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O Último Lance: Reflexões sobre o mercado de arte e a arte da vida

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Olavi (Heikki Nousiainen) é um velho negociante de obras de arte que tem mais dívidas do que lucros. Como se sua vida financeira já não fosse zoneada o bastante, a vida familiar é tão problemática quanto. Por isso, após anos sem ver a filha, Lea (Pirjo Lonka), e o neto, Otto (Amos Brotherus), ele se mostra relutante em receber o jovem, que foi pego roubando e precisa cumprir algumas horas de trabalho – preferencialmente na galeria do avô – para poder seguir com vida. Simultaneamente, Olavi se vê fascinado por uma pintura de autor desconhecido que está para ser leiloada e o galerista acredita valer muito mais do que o preço inicial.

Esta é a sinopse de O Último Lance, longa finlandês dirigido por Klaus Härö, que utiliza não apenas a arte, mas também o mercado de arte para discutir temas como a passagem do tempo, solidão, a sensação de se tornar obsoleto, morte e até mesmo religião. Talvez o maior trunfo da produção seja estabelecer um objetivo simples para promover discussões mais profundas. O fascínio de Olavi pelo quadro – o qual ele acredita ser o desconhecido “Kristus”, de Ilya Repin – não tem motivação financeira como principal impulso, o que importa para ele é que: se ele estiver certo, seu nome se destacará no mercado, o especialista considerado ultrapassado que descobriu o tesouro.

Este fator do longa é elevado pela delicada interpretação de Nousiainen, que, ao longo da produção, realiza uma série de reflexões sobre arte e vida – talvez, a frase mais marcante da personagem seja a declaração dirigida ao neto: “Para um, a vida é o futuro, para o outro, é o passado”; tal afirmação é um ponto decisivo na relação conflituosa entre avô e neto, que passam a ver na busca pela autenticidade do quadro uma chance e uma motivação para estreitarem a convivência, estabelecendo a compra da obra como o principal conflito concreto do filme,uma vez que surgem empecilhos, como um funcionário da casa de leilões – um antagonista um tanto quanto unidimensional e caricato.

De qualquer forma, com o objetivo em foco, entra em cena o talento do diretor, que na cena do leilão consegue criar um agoniante suspense sem precisar recorrer a artifícios clichês, utilizando apenas movimentação de câmera, a montagem e as atuações. E são justamente estas características que amenizam os deslizes melodramáticos da conclusão do roteiro de Anna Heinnämaa. Assim, O último Lance pode parecer um filme pouco atrativo ao grande público e muito restrito a um nicho – por não seguir os chavões hollywoodianos aos quais os espectadores estão acostumados -, mas ao acompanhar o desenrolar da trama, percebe-se que esta nada mais é do que uma história universal sobre famílias e os complexos laços que as une.

 

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