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O Jogo da Morte: filme russo surpreende ao entreter e entregar bons momentos de tensão

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Desde a sua invenção, lá atrás, pelos Irmãos Lumiére, o cinema está em constante evolução, sempre andando para frente. No início, os filmes eram mudos. Depois, falados. As películas eram filmadas em preto e branco. Depois vieram as cores. Simultaneamente, aqui e acolá, movimentos foram surgindo e defendendo uma nova forma de se fazer cinema: Neorrealismo Italiano, Nouvelle Vague, Cinema Novo, Nova Hollywood, Dogma 95 e por aí vai. Estas foram algumas das grandes ondas, mas pontualmente e até recentemente, se olharmos pelo prisma histórico, outras mudanças menores ocorreram, também, aqui e acolá.

O Jogo da Morte

Com A Bruxa de Blair, lançando em 1999, ganhou notoriedade um modo de filmar que seria batizado de found footage, onde a intenção era simular o estilo cru de um documentário caseiro. Em resumo: ligue a câmera, aperte o REC e saia filmando o que vier pela frente. O cheiro de novidade no ar, somado ao marketing inteligente que fez muita gente acreditar que aquilo de fato era uma fita caseira, elevaram esta obra aos píncaros do sucesso. No entanto, a fórmula, que nada mais era do que uma ideia espertinha de como repaginar um gênero tradicional, o terror, logo se esgotou, tantos foram os longas que a copiaram.

O longa-metragem russo, O Jogo da Morte, não é um found footage, mas também surfa na onda de outra ideia bastante espertinha, mais recente e, até que se prove o contrário, introduzida por Buscando…, ótimo lançamento de 2018. Aliás, este é um filme quase todo visto a partir da ótica de uma tela de computador, de um tablet ou de um celular. Na “Era da Comunicação Instantânea”, das redes sociais efervescentes, nada poderia soar mais espertinho e modernoso.

Em O Jogo da Morte, Dana (Anna Potebnya) é uma adolescente russa, aparentemente rebelde e descolada, que decide participar do “Jogo da Baleia Azul” depois que sua irmã, Júlia (Diana Shulmina), se suicidou por conta, digamos, desta “brincadeira”. O jogo não é uma invenção do roteiro escrito pela cineasta Anna Zaytseva em parceria com Evgeniya Bogomyakova e Olga Klemesheva. Quem costuma ficar muito tempo à frente de um computador ou assistir noticiários, já deve ter ouvido falar de casos reais em que jovens, como Júlia, se mataram por causa desta “brincadeira” estúpida. O pulo do gato está no desdobramento da história, a busca incessante de Dana por justiça contra aqueles que levaram sua irmã a se matar.

Durante a sua busca, Dana não se revela tão rebelde ou descolada assim. Sua fachada de garota problema esconde uma pessoa tímida e com dificuldade para se relacionar com a mãe que também tem dificuldade em demonstrar este amor e parece preferir Júlia. Assim, a protagonista tem uma única amiga, Vika (Olga Pipchenko), e se mostra alguém desastrada nos assuntos do coração, pelo menos até conhecer Max (Danya Kiselyov), outro participante do jogo, em quem encontrará um aliado no seu pleito por justiça.

Diferentemente de Buscando…, se é que não estou sendo traído pela minha memória em relação a este, no que diz respeito à fotografia, O Jogo da Morte não é visto somente através do prisma dos aparelhos eletrônicos. Há uma ou outra cena realizada da maneira tradicional. Não sei afirmar se houve uma intencionalidade nestas escolhas por parte da cineasta. Se houve, o intuito talvez tenha sido não tornar a obra refém de sua esperteza. Entretanto, se esta era mesmo a intenção, o longa deveria ter um pouco mais de cenas tradicionais.

No campo das ideias, surpreendentemente, o roteiro de Zaytseva e companhia acerta no desenvolvimento da protagonista e da personagem que se revelará a antagonista da trama. O filme é curto, somente 1h34, porém o tempo é mais do que suficiente para que compremos como factíveis as mudanças que ocorrem em seus respectivos arcos dramáticos. Por fim, o desfecho do enredo, apesar de não figurar entre os cem mais surpreendentes da história, é, ao menos, bem amarrado e, a princípio, sem espaço para uma continuação desnecessária.

No final das contas, sem reinventar a roda, mas tentando se descolar, ainda que minimamente, de uma ideia pré-concebida para não parecer mera repetição formulaica, O Jogo da Morte consegue entreter e prender os espectadores na poltrona com alguns bons momentos de tensão. Além disso, para os pais de adolescentes, este filme russo serve também como um alerta: estejam sempre atentos ao que seus filhos estão consumindo na internet.

Desliguem os celulares e boa diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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