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Pedro de Luna, autor da biografia do Planet Hemp, fala sobre a importância da banda no cenário musical brasileiro

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O que te levou a escrever o livro sobre o Planet Hemp? O Marcelo D2 te ajudou na construção da narrativa? Como foi esse processo de pesquisa?
Pedro de Luna – Desde o primeiro livro “Niterói Rock Underground 1990 – 2010” que eu lancei em 2011, de forma independente, que o Planet Hemp já se fazia presente. A biografia deles vai ser meu nono livro. Eu sempre tive muito interesse pela banda, foi uma coincidência feliz que o livro vai sair no ano que a banda completa vinte e cinco anos de carreira, desde o primeiro show, em 1993, no Garage. E também acho muito pertinente um livro sobre o Planet Hemp sair agora, num momento de ascensão do fascismo e do conservadorismo, por que mais do que a legalização da maconha, o Planet Hemp erguia a bandeira da liberdade de expressão, e eu acho que continua erguendo.
Com certeza. O Marcelo me recebeu na casa dele duas vezes, com longas sessões de entrevistas, mas também todos os integrantes e ex-integrantes da banda, produtores, amigos, pessoas que conviviam que acompanharam a trajetória do Planet Hemp. Sobre tudo nos anos noventa, que eu acho que foi o momento mais interessante e mais pertinente da banda. Poderia destacar, inclusive, a entrevista com o Carlos Eduardo Miranda.

 O Planet Hemp foi pioneiro do gênero musical abrindo portas para muitos artistas seja no rap e no rock contestação. Seu discurso político social fez história. Em sua opinião, qual é a importância da banda no cenário musical brasileiro?
Pedro de Luna – Basicamente, eu vejo eles em duas linhas de importância. A primeira na questão estética, digamos assim, artística pela fusão do Rap com o rock, né. Os anos 90 teve essa característica de fusão de ritmos, como o Raimundos que misturava forró e Hard Core e o Dotô Jeka que misturava música caipira com rock. Mas também ao desconstruir a formação básica de banda, onde o vocalista era um só e ai eles chegam com essa estética com dois vocalistas soltos, pulando para lá e para cá.

A segunda importância, sem duvida, foi na questão da atitude, de peitar o status quo, de falar sobre a opressão que o pobre e negro sofrem, de questionar o sistema e pagaram alto por isso. Foi a única banda presa no Brasil.

 A história da banda se mistura com a história de sobrevivência de duas pessoas comuns, seguindo a linha da sociedade marginal, qual é a representatividade desse encontro na história da banda e na construção do que ela se tornou?
Pedro de Luna – Então, o filme Legalize Já é uma livre adaptação da história deles. Na verdade, esse encontro se deu na saída do Metrô no Catete quando o Skunk viu a camisa do Dead Kennedys, do Marcelo e a partir dai se inicio uma conversa que virou amizade. A partir dai o Skunk apresenta o mundo musical para o D2. E assim o Skunk faz o Marcelo trocar a barraquinha de muambas do Paraguai por camisetas de banda na 13 de Maio. A partir dai, ele começa a frequentar a 13 de Maio e conhecer a galera da música e nessa o saudoso Fábio Costa, dono do Garage, o convida para vender as camisas e bottons na porta da casa de shows. E havia muito desse reconhecimento que se dava na rua pelo gosto musical.

O filme traz uma estética embaçada, oitentista, proposital à época que a banda surgiu, num período ainda de muita repressão. Qual é a importância do filme dentro do movimento musical e do movimento negro?
Pedro de Luna – Acho que é importante destacar que o filme relembra a repressão, inclusive, policial, em 1990, e está prestes a voltar com essa ascensão da extrema-direita em vários Estados e a nível federal também. E o filme traz a relevância do Skunk na banda.

 Durante muito tempo, o artista que canta Rap sofria preconceito. Você acredita que ainda exista tal preconceito nos dias de hoje?
Pedro de Luna – Acho que melhorou muito! Bandas como Racionais MCs, Pavilhão 9, MV Bill, seria até injusto, citar alguns nomes, apenas. Tem muita gente que foi importante nesse processo. Diga até de aceitação do Rap. O Rap depois de algum momento ele até virou o som do playboy, do playboy branco, da elite. E no momento atual, o Rap tem feito muito mais o papel de contestação do que Rock, que anda conservador, coxinha. Passou por momentos de doçura, do Emo Core, mas perdeu muito da força contestadora, né, que vem das influencias do Punk Rock e do Hard Core, de questionar esse sistema corrupto, desigual e opressor, que tá ai até hoje. O Rap continua sendo relevante e tendo um papel muito importante dentro da arte.

 No filme, os atores Ícaro Silva e Renato Góes imprimem uma dualidade entre os personagens. A relação entre o Skunk e o Marcelo D2 foi bem construída? E o que você achou do filme, no geral?
Pedro de Luna – Acho o filme muito bom! Ele é bem construído, como você bem falou, traz essa estética um pouco preto e branco, com ausência de cores, né, a gente viveu ali os anos 90, que foi horrível, a gente tinha acabado de iniciar um processo de democratização.
Acho que sim, os atores trabalharam muito bem a personalidade de cada um, o Ícaro principalmente, que tá a cara do Skunk, acho que é um filme que as pessoas tem que ver.

Fotos: divulgação

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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