- Publicidade -

Vergel: Camila Morgado está absolutamente imersa na personagem, com carga dramatíca avassaladora

Publicado em:

Se tem um tipo de história que sempre rende alguma reflexão são as tramas sobre grandes perdas, afinal, durante o luto, é comum que uma pessoa perca um pouco a noção de realidade, fique desnorteada, em especial, quando se trata de uma morte repentina. E é exatamente este o tema principal de Vergel, uma co-produção Brasil/Argentina estrelada pela brasileira Camila Morgado.

No longa, dirigido pela cineasta argentina Kris Niklison – em seu segundo trabalho autoral -, Camila dá vida a uma mulher que acabou de perder o marido durante uma viagem à Buenos Aires. Assim, em meio a dor da perda, em um local desconhecido à ela, tendo de lidar com os trâmites funerários, está mulher – que assim como as outras personagens, não tem nome – está desesperada, em estado de profunda confusão, e acaba encontrando apoio em sua vizinha na capital portenha.

Apresentado na mostra competitiva do 45° Festival de Cinema de Gramado, o longa pretende falar sobre aquele momento pós-perda em que é melhor não pensar a longo prazo e viver um momento de cada vez. Isso faz com que o espectador tenha que se esforçar um pouco para assimilar algumas decisões e mergulhar na narrativa. A questão é que, nem sempre este esforço vale a pena, pois em alguns pontos falta consistência/coerência entre temática e trama.

Talvez, o principal exemplo disso seja a relação entre a personagem de Morgado e sua vizinha – interpretada por Maricel Álvarez. Vendo o momento de desespero e fragilidade pelo qual a turista está passando, a moradora do apartamento de baixo se oferece para cuidar das plantas, da casa e, consequentemente, da própria inquilina, com quem inicia uma série de experimentações. O problema é que está virada na história parece um tanto quanto abrupta e pouco natural. Por outro lado, o fato de não haver qualquer questionamento acerca da sexualidade destas mulheres ajuda a amenizar esta sensação.

Outro aspecto que prejudica a narrativa é a discrepância entre as atuações. Camila Morgado – reconhecidamente uma das melhores atrizes de sua geração – está absolutamente imersa na personagem – o que, após uma série de comédias rasas, como os dois últimos filmes da trilogia Até que a Sorte nos Separe, é muito bom de assistir, afinal, o drama é um território que a atriz domina como poucas. Contudo, no outro extremo desta equação, há Álvarez, que nunca consegue encontrar o tom da personagem, oscilando entre matizes tão diferentes que o público quase tem a sensação de que a atriz interpreta várias pessoas no mesmo filme.

Assim, Vergel é uma produção que ideias bem pensadas – como o contraste entre o ambiente quase claustrofóbico do apartamento de 39m2 e a vista da cidade a partir da sacada, ou entre as cores vívidas da casa (o vermelho-sangue e o amarelo-ovo das paredes e o verde vibrante das plantas) e o estado de espírito da protagonista.

Porém, ao tentar abordar as atitudes de uma pessoa em um luto incompleto que busca apenas uma anestesia para a dor, e fugir da obviedade, o roteiro parece mais preocupado em surpreender e causar estranheza, o que faz com que a trama perca a fluidez e a naturalidade; a intenção da trama e as motivações da protagonista até são compreensíveis, mas a execução deixa a desejar. Ou seja, “Vergel” tem algo a dizer, mas não encontra a melhor maneira de dizer.

 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -