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“O que nos Mantém Vivos?” faz temporada no Espaço Sérgio Porto

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“O que nos Mantém Vivos?”, indicado ao Shell “Melhor Direção”, APCA “Melhor Espetáculo” e vencedor Prêmio Deus Ateu “Melhor Atriz” agora chega ao Teatro Sérgio Porto, com estreia no dia 24 de fevereiro.
A peça é estruturada em quatro unidades temáticas: “Todo Dia Morre Gente”, “Deus Acima de Todos”, “Pátria Armada” e “Luta Amada”, com o intuito de se lançar criticamente sobre a ameaça de autoritarismo fascista que tem assombrado o Brasil nos últimos anos.

O que nos Mantém Vivos?
Foto: Priscila Prade

“A partir de 2019, o país mergulha no obscurantismo e logo em seguida é destroçado pela pandemia de COVID 19. Portanto, Brecht havia se tornado ainda mais necessário para nos guiar em meio à escuridão que se abateu sobre o Brasil. Éramos desacatados todos os dias por falas e gestos monstruosos da gente torpe, tosca e assassina que sequestrou a nação para colocar em prática um projeto de poder baseado na destruição de tudo que importa para a vida humana: a saúde, a educação, a cultura, a ciência, as florestas e até as amizades e laços familiares. Era preciso montar uma peça que desse conta de colocar em cena toda a nossa dor coletiva, nossa revolta e também nossa alegria guerreira para enfrentar o dragão da maldade. Foi assim que nasceu ‘O que nos Mantém Vivos?’. Esta era a pergunta mais importante que poderíamos fazer a nós mesmos e ao público”, relata o criador do roteiro, Elcio Nogueira Seixas.

A montagem é uma espécie de continuação de ‘O que Mantém um Homem Vivo?’, clássico dos palcos brasileiros criado em 1973 por Renato Borghi e Ester Góes como obra de resistência à ditadura militar. Brecht foi escolhido pela dupla para driblar a censura da época justamente por sua capacidade de elaborar sua crítica feroz através de estruturas fabulares sofisticadas e, muitas vezes, repletas de humor, que despistaram a vigilância ignorante dos agentes do regime.

Atento ao momento explosivo e não menos decisivo que o Brasil atravessa, o Teatro Promíscuo, companhia fundada por Borghi e Elcio Nogueira Seixas em 1993, buscou em seus arquivos o roteiro original da peça, datilografado em uma antiga Olivetti por Renato Borghi e Esther Góes durante o período mais sombrio dos anos de chumbo para levantar uma nova montagem, que acabou indo para o palco em 2019, com Renato, Elcio e Georgette Fadel se revezando na atuação e na direção, imersos na cenografia arrojada de Daniela Thomas.

O espetáculo causou grande comoção arrebatando plateias, assim como aconteceu com o retorno de “O Rei da Vela” em 2017 (com Borghi novamente brilhando em seu Abelardo I) e de “Roda Viva”, em 2018, cinquenta anos após suas estreias, exatamente por lembrarem ao público que o perigo do autoritarismo está sempre à espreita e que “é preciso estar atento e forte” para garantir a democracia e os direitos conquistados pela sociedade.

“O que nos Mantém Vivos?” foi a pergunta que Renato Borghi se fez ao passar por uma cirurgia no coração pouco antes do começo dos ensaios. “Aquela experiência radical de ter meu coração arrancado e colocado sobre uma mesa fria me deu vontade de colocar meu coração toda noite sobre o tablado para fazer essa pergunta ao público”, diz o artista. E acrescenta: “É uma peça de sobrevivência. Mas não só a minha. A sobrevivência de todos nós como coletivo que somos. Há um mundo organizado em bases desumanas. Bertolt Brecht quer contribuir para sua mudança. Seu teatro é crítico, agudo, lúcido. Ele busca aclarar as contradições do indivíduo no relacionamento social. Brecht é carne, suor e sobrevivência e sua obra é inspirada no ser humano concreto em sua luta diária pelo pão”.

O roteiro é dividido em prólogo, primeiro ato, intermezzo, segundo ato e epílogo, com destaque para duas grandes unidades: “Deus Acima de Todos’, em que são representadas a cena do Pequeno Monge sobre fé e ciência, da peça “Galileu Galilei”, personagem imortalizado por Borghi na montagem icônica do Oficina em 1968, em pleno AI-5 – e um compilado de trechos de “Santa Joana dos Matadouros”, tratado definitivo de Brecht sobre religião e capitalismo, onde o texto foi praticamente todo transformado em música pelo maestro William Guedes e o compositor Jonathan Silva, dialogando com uma linguagem cênica que flerta com a ópera e o blues – e “Pátria Armada”, que traz a história da irresistível ascensão do miliciano Arturo Ui, uma paródia de Hitler e outros ditadores sanguinários construída sob uma linguagem circense, como metáfora ideal para dialogar com a tentativa de golpe de Estado que esteve em curso no Brasil.

“Na nossa versão, Arturo Ui – ainda um quase desconhecido – vai até o camarim de Renato Borghi para ter aulas de teatro, aprender a falar em público, andar, sentar, já que almeja se tornar um grande líder. Enquanto “ensina”, constrói e desmascara o aprendiz aos olhos do público, Renato ensaia, encena e interpreta Abelardo I, criando um duplo de Arturo e fazendo-nos refletir sobre o tempo histórico atual em diálogo com o tempo histórico da montagem do ‘Rei da Vela’, tão marcante na carreira do ator”, explica Rogério Tarifa, diretor convidado pelo Teatro Promíscuo para a encenação.

“A peça é um ato-espetáculo-musical que comemora os 65 anos de carreira do ator Renato Borghi. A peça é uma canção, uma música. É um abraço, um afago, o oxigênio, a arte, o teatro, o trabalho, a revolta, um grito contra o desacato, a comida, a vacina, a ciência, a busca, o nascimento, a troca, o encontro, a amizade, a cura, o outro, a outra ou o que cada pessoa pensa ao ouvir a pergunta que dá título à obra”, acrescenta Tarifa.

A concepção de “O que nos Mantém Vivos” se baseia na busca por uma horizontalidade maior entre a obra e o espectador. O público então é convidado a refletir junto aos intérpretes, por meio dos elementos épicos da dramaturgia e da estrutura permeável da construção do espetáculo, que conta com depoimentos pessoais dos atores sobre suas experiências em relação aos temas evocados pela peça. A música também se coloca como elemento fluido capaz de transportar ideias muito duras ao coração do público de forma afetuosa.

“Queremos criar em cena um transbordamento inacabado, um rascunho visceral, que potencializará o acontecimento do teatro: o encontro dos artistas com a plateia”, finaliza o diretor.

Serviço
“O que nos mantém vivos?”
Local: Teatro Sérgio Porto (Endereço: Rua Humaitá, 163 – Humaitá)
Quando: 24 de fevereiro a 17 de março / Horários: sexta e sábado, às 19h. Domingo, às 18h
Ingressos em Rio Cultura
Classificação indicativa: 16 anos

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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