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O Homem Cordial, filme de Iberê Carvalho, aborda a a cultura do linchamento

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Filme questiona papel da sociedade na cultura do linchamento.

Em O Homem Cordial, Aurélio (Paulo Miklos) é vocalista de uma famosa banda de Rock que fez muito sucesso até o final dos anos 90. Porém, na noite de retorno de sua banda aos palcos, viraliza na internet um vídeo que o envolve na morte de um policial militar. Ninguém sabe o que de fato aconteceu, mas o astro passa a ser alvo de grupos radicais. Agora, Aurélio se vê inserido em uma tensa e violenta jornada pelas ruas de São Paulo, durante uma única noite.

O Homem CordialA banda de rock fictícia, Instinto Radical, é inspirada nas muitas bandas de Rock que fizeram sucesso nos anos 80 e 90 no Brasil, com músicas que retratam questões sociais. Aliás, é importante lembrar que a maioria das bandas de Rock desse período eram composta por adolescentes brancos, de classe média ou média alta, que tinham o privilégio de poder falar o que queriam, pois o Brasil já estava saindo do período ditatorial. É, justamente, a partir dessa construção de estereotipo, que o longa aborda questões relevantes na sociedade (ainda) atual.

Desde o começo, a motivação inicial do projeto era tratar da injustiça social. Dirigido por Iberê Carvalho, que escreveu o roteiro em parceria com o uruguaio Pablo Stoll,  o filme procura discutir lugares de privilégio e injustiças. Sociólogo por formação, o diretor do longa conta o que os guiava era o desejo de escrever uma história que se passasse em uma única noite e que levantasse questões, de forma crítica, sobre a sociedade brasileira atual.

Em O Homem Cordial, eles questionam de forma clara e didática a questão da Fake news, do linchamento, do cancelamento nas redes sociais, racismo e violência policial. Além disso, o longa discute a questão do racismo, a partir de um ponto de vista que busca discutir a branquitude como uma raça. “A polícia, no Brasil, é a instituição criada para garantir, com o uso da força, o privilégio da branquitude”, completa o diretor.

Confira entrevista feita no Festival de Gramado

 Ao contrário do que muitos pensam, o titulo do filme não se refere a uma característica amável e gentil de nós brasileiros. Sérgio Buarque se referia à Cordial (palavra que vem de Cordis, que em latim significa coração) como um sujeito passional, que age pelo afeto, e esses afetos acabam mascarando as relações de conflito e de extrema violência de nossa sociedade. O título é, certamente, uma provocação crítica e um convite para uma reflexão sobre nossa identidade!

Para escrever o filme, os roteiristas pesquisaram sobre a origem e os casos contemporâneos de linchamentos virtuais e físicos, sobre os casos de violência policial que tiveram crianças como vítimas, sobre o racismo estrutural e também sobre o Rock brasileiro dos anos 80.

O crescimento do discurso de ódio na sociedade ajudam na construção dessa narrativa.  Paulo Miklos dá vida ao cantor com muita naturalidade mostrando cada vez mais o quanto é um artista completo e versátil. Ele se transforma completamente em cena!

Outro elemento importante é a cidade de São Paulo, que, certamente, é um personagem da trama. Uma grande metrópole nunca dorme e a sensação de estar constantemente sendo observado e julgado através da cidade representa uma ameaça a Aurélio. Assim, a história é desenrolada trazendo situações que só uma cidade como São Paulo poderia proporcionar.

A fotografia, assinada por Pablo Baião, é peça crucial nessa narrativa que abraça o que é repulsivo, desde o olhar ingênuo do protagonista à violência policial. Trazendo a câmera na mão, Baião nos dar a sensação de que nada do que vemos em tela foi ensaiado ou planejado.

Contra fatos, não há argumentos! O filme coloca a angústia de ver uma direita ultra conservadora e reacionária crescendo de forma exponencial, ao mesmo tempo que mostra como a Internet é usada como instrumento de manipulação das massas.

Nos últimos tempos, vivemos um período de normalização da barbárie. Um momento onde a violência, que sempre existiu de forma velada, ganhou status de discurso público e, em alguns casos, até de política de Estado. E é nesse contexto, de barbárie, que ocorrem os linchamentos. O Homem Cordial ,certamente, questiona qual papel de cada um de nós nessa cultura do linchamento e como pode estimular a reflexão sobre nosso comportamento nesse momento de reconstrução da civilidade, dos direitos humanos e da democracia.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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