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Maya usa das consequências da guerra da Síria, com trama clichê

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O cinema, muitas vezes, é usado para discutir assuntos contemporâneos e a cineasta francesa Mia Hansen-Løve costuma fazer isso com frequência em seus filmes – o último exemplo, O Que Está Por Vir, trabalha as divergências entre gerações sob os vieses filosófico e político e pode ser considerado um dos melhores de sua filmografia. Agora, três anos após o último lançamento, a diretora chega às salas de cinema com o longa Maya, que busca abordar alguns assuntos, mas não é muito bem sucedido na abordagem das temáticas.

No longa, Gabriel Dahan (Roman Kolinka) é um repórter de guerra que, após ser mantido em cativeiro pelo Estado Islâmico na Síria, resolve dar um tempo de sua vida na França e passar uma temporada reformando a antiga casa de veraneio de sua família em Goa, na Índia, a fim de tentar se curar do trauma. Lá, ele acaba se envolvendo com Maya (Aarshi Banerjee), a filha adolescente de seu padrinho, Monty (Pathy Aiyar).

Esta premissa, por si só, já não é original – afinal, quantos filmes sobre pessoas (principalmente, homens) que vão tentar se livrar de fantasmas do passado em locais exóticos e acabam se envolvendo com um nativo? -, no entanto, infelizmente, este não é o único problema do longa, que não consegue desenvolver nenhum dos temas que se propõe a discutir. A começar por seu protagonista.

Aparentemente, Roman Kolinka se tornou o “muso” de Hansen-Løve, logo, apesar do título, o longa é focado nele, objeto de interesse constante da câmera. Porém, o ator nunca consegue se aprofundar e convencer como um repórter de zonas de conflito com transtorno de estresse pós-traumático – na verdade, a personagem parece muito mais uma pessoa com um princípio de depressão do que uma traumatizada pela guerra.

Aliás, este é outro ponto que nunca ultrapassa a esfera da citação. A situação de conflito no Oriente Médio é um tema super atual e de interesse mundial, mas que nunca é aprofundado nesta narrativa, embora seja a fonte dos problemas de Gabriel. Assim como a perigosa especulação imobiliária em território indiano, que, aqui, é usada apenas como uma conveniência do roteiro para mudar o cenário no terceiro ato. Ou seja, tudo é tratado de forma superficial.

E o mesmo pode ser dito sobre a interação entre Gabriel e Maya – além da problemática da idade, afinal, é dito que o jornalista nasceu em 1980 e a garota é uma estudante do Ensino Médio, embora o longa mostre que é a jovem que vai atrás do homem com muito mais frequência. Mas, a questão aqui é que não há química alguma entre os atores – os quais atuam em inglês, um segundo idioma para ambos -, o que passa a sensação de que Maya era muito mais um instrumento que cura para Gabriel do que qualquer outra coisa.

Por outro lado, é preciso dizer que o longa apresenta duas grandes qualidades. A primeira é a cinematografia impecável de Hélène Louvart, que consegue capturar muito bem a cor local. E a segunda é que a diretora Mia Hansen-Løve continua com um ótimo olhar artístico e estético, extraindo eficientemente a beleza da região – um exemplo disso são as cenas (repetitivas, é verdade) de Gabriel circulando pela India em sua vespa, exaltando o atual estado de liberdade do protagonista.

Porém, isso não ajuda a relevar o fato de que, apesar de ser obra de uma cineasta talentosa, Maya é apenas mais uma história sobre um homem branco com problemas emocionais e psicológicos que vai buscar a cura em países distantes e exóticos, sem apresentar formas criativas de realizá-lo ou, pelo menos, aprofundar-se devidamente nos assuntos que compõem a premissa. Nada de novo. Uma pena.

 

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