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Terceira temporada de Westworld tem menos ousadia

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Ficção científica da HBO chega a terceira temporada.

Quando “Westworld” encerrou sua primeira temporada em 2016, houve uma hype tão grande que era óbvio que a HBO continuaria a série, apesar da temporada ter sido bem encerrada. Quatro anos e muita gente morta depois, Dolores (Evan Rachel Wood) está liberta no mundo real, pronto para executar o seu plano de vingança.

Antes de iniciarmos as discussões sobre a série, é de bom tom citar os símbolos que a abertura demonstra. Em todos as temporadas há um animal, que de certa forma representa o estado em que os anfitriões estão. Na primeira é um cavalo domado, a segunda é um búfalo indomável, e agora na terceira é uma águia voando em direção ao sol. A águia simboliza liberdade e poder, então podemos ler esse símbolo como a nova fase em que Dolores se encontra. Contudo, ao se aproximar demais do sol, a águia robótica começa a se desfazer, assim como Ícaro caiu do céu ao voar muito alto. Nesse caso, pode ser que Dolores queira tornar-se algo, um ser divino, porém ela não tem capacidade para tal.

Outro símbolo é uma referência de A Criação de Adão, afresco pintado por Michelangelo, onde há a imagem de espelhada de Deus e Adão no momento da Criação. Na série vamos duas figuras humanoides espelhadas que ao se tocarem voltam a se afastar, uma delas afunda no mar profundo, revelando ser uma máquina. Outro símbolo que reforça que a ascensão de Dolores podem joga-la num abismo.

Nesta temporada existem algumas jornadas de personagens, elas se entrelaçam conforme a série avança. Primeiro temos Dolores executando seu plano de vingança, que logo se mostra algo muito maior, e também ambicioso. O primeiro episódio inteiro é apenas sobre como a anfitriã investe todos os recursos possíveis nesse plano, e que acaba a ligando Caleb (Aaron Paul), um ex militar muito traumatizado e pessimista com o mundo que vive.

O mundo apresentado através de Dolores e Caleb possui um profundo pessimismo tecnológico, e também apresenta algo similar a 1984 de George Orwell ou Admirável Muito Novo de Aldous Huxley, onde o excesso, ou a falta, de informação, aliena a população a fim de facilitar o controle sobre ela. Mais para frente, a questão do controle, do livre arbítrio, mostra que esta temporada está intimamente ligada a esses livros. O segundo episódio nos revela a nova jornada de Maeve (Thandie Newton) e o personagem Serac (Vincent Cassel), ambos são aliados para deter Dolores, contudo é uma relação que possui alguns furos de roteiro. Os próximos episódios são os conflitos dois grupos tentando derrotar um ao outro.

Todos os pontos positivos dessa temporada se resumem a reflexão que ela tem sobre um futuro muito realista, e a discussão do livre arbítrio, através da I.A., Rehoboam. Criado por Serac, esse inteligência artificial percebeu que, em todas as projeções possíveis, a humanidade se destruiria. Então, Serac usa Rehoboam para controlar todos os caminhos da humanidade, ou seja, o livre arbítrio é uma ilusão. Outro ponto interessante, que causou um belo plot twist, foi que as esferas trazidas do Parque não eram Dolores, Teddy e outros aliados, na verdade todas eram cópias da Dolores. A mente da Dolores que está no corpo de anfitrião de Hele (Tessa Thompson) começa a criar uma personalidade própria, a medida que ela tem contato com a família verdadeira de Hale. Também é revelado a existência do Quinto Parque, que é um local de treinamento militar. Agora conhecemos a existência de todos os parques: West World, Shogun World, War World, Medieval World (cuja a cena na série faz uma referência muito divertida a Game of Thrones), The Raj, e agora o parque de treinamento militar.

A temporada foi boa, porém ser apenas “bom” não é mais o suficiente para “WestWorld”. E quando se diz boa, é um elogio quase forçado, porque de certa forma a história andou. Mas existem várias tramas no roteiro completamente furadas, e outras totalmente irrelevantes. Como já dito acima, um desses furos é a jornada de Maeve com Serac. Até o final da segunda temporada, Maeve era motivada pelo amor que sentia pela filha, porém ao deixá-la ir para o Sublime, ficou muito claro que essa relação foi superada pela personagem. Ela tem apenas ficado mais poderosa com o passar dos episódios, e ao invés de chegar ao novo patamar na terceira temporada, parece que ela volta a estaca zero ao continuar a busca pela filha. Logicamente, ela nega ser um peão de Serac, mas ele consegue controla-la. Só que ele esse controle se estende até onde o roteiro acha conveniente, deixando claro que Maeve poderia se livrar dele a qualquer momento. O roteiro também joga a personagem mais estratégica da série numa roupagem de Kill Bill, só pra ter cenas de luta entre Maeve é Dolores quando uma conversa entre as duas teria dado resultados muito mais interessantes.

Os piores furos, e até perda de tempo na série, são Bernard (Jeffrey Wright) e o Homem de Preto (Ed Harris). Nós vimos a completa destruição do Homem de Preto como pessoa, após ele matar a própria filha. Dolores acaba jogando ele em tipo de hospício do futuro, e nesse lugar ele tem conflitos constantes com várias partes de si mesmo. Todas essas interações são excelentes, algo muito freudiano falando do ego e só superego. Quando parece que o personagem vai entrar num caminho de violência para destruir todos os anfitriões, ele morre. Sendo assim, tudo que a série fez foi perder tempo desenvolvendo um personagem que ia morrer no último episódio. O caso Bernard é ainda mais idiota porque tudo que o personagem faz é ficar correndo de lá pra cá, tentando atrapalhar a Dolores, e falhando miseravelmente sempre. O personagem só se fez útil nós minutos finais do último episódio, ao ser revelado que todos os dados do Sublime, a chave da imortalidade da Delos, estão contidos em Bernard. A cena dela com a esposa de Arnold é realmente muito bonita, mas em termos de trama, ela não serve pra nada.

O maior problema dessa temporada é que ela toma vários caminhos que são ou perda de tempo ou não servem pra nada no fim das contas. Com um estilo que se dedica muito mais à ação, que apesar de bem coreografada, não contribui em nada para a trama e para a profundidade que a obra sempre teve. Foram oito episódios que parecem apenas um momento de transição para a temporada final. O que se pode especular sobre a próxima temporada, é que o plano de Dolores não envolve apenas destruir Rehoboam, e deixar a humanidade se destruir sozinha. Mas em quanto a humanidade se destrói, uma na raça começa a popular o mundo.

Foto: divulgação HBO

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