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Thomas Hardiman tira Medusa Deluxe do lugar comum, em longa primoroso

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Thomas HardimanNão dá pra negar que é um enorme surpresa assistir a estreia de Medusa Deluxe, de Thomas Hardiman, nos cinemas brasileiros, sob a égide de muitas características. Estreado no último Festival de Locarno, o filme é mais uma feliz parceria entre a MUBI e a O2, que têm resultado em estreias de filmes celebrados por aqui, ou de propostas sui generis como essa. Não há (e isso é positivo) algo que se pareça com essa estreia nem minimamente com o que vem sendo absorvido pela malha do circuito cinematográfico, e essa sensação de assistir a algo fora dos padrões em todos os sentidos eleva não apenas o filme, mas a própria situação onde ele se encontra. Aliás, podemos dizer que não é recomendado que uma análise seja feita sem tomar essa base ao menos no campo da curiosidade, e o quanto isso influencia no nosso olhar sobre a obra.

  1) Medusa Deluxe é um filme construído em torno de uma série de planos-sequências, a formar um inteiro que passe a impressão de um bloco único, como já o fizeram antes Festim Diabólico e Birdman, só pra ficar em dois exemplos.

2) O filme é desenvolvido em torno de um concurso de penteados entre cabeleireiros, aqueles que hoje em dia têm até reality shows.

3) Todo passado em único e enorme cenário, os bastidores de tal concurso, a câmera do filme não apenas segue os personagens o tempo inteiro como praticamente não para um só momento. São muitas camadas de interesse e situações pouco usuais interligadas em uma única obra.

Em resumo, a estrutura narrativa apresentada pelo estreante Thomas Hardiman não busca pela novidade ou pela fuga de estereótipos, ao contrário disso. A aposta aqui é em enquadrar tais signos de maneira tão consciente e retilínea, que a ideia seria explorar muito mais sua forma. Ainda que também ela esteja em voga de uns tempos para cá e ideia de sequência encadeadas seja quase um toque obrigatório entre os filmes que querem demonstrar algum arroubo já testado, Medusa Deluxe usa do seu pacote de ideias para preencher os requisitos que o tiram do lugar comum. Há sedução o suficiente em suas imagens, em seu entorno e em cada novo personagem que adentra o quadro.

Por mais que o mau humor coletivo insista que, tecnicamente, o que é visto aqui não se configura como algo novo (e, de fato, não é), Medusa Deluxe mostra que Thomas Hardiman se aprimorou em curtas-metragens para estrear aqui em longa exatamente com o espaço cênico todo elaborado. Então não é um ou outro elemento que transforma a experiência, mas a união de seus componentes individuais. Paralelo a isso, o roteirista ainda insere sua conterrânea Agatha Christie na mistura ao promover um ‘quem matou?’ instituindo uma caçada involuntária ao universo já inchado.

Nada soa exagerado, tendo em vista que o universo apresentado já é de proposta excessiva por si só. A extravagância é um elemento crucial a um concurso de penteados, e Medusa Deluxe trata seu cenário, seus tipos, seus diálogos e suas ações dentro dessa dinâmica. Certamente, não estamos em registro naturalista a começar pelas decisões artísticas, então todo o material é afetado com isso a promover um resultado de impacto. Se ocorre um esvaziamento em determinado momento dessas intenções, ou se o filme não consegue alcançar o tanto de expectativas por mais elevados resultados estéticos, onde poderíamos ir ao limite do histrionismo, isso demonstra uma precaução do cineasta em exceder ainda mais.

Creio que essas amarras não deveriam ter sido acessadas. A cada momento em que Medusa Deluxe extrapola seus limites rumo a um atropelo tresloucado, o filme corresponde ao que parecia ter sido prometido. Aliás, a cena do “incêndio” é uma prova dessa questão, onde tudo é tão absurdamente sem freios que forma e conteúdo parecem estabelecer o casamento perfeito. Quando os “bafões” se acumulam entre os personagens, os conflitos parecem atingir o ápice, quando o crescendo de ‘porralouquice’ enfim é atingido, Thomas Hardiman invariavelmente demonstra estar em casa e senhor de sua criação. Além disso, faltou um pouco de coragem de acelerar ainda mais rumo ao nonsense, mas quando consegue atingir esse ponto, Medusa Deluxe justifica sua estreia tão fora dos padrões.

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