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A trajetória das panteras nas telas

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Histórias que envolvem ação, pancadaria, armas, lutas e um vilão querendo destruir o mundo estão presentes no audiovisual desde que ele começou. Lá no pré-cinema, quando os filmes ainda eram constituídos por apenas um plano mostrando um pequeno show, lutas já eram um grande pedido e gosto do público. Indo mais longe, se fizer um apanhado da história do entretenimento, sabemos como espetáculos envolvendo sangue e brigas até a morte faziam um enorme sucesso entre a população, como na famosa política do pão e circo do Império Romano.

O mundo mudou, as formas de lazer e de consumo se transformaram, mas alguns gostos são inatos a condição do “ser” humano. Voltando para o cinema, depois dele já se encontrar estabelecido como arte e indústria, filmes e séries de ação sempre foram uma grande preferência do público, com seu teor maniqueísta e que sempre conta com um apelo das narrativas para santificar os heróis que tudo fazem para proteger o planeta e demonizar os vilões que sempre querem destruí-lo, seja por poder e dinheiro, ou por simples maldade mesmo.

Nessas obras, sempre foi comum ver a figura de um homem ou um grupo de homens sempre prontos para nos salvar, com um enorme treinamento militar ou simplesmente algum poder provindo de sua genética, essa condição sempre existiu baseando-se inteiramente em endeusar homens, enquanto mulheres, normalmente, se restringiam na narrativa apenas como a donzela em perigo, o suporte psicológico, o par romântico ou até mesmo o alívio sexual.

Nesse contexto problemático e um tanto quanto caótico, surge, em 1976, “As Panteras”, uma série de ficção, que têm como protagonistas três mulheres extremamente fortes, que utilizam de sua coragem, sua inteligência e, como nunca pode faltar, sua sensualidade, para destruir homens que de alguma forma querem destruir o mundo. Já naquela época, a série conquistou o gosto popular e suas duas primeiras temporadas foram um grande sucesso, utilizando de uma imensa tecnologia, como “viva-voz”, que era considerado um grande avanço pra época, a série tinha como premissa utilizar os mesmos clichês de espionagem já consagrados na indústria, colocando como protagonistas mulheres bonitas. Mesmo que, pra época, isso tenha sido uma conquista, a série ainda trabalhava demais na sexualização das três, filmando planos que destacassem suas bundas, seus seios e suas cinturas finíssimas, deixando claro que, apesar da mudança na representação do herói, ainda era um produto focado no consumo masculino.

Apesar disso, a série criou inúmeros maneirismos, frases que caíram na cultura Pop e referências consideradas icônicas atualmente, o que a consagrou como um seriado cult atualmente. O famoso radio em que Charlie se comunica com as Panteras, o “Good Morning, Charlie”, o fiel companheiro e treinador, Bosley. Tudo isso se iniciou lá atrás com a série das Panteras e continuou até agora no novo filme de 2019.

Já nos anos 2000, temos uma nova obra, porém com uma mudança no formato, agora virando um filme comercial. Com um público já consagrado, a ideia do filme foi fazer um reboot bem fiel a série original, principalmente na sua narrativa: começando o filme dando um breve resumo sobre a personalidade de cada uma, já deixando claro que as três tem uma vida dupla, na qual vivem uma vida normal de um lado, e uma vida de espionagem de outro. Colocando os conceitos inventados na série desde o princípio, com Charlie sendo rapidamente apresentado, assim como Bosley. O filme realmente tem a intenção apenas de aprimorar as novas meninas e não deixar o que a série criou de lado. Infelizmente, a direção de um homem nessa obra também evidencia a necessidade da sexualização das protagonistas, que apesar de terem outras qualidades, o tempo inteiro estão precisando afirmar sua sensualidade ao público, seja com danças, com roupas curtas e coladas ou simplesmente com planos de biquíni que não tem exatamente uma necessidade.

De qualquer forma, assim como a série, o filme ganhou um imenso amor do público, principalmente utilizando as queridinhas de Hollywood dos anos 2000 como protagonistas: Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu. O sucesso do filme foi tão grande que ele ganhou uma sequência logo depois, utilizando da mesma forma técnica e narrativa do primeiro, apenas mudando os vilões e dando novos plot twists que ainda não tinham sido explorados.

Agora, em 2019, com o planeta conversando diariamente sobre Feminismo, sobre participação de mulheres em lugares que antes eram limitados a homens, sobre protagonismo feminino, sobre empoderamento. Uma nova obra, com a cara de 2019, foi necessitada e produzida, com novos conceitos, novas mulheres, mas que ainda tivessem aquela mesma essência que as mocinhas de 1976 tentaram fazer.

O novo filme de As Panteras não tenta fazer uma cópia da série, como os primeiros filmes fizeram, mas também sabe reconhecer sua importância. Também não deixa de lado as referências aos ícones pop dos anos 2000, que levaram milhares de pessoas ao cinema e faturou mais de 200 milhões de dólares nas bilheterias. Agora, tendo uma mulher como roteirista e diretora, As Panteras consegue encontrar um ritmo próprio, reconhecendo, desde o começo do filme, a importância das mulheres em todos os lugares que eram predominantemente masculinos, seja no esporte, na batalha, na ciência, na arte, tudo se encaixa nesse novo filme.

Elizabeth Banks, diretora do novo longa, não se deixa limitar por um roteiro já pré-produzido que funcionou anos atrás. Pelo contrário, ela aposta em sua própria intuição e cria algo bem diferente do que já tinha sido proposto. O filme é uma sequência direta dos primeiros, em que agora a empresa Charles Townsend recruta várias mulheres para entrarem em missões no mundo todo. Bem diferente das obras anteriores, aqui temos apenas duas mulheres que já estão dentro do programa, enquanto a terceira, começa como uma cliente da empresa e termina o filme treinando para entrar na empresa. Banks aposta nas referências, mas não se prende a elas. Agora temos Panteras com uma personalidade melhor desenvolvida, com seus dons tendo muito mais importância do que seus corpos, fazendo com que a verdadeira personalidade do que seriam as Panteras, se existissem, viesse à tona.

A verdade é que a essência dessas personagens nunca foi um produto para ser vendido para homens solitários, e sim sobre o que elas mesmas podem fazer e sobre o que nós mesmas podemos fazer. As Panteras sempre foi sobre inspiração, sobre representatividade, que infelizmente saiu um pouco da reta em alguns aspectos, mas que agora parece ter encontrado seu caminho de volta.

 

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