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“Irmã Yerma” é uma reinvenção performática da obra de Federico García Lorca

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Com o intuito de explorar temas como fé, desejos e trazer atenção sobre a construção de um projeto político cristão, “Irmã Yerma” é uma reinvenção artístico-performática da obra de Federico García Lorca, dentro do contexto sociopolítico e religioso contemporâneo do Brasil.

"Irmã Yerma"
Foto: Rodrigo Menezes

Representado por um elenco diverso e marcado por vivências em ambientes evangélicos, o espetáculo é baseado no texto “Yerma” de 1934, de Federico García Lorca, que narra uma mulher que vive o drama de não conseguir conceber um filho. Junto a isso, o espetáculo entrelaça a trajetória da ascensão do fascismo na Espanha (1934-1939) e a ditadura militar brasileira (1964-1985) para propor uma reflexão profunda sobre as ramificações de movimentos de extrema direita no contexto atual.

“Irmã Yerma” desdobra-se como uma peça multimídia e multiforme, ora uma história dramatizada, ora uma investigação documental, onde três atrizes negras dividem o papel da protagonista, interpretando diferentes aspectos de seus desejos em uma sociedade opressiva, enquanto um grupo religioso pentecostal desenvolve um projeto político. Essas atrizes, enquanto agentes de uma pesquisa cênica, manipulam som e imagem, apresentando documentos e dramatizando os passos da mulher que clama “dá-me filhos se não morro”. A obra reflete a angústia da infertilidade retratada por Lorca, relacionando-se com a história bíblica de Ana e com as vivências de muitas mulheres cristãs.

A peça também produz um campo de reflexão sobre como os dogmas religiosos se fortaleceram na esfera pública e política no país e de que maneira isso afeta os corpos de pessoas já vulnerabilizadas. A partir desse tema, Diêgo Deleon, diretor da peça, expressa como as vivências da equipe enriquecem a construção da narrativa. “Parte da nossa equipe tem uma experiência anterior com a comunidade evangélica. Isso permite uma visão de como essas ideias têm sido cultivadas e maturadas politicamente por décadas, revelando um projeto antigo e bem estruturado”, enfatiza.

Para Caju Bezerra, diretora da peça, “Irmã Yerma” foi construída de forma coletiva, colaborativa e repleta de verdades. “Nós somos um grupo formado, em sua maioria, por artistas negros, LGBTQIA+ e de periferias, vivendo em um contexto de ascensão da extrema direita no Brasil, um país que lidera em assassinatos de LGBTs no mundo, não só fisicamente, mas também por inúmeras formas simbólicas. As nossas experiências de vida e quem nós somos moldam muito a forma como vemos o mundo e, claro, influenciam diretamente no nosso trabalho criativo”, destaca.

O projeto sustenta sua relevância ao dialogar com um texto clássico e deslocá-lo para uma realidade local e contemporânea para tratar de temas recorrentes na sociedade atual. “Lorca escreveu durante o período de ascensão do fascismo na Espanha, na década de trinta, e foi assassinado por fascistas. Como um homem gay, ele vivia e criava neste contexto. Quase um século depois, nos vemos em um contexto muito semelhante”, reflete a diretora.

Portanto, o espetáculo conscientiza e impacta diretamente aqueles que experienciam essas temáticas em sua vivência diária, abrindo discussões e propondo novas perspectivas. “Esse projeto de investigação artístico-performático é um convite para olhar com mais complexidade para esse projeto político-cultural e religioso que permeia o país. Além disso, uma abertura ao diálogo”, comenta o diretor.

O Rio de Janeiro convive com o crescimento anual da influência do setor cristão, dado o aumento do número de templos, a expansão da programação da tv, e o crescimento da bancada representativa no congresso. Sendo assim, é necessário refletir sobre como esses líderes religiosos ocupam espaços políticos e de celebridade, ditando debates públicos sobre comportamento. “É um ciclo que se repete, de opressão e ascensão de governos autoritários e fascistas que veem nossos corpos como algo a ser eliminado. Então, ‘Irmã Yerma’ é um ato de resistência e amor, tanto para Lorca quanto para os artistas que remontam este trabalho atualmente. É a nossa forma de nos posicionar e dizer que sabemos de onde vem a opressão que nos cerca. Conhecer esta história e conectar essas histórias é importante para não permitir que se repita. Precisamos permanecer alertas e nos posicionando”, a diretora conclui.

SERVIÇO
Local: Teatro Gonzaguinha Endereço: R. Benedito Hipólito, 125 – Centro, Rio de Janeiro
Data: 19 (estreia), 20, 21, 26, 27 e 28 de outubro
Horário: 19h
Local: Teatro Glaucio Gill Endereço: Praça Cardeal Arcoverde, s/n – Copacabana
Data: 2, 9, 16 de novembro, às 20 e apresentação dupla no dia 23, às 18h e 20h
Ingressos
Classificação: 14 anos

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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