Mulher trans, militar e católica, Maria Luiza é a personagem que dá nome ao documentário de Marcelo Díaz.

Por milênios o posto militar era um reino de homens, aliás, até hoje a Seta de São Sebastião, uma representação fálica, aponta patentes militares. Quanto mais falos se tem, maior a patente. Claro que os tempos mudaram, e as Forças Armadas ao redor do mundo tem várias mulheres em seu corpo militar. Aliás, a própria atriz Gal Gadot serviu por dois anos nas Forças de Defesa em Israel. Porém, ainda assim é um ambiente opressor para qualquer, e ainda mais para alguém que não se encaixa no rebanho.

Maria Luiza foi por anos de sua vida uma mulher num corpo masculino chamado José. Maria sempre teve interesse em velocidade, mecânica e aviação, o que a levou a entrar na FAB (Força Aérea Brasileira). Sendo soldado, Maria descobriu uma incrível vocação para o serviço militar, na parede de sua casa são expostas diversas medalhas de honraria de serviço exemplar. Porém Maria vivia no corpo de José, e teria que ser mudado.

Os dois parágrafos acima são pequenas demonstrações da vida fantástica que Marcelo Díaz colocou em seu documentário. Maria Luiza nada mais é um retrato de um mulher trans muito confiante sobre sua posição, persistente e guerreira como as inúmeras mulheres brasileiras. A narrativa contada por Marcelo Díaz é regada com vários momentos de silêncio contemplativos. Além disso, por vários momentos a fala baixa e tímida de Maria Luiza tem o poder de gerar lágrimas apenas de falar em suas alegrias básicas. Marcelo fez uso de uma filmagem muito natural, aproveitando ao máximo de luz e cores naturais.

Surpreendentemente, as entrevistas que existem são apenas para reafirmar a posição de Maria Luiza e, certamente, para denunciar a opressão desumana, e criminosa, que ela sofreu pelo corpo militar. O longa em si é uma obra que propõe o diálogo, sempre defendendo a liberdade de expressão e de direitos.