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Destinos Opostos traz trama televisiva, porém esgarçada

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Destinos Opostos, novo filme brasileiro que chega aos cinemas nessa semana, aponta o reencontro de dois amigos que foram criados como irmãos quando crianças, mas em seu primeiro contato de volta brigam pela música que mais apreciam no rádio de um carro. Essa é uma cena muito adequada, claro, se houvesse acontecido ainda com as crianças, e não com dois homens mais para os 40 anos que para os 30. Não que estivesse funcionando plenamente até então, mas é a partir daí que o espectador realiza de que nenhuma indagação será suficientemente profunda a ponto de nos fazer compreender o todo que estamos assistindo. São muitas hipóteses levantadas, porém nenhuma delas faz jus a uma explicação adequada.

Estamos diante do que, para o cinema, é equivalente a “Pantanal” na tela grande. Com a diferença de que Destinos Opostos não é considerado um clássico e provavelmente não será um sucesso premiado da crítica nem terá o público aos seus pés. Ora bolas, o que então une essas duas obras? A paisagem do Pantanal em si, a propaganda gratuita do agronegócio como forma de representatividade geográfica, e o novelo de teledramaturgia empregado em ambas tem como resultado um folhetim à moda antiga onde nada funciona na telona como funcionou na telinha. A resposta a isso é o abraço sem críticas que um gênero faz ao outro, mas deixando óbvio também quais as limitações observadas aqui.

Diferente de outros títulos discutíveis do ano, como Os Aventureiros e Um Dia Cinco Estrelas, Destinos Opostos não se assemelha a algo já concebido antes, por menos cinematográficos que fossem – uma série do Multishow ou um canal do YouTube. O filme de Walther Neto (que também é compositor e assina as inúmeras canções redundantes da trilha sonora) não se parece, em textura, com nada. Não é uma neochanchada – embora seja involuntariamente engraçada – mas também não é uma propaganda de artistas consagrados, como os antigos filmes da Xuxa; não tem cuidado imagético, nem tem aquele aspecto televisivo tradicional de alguns filmes desleixados. É, em tudo para onde se olha, um filme sem espaço.

E não é porque ambiciona o apoio de empresários rurais, ou porque falta talento coletivo; temos no elenco ao menos três exemplares de atores acima da média. Mas se as capacidades de Jackson Antunes, Eucir de Souza e Marcos Breda não são suficientes para elevar Destinos Opostos, o que seria? Com argumento de Neto e Marcos Moraes e roteiro de Erik de Castro, o que vemos é uma tentativa de ‘novelizar’ a linguagem cinematográfica, e mesmo que ainda não alcance o “brilho” disposto em obras como “Araguaia” e “A Lei do Amor”, a cultura que está disposta em cena é a do melodrama, aquele de situações bem exageradas, quase saindo dos limites do Brasil e chegando na tradição mexicana de produção – ao menos no México de uns 30 anos atrás.

Além disso, o elenco, no geral, embora não se iguale aos três já citados, não é um problema por si só – com exceção de Carina Sacchelli e Michael Stone, cujas palavras faltam para descrever. Ao que eles são submetidos, isso sim é um inconveniente; são diálogos tão absurdos quanto carregados de uma latinidade inexplicável. Além disso, estão inseridos em cenas cujas canções entoadas sublinham qualquer ação. Se um pássaro voa, a canção a isso citará; se o casal principal se reaproxima, a música tema tratará sobre o assunto, e por aí vai. Apesar de cada cena ser minuciosa em seu didatismo, ainda assim Destinos Opostos parece não confiar no espectador e arrasta mais um pouco de sua obviedade, em imagem e som.

Talvez seja isso o que tem de menos cinematográfico nesse estranhíssimo institucional do Pantanal. Por mais que vejamos aqui e ali produções que tratam o público com certo paternalismo, o que vemos em Destinos Opostos é de outra cepa, uma que raras vezes tinha visto anteriormente. Ao não perceber-se tão detalhadamente explícito e sem um tratamento adequado de decupagem de planos, o filme se afasta do que o cinema mais teve méritos em legar, que é nossa capacidade de fabular, desprendendo-se do concreto. Neto e sua equipe tornam cansativa a experiência de acompanhar uma trama que já é de uma simplicidade ímpar, e ainda chega até as telas em condições desumanas de tão esgarçada.

 

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