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A Última Rainha reconta a história da última monarca do império argelino

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 A Última Rainha carrega uma importância fundamental não apenas para o feminismo, mas também para a história mundial. Ao recontar a história da última monarca do império argelino, uma figura do qual pouco se tem conhecimento e muitos inclusive duvidam da existência, a produção revela um dado muito cruel sobre apagamento feminino, da forma como temos visto ser descoberto nos últimos anos.

Em todas as áreas, seja no cinema ou no teatro, na medicina ou no esporte, na política ou nas ordens religiosas, históricas figuras que mudaram sua trajetória e a do ofício que exerciam foram banidas dos livros e da historiografia mundial. Zaphira por tão pouco tempo foi a figura central de um governo em queda, e foi mais uma apagada, certamente, não é de se estranhar.

A Última RainhaÀ frente da produção, encontra-se Adila Bendimerad, que dirige, roteiriza e estrela A Última Rainha, e é sua razão de existir. Nas duas primeiras funções, acompanhada de Damien Ounouri, temos, enfim, uma adaptação de um capítulo fundamental da História sendo contada por uma mulher, como raramente vemos. Suntuoso e requintado, existe um olhar muito apaixonado pelo projeto e é o próprio resultado quem revela isso, mediante seu tratamento meticuloso diante do que está sendo contado. Esse cuidado está empregado tanto na condução narrativa, quanto nas intrincadas sequências de batalha, sejam elas opulentas como a primeira, ou muito sucintas, como os inúmeros ataques fatais que o filme recria.

Diante de um universo predominantemente masculino, onde as mulheres são figuras à margem do poder, o retrato de Zaphira aqui é aquele tradicional ‘a frente do seu tempo’, com as inserções que a personagem protagoniza quase inacreditáveis. Ainda que abuse da liberdade poética para contar uma parábola que se comunique com o público de hoje, ávido por representatividade, A Última Rainha se coloca na condição de experiência cinematográfica, e como tal precisa sim criar um laço empático entre sua protagonista e o público. Isso é facilmente conseguido, porque está sendo narrada acima de tudo a trajetória de uma mãe leoa capaz de qualquer sacrifício por amor ao seu filho, o futuro rei de um império.

A condução desses três aspectos da vida de uma mulher, a mãe, a esposa e a gestora, acompanham o tratamento que o roteiro emprega em Zaphira, e ainda que acentue a maternidade como fio condutor, não deixa de acompanhar as múltiplas motivações de sua protagonista. A líder que precisa prever os próximos atos de traição, a bela mulher que ainda sente desejo sexual pelo marido (e eventualmente por outros, no decorrer da produção), são partes integrantes da mesma figura que Bendimerad compõe com as entranhas expostas de maneira visceral. Sua última cena destaca o ímpeto da personagem em realizar um desejo que é imutável, fruto de uma decisão exclusivamente sua, e margeia todo caminho que A Última Rainha desenha para ela.

Vivido com igual energia por Dali Benssalah, o pirata Barbarossa é o homem que se colocará no caminho de Zephira até o trono, com um interesse estratégico que se transforma assim que eles se aproximam. A química entre ambos, que estão em embate quase o tempo todo, é que define nosso envolvimento com A Última Rainha. Antes de seu primeiro encontro, o filme seguia de maneira protocolar o esquema histórico que Hollywood ensinou, mesmo que a produção seja exemplar. A partir desse encontro, o olhar aguça na direção dos personagens, que se inflam na presença um do outro, transformando o título em mais do que um mero jogo de intrigas palacianas.

Há pelo menos uma escolha que impressiona em A Última Rainha e passa ao largo de suas opções identitárias, que é sua predileção pela violência. Entendemos o tom trágico que um filme como esse necessita, aliás, não há qualquer moralismo na colocação, mas em tempos tão politicamente corretos, Bendimerad e Ounouri optarem pelo banho de sangue que acompanhamos pede, no mínimo, comemoração. Temos, caminhando em paralelo ao empoderamento óbvio de uma figura que traçou a sua própria história, um teor verídico ao que vemos, quando não se intimida diante de tanto horror provocado pelos personagens, literalmente uns contra os outros. É mais uma forma de perceber a coragem de uma produção que o nosso circuito não recebe todos as semanas.

 

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