A Viagem de Pedro fala de gênero e raça no contexto da época

Primeiro longa-metragem histórico da diretora Laís Bodanzky, A Viagem de Pedro, protagonizado por Cauã Reymond, aborda a vida privada de Dom Pedro I, através de um retrato da viagem de retorno a Portugal, em 1981.  A Viagem de Pedro aborda o momento em que o ex-imperador retorna para Portugal,  fugindo de ser apedrejado pelos brasileiros, nove anos depois de proclamar a Independência do Brasil rumo à Europa, a fim de preparar a luta contra o irmão Miguel pelo trono de Portugal, onde é tido como traidor.

Buscando forças físicas e emocionais para enfrentar seu irmão que usurpou seu reino em Portugal, Pedro se encontra em pleno Oceano Atlântico, a bordo de uma fragata inglesa na qual se misturam membros da corte, oficiais, serviçais e escravizados, numa babel de línguas e de posições sociais. Porém, Pedro se vê doente e inseguro, enquanto busca um lugar dentro de si mesmo.  Pedro tenta reunir forças para a guerra fratricida que se aproxima, mas a doença e o medo da morte lançam-no numa espiral de alucinações.

Escrito e dirigido por Laís Bodanzky, o longa teve seu roteiro escrito a partir de documentos da época. a diretora conta, “O filme, de fato, é radical, diferente do Bicho de Sete Cabeças, A Viagem de Pedro entra na cabeça do personagem se tornando um filme sensorial, convidando o espectador a viajar internamente junto com o protagonista”.

Além disso, a fotografia do filme influencia a trama a ser retratada, usando de lentes antigas para que a definição da imagem não fosse perfeita como se fosse um objeto da época retratando aquele período.

  O longa, que aborda questões importantes de gênero e raça no contexto da época, chega em um momento oportuno, quando o coração de Dom Pedro I foi solicitado para celebrar os 200 anos da Independência.

Com intuito de oferecer um contraponto ao ufanista Independência ou Morte, lançado em meio à ditadura militar, a diretora revela, “o governo atual flerta com ideais militares. Pedir o coração emprestado é uma forma ufanista e superficial de comemorar os 200 anos de uma independência que, de fato, nunca aconteceu. Podemos não ser mais colônia de Portugal, mas ainda somos uma colônia”.

 No elenco, a artista plástica Rita Wainer estreia como atriz no papel de Domitila, em coletiva de imprensa Rita conta que o maior desafio nessa primeira experiência foi o fato de ser artista e já estar acostumada a desafios, “Quando a Lais me chamou nós entendemos que essa seria uma experiencia diferente em muitos sentidos”.

  O diretor de arte inglês Adrian Cooper e o diretor de fotografia espanhol Pedro J. Márquez (“Ex-Pajé”, “A Última Floresta”) foram os responsáveis pelo trabalho de reconstrução de época.

A Viagem de Pedro estreou mundialmente no Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme foi exibido no 23º Festival do Rio, onde conquistou o Troféu Redentor de melhor ator coadjuvante (Sergio Laurentino) e de melhor direção de ficção (Laís Bodanzky). Em Portugal, foi exibido no 19º Indie Lisboa, em maio. Além disso, em junho, o longa-metragem venceu o prêmio de Melhor Filme da América no Septimius Awards, em Amsterdã. O filme também foi exibido no Brooklyn Film Festival, festival que qualifica produções para concorrer ao BAFTA, Oscar e para o Canadian Screen Awards.

A Viagem de Pedro foi produzido por Bianca Villar, Cauã Reymond, Fernando Fraiha, Karen Castanho, Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi, Luis Urbano e Mario Canivello. O filme chega aos cinemas no dia 1º de setembro, na semana do bicentenário da Independência.