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Ana Cristina Cesar é homenageada em o monólogo intimista

Publicado em:

Ana Cristina Cesar
Foto: Thais Grechi

Uma das grandes poetas brasileiras, Ana Cristina Cesar (1952-1983) tinha uma grande exigência em relação à escrita, desde que começou a se interessar por literatura, ainda criança. Era uma “jovem envelhecida”, como se autodefiniu. Percebia em si um rigor excessivo e uma obsessão na “busca pela palavra exata”. O espetáculo “inconfissões” é norteado por essa busca rigorosa ao entrelaçar vivências pessoais da atriz Laura Nielsen, como atleta de nado sincronizado durante sua adolescência, com poemas e narrativas da “atleta verbal” Ana C.

Com dramaturgia de Marcela Andrade e Laura Nielsen, direção de Marcela Andrade e supervisão artística de Gabriela Lírio, o monólogo faz uma homenagem à poeta, cuja morte precoce completa 40 anos em 2023.

Expoente da literatura marginal, a carioca Ana Cristina Cesar, também conhecida como Ana C., se destacava dentro do próprio movimento por uma linguagem singular, marcada pelo tom confessional e reflexões sobre a identidade feminina. Investindo em imagens concretas, por vezes brutais, e demonstrando um olhar irônico sobre o mundo, Ana C. escrevia, sobretudo, em formato de cartas, diários e anotações breves, trazendo para a sua poesia um aspecto intimista e autobiográfico.

Para a construção do espetáculo, as dramaturgas se debruçaram sobre o livro “Poética” (que reúne todos os poemas de Ana C.), a biografia “Ana Cristina Cesar – o sangue de uma poeta”, de Italo Moriconi, e o livro “Inconfissões – fotobiografia de Ana Cristina Cesar”, organizado por Eucanaã Ferraz. Aliás, entre os poemas escolhidos para a cena estão “mancha”, “fagulha”, “deus na antecâmara” e “soneto”, criados durante a adolescência da autora, e “samba-canção”, “noite carioca” e “olho muito tempo o corpo de um poema”, escritos na fase adulta.

“A poesia de Ana Cristina Cesar é marcada pelo tom coloquial com discurso construído em primeira pessoa, aproximando-se de um gesto confessional. Em sua obra, ela explorou intensamente dois gêneros literários da intimidade (carta e diário) e, assim, construiu uma linguagem que coloca o leitor sempre em evidência. O espetáculo também pretende explorar essa atmosfera intimista, buscando uma relação de proximidade entre atriz e público, mas acho interessante como as distâncias entre elas ora se encurtam ora se expandem ao longo do espetáculo. Desejo que o público receba essa dinâmica de “amizade” como jogo de invenção de (in)confissões, explica a diretora Marcela Andrade.

Em contato direto com público, Laura Nielsen expõe sua trajetória de pesquisa sobre a obra de Ana C. até o momento em que, ficcionalmente, se encontra com a poeta na borda de uma piscina. A partir dali, a atriz busca um diálogo acerca das possibilidades de leveza e soltura em meio ao rigor. A borda da piscina se transforma no proscênio de um teatro ou na lembrança de um quarto ou no parapeito de uma janela, em dinâmica onírica.

De que forma o corpo pode dialogar com a escrita e a escrita com o corpo? Como traduzir a poesia em ação? Como manifestar, no corpo, a linguagem poética de Ana Cristina Cesar? Essas perguntas também guiaram a construção do espetáculo que, sem obedecer a uma lógica linear, mistura poemas e memórias (in)confessáveis. O espetáculo relembra episódios da vida da autora (principalmente aqueles ligados ao seu período de adolescência, entre 1968 e 1969, e a forma como a jovem lidou com o regime de censura imposto pela ditadura militar).

“A obra da Ana Cristina Cesar é repleta de contrastes entre o ser e o parecer, o conteúdo denso e enigmático que se contrapõe ao riso e a ironia, entre vida e morte, entre real e ficcional. Sua poesia é complexa, intensa, abre muitas possibilidades de leitura. Na peça, que tem uma estrutura fragmentada, os poemas são apresentados em uma espécie de colagem de cenas, às vezes entram de maneira integral, noutras citamos apenas trechos”, explica Laura.

Serviço:
“Inconfissões”
Temporada: de 22 a 25 de março
Espaço Sergio Britto – Unidade CAL Glória (Rua Santo Amaro, 44 – Glória)
Dias e horário: quarta a sábado, às 20h
Ingressos: gratuitos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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