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Jeanette Rozsas revela os contornos de uma trajetória turbulenta em “Kafka e a Marca do Corvo”

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Jeanette Rozsas traça a trajetória em de Kafka em romance.

Amparada em uma pesquisa rigorosa, a contista e romancista paulista Jeanette Rozsas revela ao leitor todos os contornos de uma trajetória turbulenta, que forjou um dos maiores escritores de língua alemã do século xx, na biografia romanceada “Kafka e a Marca do Corvo”.  O título faz uma ligação entre um dos significados da palavra “Kafka”, que em tcheco quer dizer corvo, e a vida tumultuada do escritor.

Nascido em uma família judaica de classe média, Franz Kafka (1883-1924) cresceu em uma cidade dividida. No final do século 19, Praga pertencia ao Império Austro-Húngaro, atual República Tcheca. O idioma oficial era o alemão, língua materna de Kafka, mas parte da população local continuava a usar o tcheco no dia a dia.

A esse conflito externo somou-se outro, talvez o mais importante: a relação conturbada com um pai extremamente exigente e autoritário. Primogênito, Franz era um menino franzino e sensível, totalmente o oposto do ideal paterno. O patriarca Hermann esperava que o rebento herdasse as marcas da linhagem dos Kafka. Mas constatou, com despeito, que o menino tendia para o biotipo da família da mãe, Julie. “Os Löwy podiam ser ricos e respeitados intelectuais, mas nem de longe tinham a força física e o porte avantajado dos Kafka. A criança, além de magra, tinha cabelo bem negro, como a família materna”, escreve Jeanette. Depois de Franz, veio Georg, esse sim um garoto com a cara dos Kafka. Entretanto, ele acabou morrendo vítima de sarampo. O terceiro irmão, Heinrich, também morreu ainda bebê. Depois deles, nasceram três meninas (Elli, Valli e Ottla), de modo que, de varão, a família só contava com Franz, o que só fez acentuar ainda mais as cobranças paternas sobre ele.

Essa tensão entre os dois se manifestou inclusive na hora da escolha profissional. Franz pretendia estudar Filosofia. O pai foi contra, queria que ele fizesse um curso que o ajudasse a assumir os negócios da família. “Depois de muita discussão, chegaram a um acordo e

Franz se inscreveu em Química. Só que não aguenta o curso por mais de quinze dias e acaba por optar pela faculdade de Direito”, escreve Jeanette.

Igual disputa se travou depois de formado. Empregado em uma empresa de seguros e ainda ajudando nos negócios da família, Franz se ressentia da falta de tempo para se dedicar ao que costumava denominar “seu chamado”, o ofício de escritor. “O trabalho sempre significou para Franz uma perda de tempo, horas durante as quais ele deveria estar totalmente entregue à sua imensa criatividade e à sua razão de viver”, escreve Jeanette.

Mesmo assim, conseguiu produzir obras contundentes, marcadas por contos fantásticos e romances claustrofóbicos, abordando temas como alienação, conflitos entre pais e filhos, labirintos burocráticos e transformações místicas. Estão nessa lista obras como O Processo, O Castelo e A Metamorfose. Nesta última, talvez a mais famosa, o leitor se depara com a seguinte narrativa: “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido em segmentos arqueados…. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos”.

“A Metamorfose” foi um dos poucos textos que ele publicou em vida. Boa parte de sua produção foi publicada após a sua morte, pelo grande amigo Max Brod, a quem conheceu ainda na universidade. Kafka também deixou extensa produção em diários e em cartas que trocava com a família (principalmente o pai e a irmã mais nova Ottla), amigos próximos e a primeira noiva, Felice Bauer. Um rico manancial de pesquisa no qual Jeanette mergulhou com muita dedicação para traçar esse instigante perfil de um autor que influenciou outras grandes escritores, como Gabriel García Márquez, Albert Camus e Jean-Paul Sartre.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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