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“Medellín”, parceria de Madonna com Maluma, gera polêmica

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Pivô de constantes polêmicas ao longo da carreira, Madonna lança novo single após um hiato de quatro anos desde de seu último álbum de estúdio, mas todos só falam da idade da cantora.

Na última quarta-feira (17), chegou às plataformas a música “Medellín”, o aguardado primeiro single do 14º álbum de estúdio de Madonna. Quatro anos após o lançamento de seu último trabalho, “Rebel Heart”, e com muita expectativa gerada nesse meio tempo, o público teve um vislumbre do que esperar da nova era da Rainha do Pop. E, como tudo que envolve a cantora, bastou a faixa ser disponibilizada na internet para, imediatamente, polêmicas explodirem por todos os lados. No entanto, o que mais chama atenção é que a maioria dos comentários pouca relação tem com canção, mas sim com a idade da estrela norte-americana – até mesmo as críticas da imprensa baseiam-se nas seis décadas de vida de Madonna para analisar negativamente a produção.

A faixa em questão se trata de uma colaboração com o colombiano Maluma, um dos maiores nomes do pop latino da atualidade. Com isso, “Medellín” é uma canção sexy, quente, que consegue misturar muito bem as novas influências pelo cantor com o pop de Madonna. A colaboração, porém, gerou polêmica desde que foi anunciada. O primeiro ponto levantado é a participação do astro sul-americano, o qual é, constantemente, alvo de críticas – justas – pelo teor machista tanto de suas músicas quanto de suas performances – ele se defende declarando que não escreve as canções, apenas as canta. Passados alguns meses, na semana passada, a aguardada parceria foi lançada, porém a reação não foi das melhores – alguns acharam que parecia muito mais uma participação de Madonna em uma música de Maluma, já outros declaram que a pegada latina chegou com grande atraso ao mercado.

Tais críticas não podem ser condenadas, elas tem algum embasamento – nem que seja em um gosto pessoal. Parando para analisar o teor da primeira declaração, de fato, Maluma tem muito mais versos do que uma participação habitual; e, levando em consideração que, desde o início da carreira, Madonna esteve na vanguarda da indústria fonográfica – pelo menos, até o “Confessions On a Dance Floor” (2005) e algumas músicas do “Hard Candy” (2008) -, realmente, trabalhar com ritmos latinos como o reggaeton seria uma ato vanguardista em 2014, em 2019 é mais do mesmo – embora, a norte-americana sempre tenha mantido uma relação muito próxima com a latinidade em hits como “La Isla Bonita” e “Take a Bow”, além de ter versões em espanhol de vários outros. Ou seja, em parte, essas críticas têm origem na expectativa que surge em torno da persona que Madonna mantém desde os anos 80.

Contudo, tanto público quanto a imprensa estão utilizando a idade da cantora para basear seus argumentos. Muitos afirmam que Madonna “perdeu a mão” – expressam utilizada para apontar que ela “está agindo como uma mocinha de vinte e poucos anos e não como uma mulher da idade dela deveria agir”, o que, simplesmente, quer dizer que uma mulher de 60 anos – comemorados pela própria em agosto do ano passado – não pode ser sexy e viver a própria sexualidade, porque isso significa que ela está “apelando para vender” – até a roupa usada pela cantora (um vestido de noiva cow girl) na capa do single foi alvo de críticas. Um exemplo bem claro desse age shaming está no New York Times, que, ao declarar que “Medellín” é “um dos piores singles da carreira de Madonna”, indaga se o fato de “ter feito 60 anos em agosto a fez perder a mão”.

Mas, enquanto o público e a crítica se utilizam das críticas negativas para exibirem o preconceito etário, é interessante reparar que o mesmo não acontece quando se trata de um artista masculino – um exemplo disso é Mick Jagger, de 75 anos, que mantém a mesma persona do auge dos Rolling Stones, além de ter um projeto paralelo com a cantora Jossie Stone, de 35, e não há nada de errado nisso. Então, por que é tão incômodo ver uma mulher de 60 anos trabalhando em uma música sensual com um cantor de 25 – em um resumo bem simplista, a resposta está no machismo estrutural, o qual institui que qualquer mulher com mais de 40 anos deve se trancar em casa, usando roupas de tons terrosos e ficar quieta, enquanto os homens podem exercer sua sexualidade até o dia de sua morte e serão apreciados por isso.

E, como se já não bastassem as críticas duvidosas, a cantora ainda vem encontrando dificuldade em encaixar o single nas programações das rádios. Na  , as Radio 1 e Radio 2, da BBC, recusaram-se a tocar a faixa. Segundo o jornal Daily Star, a justificativa dada por um fonte interna é que o público-alvo das estações é composto por ouvintes entre 15 e 29 anos, dos quais muitos ainda não haviam sequer nascidos na época do icônico featuring entre Rainha do Pop e Britney Spears. Ou seja, a BBC acredita que este fato impossibilita uma conexão entre a norte-americana e o público-jovem, o que é contraditório, visto que uma das marcas do trabalho recente de Madonna é justamente a colaboração com artistas jovens de sucesso – ela fez isso com Ricky Martin em “B Careful”, em 1999, com Justin Timberlake em “4 Seconds”, um dos grandes hits de 2008, e com Nicki Minaj em “Give Me All Your Luvin'”, de 2012, e “Bitch I’m Madonna”, de 2015.

Ou seja, a cantora se mostra consciente de que, com o passar do tempo, os seus fãs fiéis – que estão envelhecendo junto com ela – deixam de ser o público-alvo das principais estações de rádio – as “rádios jovens”. E, por ter noção disso, ela sempre soube ser versátil o suficiente para mesclar os ritmos do momento com sua identidade musical e para trabalhar com os nomes mais bombados de cada época. No caso de seu atual projeto, “Madame X”, os artistas que mais chamam a atenção são o colombiano Maluma, que possui mais de 40 milhões de seguidores no Instagram e estará em mais uma música do álbum, e a brasileira Anitta, com mais de 36 milhões, que participará da faixa “Faz Gostoso” – ambos, apesar das polêmicas em que se envolveram recentemente, tem um gigantesco apelo com o público jovem tanto na América Latina quanto na Europa, onde Madonna mora desde que se mudou para Portugal em 2017. Com isso, o argumento da BBC cai por terra – ainda mais quando se leva em consideração que a rádio inglesa também boicotou “Living For Love”, o carro-chefe do álbum “Rebel Heart”, de 2015, sob a alegação de que as estações devem se adequar às demandas do público mais jovem.

Assim, percebe-se que, mesmo sem querer, Madonna está sempre no centro de alguma polêmica – e ela nunca foge de uma polêmica, inclusive, iniciando e estimulando várias nas quais esteve envolvida. Mas, enquanto suas controvérsias mais icônicas tinham diversos motivos – seja o clipe de “Like a Prayer” que rendeu um embate com a Igreja Católica, o forte teor sexual da era “Erotica” ou a já cansativa (e, pelo visto, finalmente, encerrada) rivalidade com Lady Gaga -, nos últimos anos, o único tabu que persegue Madonna é a idade – a qual ela não faz questão alguma de esconder, aliás as comemorações do aniversário da cantora viraram notícia no mundo todo -, o que parecer ser uma polêmica apenas para o resto do mundo, pois ela está apenas fazendo o que sempre fez com suas músicas, a única diferença é que quando é uma “mocinha” de 20, 30 anos é inovador e ousado, e quando uma mulher de 60 anos faz o mesmo é falta de noção e desespero por atenção. O que passa despercebido nisso tudo é que, em uma sociedade que anula e esquece das mulheres no momento em que elas completam 40 anos, uma mulher de 60 anos continuar fazendo o trabalho que a levou ao topo é inovador e ousado, mesmo que a música não seja o hit do verão.

TÁ, MAS E A MÚSICA?
Desde que anunciou que lançaria em 2019 seu 14º álbum de estúdio, Madonna conseguiu gerar o burburinho de sempre, afinal, todos ficam curiosos para saber qual será o próximo passo de um dos maiores nomes da cultura pop. E parte desta curiosidade tinha origem na mudança de residência da cantora, que, em 2017 trocou os Estados Unidos pela capital portuguesa, o que, segundo a americana, vinha influenciando seu trabalho musical com ritmos locais, como o fado, tradicional gênero lusitano.

Logo, o primeiro single da nova era foi alvo de grande expectativa – em especial, porque os dois últimos álbuns de Madonna (“MDNA”, de 2012, e “Rebel Heart”, de 2015) tinham como principal estilo o eletro-pop, então, mídia e público ansiavam para saber como a mudança de ares afetou o trabalho da cantora. No entanto, ao que parece, a Rainha do Pop preferiu fazer seu público esperar mais um pouco para descobrir a identidade concreta de seu novo projeto.

Assim, na última quarta-feira (18), chegou às plataformas digitais “Medellín”, um feat com Maluma, que, apesar de soar um tanto quanto familiar para o ouvinte que conhece as canções de verve latina de Madonna, não é, nem de longe o que se esperava dela, para o novo ou para o usual, por não ser um pop pesado up-tempo feito para as pistas de dança nem uma balada sensual/romântica, Na verdade, trata-se uma uma mid-tempo em espanglês que fala sobre um envolvimento sexual com uma pegada quase onírica, como mostra o primeiro verso cantado – “I took a pill and had a dream” – após a introdução marcada pelos sussurros de “One, two, cha-cha-cha”.

Com isso, é notável a preocupação de Madonna em pronunciar os versos hispânicos corretamente – aliás, este parece ser um detalhe que permeia o álbum, visto que Anitta declarou que a cantora pediu para que a carioca corrigisse seu português da parceria entre as duas -, até a pronúncia do nome da cidade que dá título à canção é exata: “meh-deh-zheen”. Talvez, um ponto duvidoso da letra seja a viagem ao passado conturbado do local, que passou anos sob o domínio de Pablo Escobar, um dos maiores narcotraficantes do mundo, como apontou Jem Aswad em seu review para a Variety.

Por fim, “Medellín” pode não ser um grande hit que vai bombar nesta temporada e, sem dúvida, é um começo discreto para a era “Madame X”, mas não é um crime ou o maior erro da carreira de Madonna, como muitos da imprensa vêm declarando – não está entre as melhores músicas da cantora, definitivamente, mas tem seu mérito por saber dosar a influência latina o suficiente para não parecer uma tentativa atrasada e desesperada de emplacar um reggaeton; é gostosinha de ouvir, só não é aquela música indispensável de qualquer playlist pop. Agora, só resta esperar para saber qual será o próximo single e torcer para que ele seja avaliado tanto pelo público quanto pela crítica apenas por sua qualidade musical.

 

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