição deste ano do Festival de Cannes) ao roteiro, passando por todo o aparato técnico, funciona muitíssimo bem.

Apesar do nome, este não é uma filme sobre política. O contexto político da época serve apenas como pano de fundo e, claro, como um fator complicador para o amor do casal de protagonistas. Tudo seria mais fácil se eles vivessem na Polônia de 2018, mas aí a história em si não teria a mesma graça. Com os holofotes voltados para eles, os atores Joanna Kulig e Tomasz Kot dão um show em cena. Ela cantando (que voz!), ele tocando piano (que destreza!). Não foram usados dublês. Bastante carismáticos, são eles em ação e a entrega é de corpo e alma. Outra coisa que impressiona é a belíssima fotografia preta e branca de Lukasz Zal (o mesmo fotógrafo do longa anterior). Em uma trama de época, os detalhes são importantes e Pawlikowski mostra ter total consciência disto ao entregar uma obra pulsante e quente.

Desliguem os celulares e excepcional diversão.

Crítica também publicada no Blah Cultural 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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