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Olivier Assayas fala sobre o processo narrativo de Vidas Duplas e sobre a revolução digital

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Cineasta francês, vencedor do prêmio de direção no Festival de Cannes em 2016, com Personal Shopper, veio ao Brasil durante o Festival do Rio para lançar seu novo filme, Vidas Duplas, com Juliette Binoche.

A trama conta a história de Alain, um editor parisiense de sucesso que luta para se adaptar à revolução digital que tem atropelado seu meio profissional.

Você se baseou na ideia de uma indústria editorial machista e sexista dos anos 90 para fazer o filme?
O filme é sobre mudanças. Eu falo de livros como pano de fundo e como pessoas se adaptam ou não enquanto o mundo muda. Eu obviamente acho que não só sobre as mudanças no mundo, mas também sobre nós.
Sobre o fato de ser mercado machista, na França há muito mais homens trabalhando na indústria editorial, hoje em dia existem mais mulheres atuando tanto em literatura e na produção de livros.

Como você passou da clássica filmografia para a atual?
Bem, você sabe que fiz filmes em inglês como em outras línguas. A ideia dos meus filmes é fazê-los com problemas universais. Eu não pertenço a cultura hollywoodiana, mas sim da europeia, onde se fazer um cinema independente. Eu sempre tive liberdade de fazer meus filmes. Em Vidas Duplas, eu quis fazer um filme que pudesse ser relocado em Paris, que pudesse ser como filmes jornalísticos, onde você lida com o presente, com o estado da conversa. A ideia do filme é ver como o publico reage a um debate com suas próprias opiniões. De certa forma, é um filme que inclui o espectador, como parte da conversa.

Você poderia falar sobre como você construiu os personagens?
Eu comecei com Alan, o editor. Foi o primeiro personagem que tive. Também pelo fato de eu já ter escrito um filme sobre ele, há um tempo, porém nunca feito. Mas eu não me arrependo por que eu sei que não estava pronto ainda. O personagem continuou comigo, com o intuito de voltar a ser revisitado. Então, eu entendi que em algum momento ele iria se tornar um filme. Foi quando eu comecei a escrever a primeira cena, mesmo não tendo ideia para onde eu caminharia.

Eu acho que a narrativa cria o personagem e indica que o escritor não é o centro da história, gradualmente eu me dou conta que acontece uma conexão entre a vida dele e seu editor.
Em alguns filmes, eu desenho eles pelos atos, quando eu já tenho mais ou menos o que pretendo dos personagens, porém em Vidas Duplas, eu não tinha ideia. E me dei essa liberdade por que eu não tive certeza que iria fazer o filme. Eu estava escrevendo por diversão.

A narrativa acontece muito facilmente. Você tem dificuldades ao cria-la?
Eu escrevi as cenas uma a uma. Quando eu terminei a primeira cena, eu não tinha a menor ideia do que viria depois, demorei alguns meses para criar toda a narrativa, por conta disso. O processo foi de dois anos, que é muito longo para escrever tudo.

Seria possível dizer que os atores participam da criação de seus personagens?
Sim, sim. Todos os atores me ajudaram e contribuíram para a criação do filme. Eles me ajudaram a fazer o filme com uma proposta cômica.

Como você vê a revolução digital no cinema?
A revolução digital nos fez diferentes indivíduos. É perturbador e fascinante ver como em vinte anos as coisas mudaram. Não é pelo fato de ter mudado o meio ambiente, mas nós, do jeito que a gente pensa, escreve e interage com os outros. Eu acho que quando você faz filmes que representam a sociedade moderna, o filme não se trata do tema que você escolheu, mas sim o que vem até você, e como seria lhe dar com ele. O mundo está mundo e de alguma forma você tem que lidar com isso.

Você poderia comentar sobre a adaptação do livro de Fernando Moraes?
Eu não defino como adaptação, eu venho usando o livro como pesquisa. Provavelmente começamos a filmar em fevereiro, em Cuba. Eu li o livro e quis dirigir e roteirizar a história.

“Últimos Soldados da Guerra Fria” se passa no início da década de 1990, Cuba criou a Rede Vespa, um grupo de doze homens e duas mulheres, que se infiltrou nos Estados Unidos com objetivo de espionar alguns dos 47 grupos anticastristas sediados na Flórida. O motivo dessa operação era colher informações para que pudessem evitar ataques terroristas ao território cubano.O ator Wagner Moura está contado para participar da produção.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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