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A Arvore dos Frutos Selvagens: Nuri Bilge Ceylan cria claustrofóbico em torno de seus diálogos

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Dois temas recorrentes no trabalho do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan são a relação com a terra natal e visões de mundo antagônicas. Além disso, outra característica do roteirista e diretor é o uso de longos diálogos para debater esses assuntos – presentes também em seus filmes mais recentes e famosos, como “Sono de Inverno” e “Era Uma Vez na Anatólia”. Agora, em seu novo longa, estes aspectos estão mais fortes do que nunca, no entanto, diferente das produções anteriores, Ceylan pesou a mão.

Em “A Árvore dos Frutos Selvagens”, Sinan (Dogu Demirkol) acabou de se formar na faculdade e está de volta ao vilarejo onde cresceu. A questão é que ele odeia o lugar, acha a população local tacanha e não vê a hora de sair dali – principalmente porque seu pai, Idris (Murat Cemcir), perdeu dinheiro em apostas de cavalos e, a cada novo passeio pela cidade, o rapaz é abordado por mais uma pessoa que emprestou dinheiro ao homem e ainda espera pagamento.

Além disso, Sinan escreveu um livro sobre suas impressões íntimas sobre o lugarejo – ele define como um “meta romance peculiar” – e busca ajuda financeira para publicá-lo, no entanto, como não se trata de um livro didático ou um guia turístico, ninguém tem interesse em patrociná-lo, o que leva a algumas discussões com pontos de vista divergentes e expõe a personalidade um tanto quanto soberba do rapaz, que, mesmo precisando de ajuda, não consegue esconder que se acha superior a todos dali.

E a arrogância de Sinan também gera conflitos com sua família. Idris é um professor de meia idade irresponsável quando se trata de dinheiro, que sempre tenta fazer graça para fingir que está tudo bem. A mãe, apesar de não ser tão submissa quanto as outras mulheres da região, não tenta estabelecer limites nos gastos inúteis do marido, além de não entender a vontade do filho de sair daquela cidade. E a irmã é a típica adolescente mal humorada.

Com isso, muitas discussões acontecem durante o filme – basicamente, tudo leva a diálogos realmente longos (alguns bons, outros nem tanto), que resultam em cenas com duração de vinte minutos para cima, nas quais a montagem é utilizada para injetar algum dinamismo à sequência. Isso é algo que já era presente na filmografia do diretor, no entanto, aqui, há um exagero, pois tudo é motivo de discussão – há, por exemplo, um debate entre Sinan e seu antigo professor que dura cerca de trinta minutos -, resultando nos 188 minutos da produção.

Contudo, este não é o único aspecto que torna “A Árvore dos Frutos Selvagens” um tanto quanto difícil de assistir – as personagens também não ajudam. Sinan não gera nenhuma empatia no espectador por sua arrogância e necessidade de estar sempre certo; Idris é um cínico que quer ser tratado e respeitado como um chefe de família mesmo que não tenha maturidade para tal; a mãe, mesmo insatisfeita com a situação, não vê motivo ou tem disposição para mudar; e a irmã é simplesmente chata.

Somando estas características aos longuíssimos diálogos – os quais se estendem muito além do necessário -, assistir ao filme se torna uma experiência maçante. E mesmo que o elenco esteja bem – principalmente Murat Cemcir, excelente -, que tenha um design de produção e uma cinematografia que contribuem para criar o clima de calor e claustrofobia que cerca o protagonista, que o cineasta tenha algo a dizer com esta história, e que filmes longos sejam uma característica do trabalho dele, o espectador tem a clara sensação de que ele conseguiria contar essa trama de forma muito eficiente com uma hora a menos.

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