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“Nu com a Minha Música”: Ney Matogrosso lança novo álbum

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Faixa que dá nome ao álbum é uma composição de Caetano Veloso.

"Nu com a Minha Música"
Foto: Marcos Hermes

Ney Matogrosso lança hoje o álbum “Nu Com a Minha Música”! Mais do que um retrato desses tempos sombrios, o novo trabalho representa um mecanismo de libertação ou, como define o cantor, uma via para sair da escuridão. Aliás, o gatilho que deu início ao trabalho foi disparado no final do ano passado, em meio à prostração geral em que todos caímos. Ney sentiu que precisava construir sua própria ponte de saída daquele clima macabro que a pandemia e suas péssimas notícias geravam diariamente.

Sem a possibilidade de fazer shows, um álbum de estúdio era o melhor caminho. Assim, foi em busca das listas onde anota, desde sempre, as canções que pretende um dia trazer para seu universo. Trata-se de um repertório que ele conheceu na voz de outros intérpretes e que o atingiram de imediato, tenham elas vindo da Era do Rádio ou de um compositor da novíssima geração.

Em comum, essas músicas prezam por um discurso afinadíssimo com o que Ney desenhou em seus quase 50 anos de carreira fonográfica, a liberdade à frente de todas as coisas, não importa o tema ou o gênero da canção.

Quando concluiu que tinha as 12 faixas do álbum definidas, Ney Matogrosso foi entender os próximos passos dessa produção tão peculiar, muito diferente de todas as que fez no passado.

 

“Nu Com a Minha Música” tem momentos densos de voz e piano, há também o Carnaval e a sacanagem em arranjos grandiosos. Toda essa diversidade criou um roteiro que mistura ficção e memória, como aconteceu também nas melhores obras geradas nesse período pandêmico. A música foi quem muito nos acolheu nesses tempos de introspecção. Todo esse sentimento está, certamente, espelhado no repertório final do álbum de Ney.

Um grande exemplo desse nó que amarra música e memória, enriquecendo uma e outra com novos significados, se dá em “Quase um Segundo” (Herbert Vianna). Desde que ouviu no rádio pela primeira vez a hoje clássica balada Pop dos Paralamas do Sucesso, em 1988, Ney se interessou por ela. Mas as razões pessoais para regravá-la se ampliaram infinitas vezes quando ouviu Cazuza dizer que essa era a única canção que ele tinha inveja de não ter composto. Aliás, é, de fato, a mais cazuziana entre as baladas de Herbert.

O próprio Cazuza regravou a música em seu último LP, “Burguesia” (1989), com interpretação dilacerante. É nessa gravação que se baseia a versão de Ney. O arranjo de Ricardo Silveira realça o clima blues que tanto agradava Cazuza desde os tempos de Barão Vermelho.

E a memória individual se expande para memória afetiva do Brasil em “Espumas ao Vento” (Accioly Neto). Ney ouviu a famosa gravação de Fagner ecoando como um hino, tantas vezes e em tantos lugares do país, que logo entendeu haver algo muito profundo ali, desses fenômenos que só acontecem com as mais grandiosas canções românticas. O arranjo de Leandro Braga encontra o tom exato para a voz de Ney, como se ele a tivesse pescado no repertório dramático de Ângela Maria, ambiente tão caro ao intérprete.

Também é de Braga o piano que soa como instrumento solitário em “Noturno”, composição de Vitor Ramil lançada pelo autor no álbum “Longes” (2004). A pedido de Ney, Ramil escreveu uma nova estrofe: “Eu vivo cada segundo/ De cada hora despida/ Tudo é nudez e passagem/ Tudo é visagem e amor/ Eu ouço cada palavra/ De cada frase não dita/ A minha boca era tua/ A tua boca era minha”. O cantor queria que a letra trouxesse à tona o encontro sexual-amoroso que na versão original estava apenas insinuado.

Se na canção de Ramil a sexualidade é abordada em um bordado lírico de imagens e palavras, em “Faz um Carnaval Comigo”, de Jade Baraldo e Pedro Luís, o tema é tratado no aqui e no agora, descrevendo a pegação em tempo real: “Não quero saber de hora/ Tá rolando, tá agora/ Te devoro, me devora/ Amanhã vê no que deu”. A música já havia sido gravada por Pedro, Jade e Batman Zavareze em 2019. Na versão de Ney, contou com a produção de Ricardo Silveira e um ótimo naipe de sopros.

Pequena obra-prima escrita pela dupla Itamar Assumpção/Alice Ruiz e lançada por Alzira Espíndola no álbum “Amme”, de 1991, “Sei dos Caminhos” estava no baú de Ney Matogrosso desde então esperando sua hora para ser regravada. Marcello Gonçalves fez o belíssimo arranjo em que o universo tão particular de Itamar é sutilmente citado na costura fina entre as frases do clarinete de Anat Cohen e a marcação rítmica das palmas. Também ficou nas mãos de Gonçalves e de Cohen a missão de criar a base de “Sua Estupidez”, standard de Roberto e Erasmo Carlos.

 Com letra de Paulo Coelho, “Gita” é um clássico absoluto do repertório de Raul Seixas. O clima épico da versão original é mantido aqui, sob a produção de Leandro Braga, que também toca o piano. Leandro criou um grandioso arranjo de sopros e cordas. E Ney manteve inclusive a fala de Raul na introdução: “Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando/ Foi justamente num sonho que Ele me falou”.

Faixa que dá nome ao álbum, “Nu Com a Minha Música” é uma composição de Caetano Veloso lançada no LP “Outras Palavras” (1981). Sua letra remete às excursões que tantos artistas da música brasileira fizeram pelo interior paulista até pelo menos meados dos anos 80. Ney tem nítidas as memórias de estrada que Caetano descreve tão bem. Lembra especialmente da turnê do LP “Bandido” (1976), nos primeiros anos de sua carreira solo, quando percorreu justamente esse circuito. Na nova gravação, a canção ganha divisão rítmica mais acelerada sob a produção de Marcello Gonçalves.

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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