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Casa de Veraneio: Novo longa de Valeria Bruni Tedeschi aborda a alta burguesia

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Em um café parisiense, a cineasta Anna (Valeria Bruni Tedeschi) vê seu parceiro e pai de seu filho terminar a relação, em seguida, ela corre para uma reunião para tentar conseguir financiamento para seu próximo projeto e é questionada sobre qual é a diferença deste para os outros três filmes dela. Assim, em uma período de menos de meia hora, a mulher vê suas vidas privada e profissional colapsarem. Além disso, neste mesmo dia, ela deve seguir para um encontro com sua numerosa família em uma mansão na Cote d’Azur. Assim, começa a quarta dramédia semi autobiográfica Casa de Veraneio, escrita e dirigida por sua atriz principal.

Do mesmo modo que em Um Castelo na Itália, o novo longa de Tedeschi aborda a alta burguesia, assim como inspirações na vida pessoal da cineasta – por exemplo, Marisa Borini, sua mãe na vida real, interpreta sua progenitora nas telas, e Oumy Bruni Garrel, sua filha em ambas as realidades; há ainda Elena (Valeria Golino), representante fictícia da irmã da diretora, a ex-primeira-dama da França, Carla Bruni, bem como a referência a Virgínio Bruni Tedeschi, irmão da protagonista, morto em decorrência da Aids em 2006. Apenas por esses exemplos, percebe-se logo que o longa possui um elenco extenso, o que pode ser um problema para as duas horas de duração.

No entanto, apesar das similaridades com os projetos anteriores e da quantidade de personagens, Tedeschi e suas habituais parceiras de escrita – Agnès de Sacy e Noémie Lvovsky – conseguem acrescentar algumas diferenças que injetam um pouco mais de fôlego à trama, como, por exemplo, a presença ativa dos membros do staff da casa – e o roteiro acerta ao mostrar que os problemas dos empregados (carência, ressentimentos familiares, questões financeiras e a característica angústia existencial deste tipo de produção); este maior destaque dados às classes mais baixas traz frescor ao enredo, mas não impede a sensação de esgotamento que a filmografia de Tedeschi começa a exibir.

Talvez, por causa disso, alguns desenvolvimentos acabem por se tornar um pouco cansativos – e, ironicamente, o principal exemplo disso é a própria protagonista, porque boa parte do arco de Anna se resume a ligar obsessiva e repetidamente para o ex, Luca (Riccardo Scamario), inspirado em Louis Garrel (ex de Tedeschi), e torcer para que ele atenda. A personagem até faz uma boa dobradinha com Elena, a irmã Borderline e alcoólatra casada com um industrial quebrado, porém, justamente por conta deste subdesenvolvimento, ambos os arcos se tornam mornos.

Além disso, parece que a introdução de mais e mais personagens é um recurso para disfarçar a falta de originalidade e material da história – como a chegada de Nathalie (Lvovsky), parceira de escrita de Anna, com quem a cineasta faz algumas reflexões um tanto rasas sobre ética na produção de roteiros e questionamentos acerca de se inspirar na própria família para escrever um enredo. Para o público que não conhece a filmografia de Tedeschi, estes detalhes podem até passar despercebidos, mas o espectador que já assistiu aos outros três filmes da diretora vai perceber a falta de impulso narrativo/dramático da trama – com exceção, talvez, da cena do almoço, no fim do primeiro ato.

Desta forma, Casa de Veraneio é uma produção que não nega suas similaridades com suas antecessoras e até brinca com isso – como por exemplo, nos primeiros minutos, um dos executivos que vai analisar o projeto de Anna é Frederick Wiseman, cineasta que, alegadamente, faz o mesmo filme há cinquenta anos -, mas a constante pegada semi autobiográfica jánão tem mais a mesma graça de antes. Com isso, boa parte do roteiro tem que se escorar no característico senso de humor francês que permeia os diálogos – como quando Jacqueline (Yolande Moreau), a empregada, diz a um recém chegado que “a casa está toda podre – a atmosfera também” -, mas, às vezes, só isso não é o suficiente.

Assim, por mais que o filme até consiga ser divertido, é difícil manter esta disposição por duas horas, e, no fim, a sensação que fica é a de que Valeria Bruni Tedeschi pretende fazer de sua filmografia o seu próprio “Slave To The Rhythm”, porém, enquanto o icônico álbum de Grace Jones conseguia contar diferentes histórias com o mesmo ritmo – letras diferentes para a mesma melodia -, a cineasta está se limitando a, basicamente, contar a mesma história em cenários diferentes, ou seja, ela está apenas fazendo um remix de sua própria obra.

 

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