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“Isso que você chama de lugar” trabalha a ideia de reinvenção de si próprio

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A narrativa entrecortada e tramas que se cruzam reverberam tendências individualistas e egoístas nas relações e nas idealizações que as pessoas fazem em suas vidas. Planos que não se concretizam, desfechos que são postergados, gozos que não acontecem. Uma dinâmica de desencontros é o que aproxima essas tramas e as conecta com o mundo real que conhecemos.

A dúvida das personagens em que caminho seguir, em que tipo de pessoa ser, é muito latente. Talvez uma espécie de puzzle se descortine, encaixando as histórias histórias menores no que vem a ser um emaranhado de vivências frustradas, de quases. Há algo de absurdo no texto. Uma vertigem cênica dá conta de mostrar o tamanho do sofrimento que essas personagens têm para tomar decisões, a dor da escolha está muito presente e expõe a fragilidade pela qual muitos passam em algum ponto de sua trajetória. A impressão que se tem é que essas personagens vivem uma vida de indecisão, de estresse somente pelo fato de ter que definir algo.

A ideia de reinvenção de si próprio está muito presente. Ainda, ser “estrangeiro de si mesmo” é uma chave no processo e no auto-entendimento que levam à descoberta da sua identidade. Ficar e manter-se na “segurança afetiva” do que sempre conheceram ou ir alhures, para outro país, recomeçar? As quatro personagens e suas histórias diferentes estão enclausuradas no entre, no meio do caminho, nem aqui, nem lá.

A direção de Daniel Herz privilegia as urgências de pessoas que buscam ainda serem felizes, evidencia a incerteza, a insegurança, e traz o espectador para fora de sua zona de conforto. Certamente, uma inspiração temática foi a situação atual de brasileiros que parecem perder um pouco de sua crença no país, desanimar-se com as perspectivas daqui e projetar em outro lugar sua satisfação pessoal. Outra tônica da peça é a incomunicabilidade: o retrato de quatro pessoas que parecem não se ouvir e não ouvir a mais ninguém.

Pode-se destacar certa monotonia no percurso dramático e uma prevalência do texto falado em detrimento de ações físicas e de acontecimentos cênicos que arrebatem o espectador. Contudo, muito provavelmente esta é uma escolha cênica que fez prescindir de peripécias para deixar prevalecer a dialética dos desencontros encenados.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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