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Depois da Morte aborda a crença de Deus

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Desde os primórdios, a humanidade caminha meio que norteada por algumas perguntas básicas, normalmente, são questionamentos de fácil formulação, mas de difícil resposta, como por exemplo: Qual é o sentido da vida? Existe um propósito para estarmos vivos ou nossa existência é uma mera reprodução mecânica de hábitos? Muitas dúvidas e olha que a razão da dificuldade na hora de saná-las não é por falta de tentativas, pois há muito tempo filósofos e clérigos se debruçam sobre essas e outras questões. Todavia, a mais intrigante talvez seja a seguinte: existe um Deus todo poderoso, do jeito que creem os cristãos, os judeus e outras denominações religiosas? Responder a esta pergunta é o principal objetivo do documentário Depois da Morte, dirigido pelos cineastas Stephen Gray e Chris Radtke.

Campeão de audiência entre os filmes do gênero, nos Estados Unidos, em 2023, e com uma bilheteria de 11 milhões de dólares, Depois da Morte tem como ponto de partida as chamadas Experiências de Quase Morte (EQMs). Para tentar entender o que é este fenômeno, seus realizadores entrevistaram, meticulosamente, uma gama bem variada de pessoas: médicos, pesquisadores científicos, escritores, religiosos e, claro, aqueles que asseguram terem, ainda que por pouquíssimos minutos, morrido. Os relatos dos que fizeram esta viagem que, a princípio, deveria ser só com passagem de ida são vívidos. Já a intensidade empregada na hora de escolher as palavras, descrever as sensações e detalhar os cenários vistos é de abalar os mais céticos. Desta forma, não é de se estranhar que alguns dos especialistas mostrados tenham sido algum dia descrentes.

Um destes céticos era o cardiologista Michael Sabom. Por volta do começo da década de 70, por intermédio de uma colega de trabalho, ele teve acesso ao livro “Vida Após a Vida”, escrito pelo filósofo e psiquiatra Raymond Moody, criador da terminologia “experiência de quase morte”. Inicialmente, Sabom encarou tudo com enorme descrença. Entretanto, a curiosidade foi maior e ao longo de cinco anos, assim ele realizou uma série de entrevistas com pacientes que ficaram entre a vida e a morte ou que chegaram a ser considerados clinicamente mortos, mas que voltaram para contar o que viram do lado de lá. Esses depoimentos, devidamente catalogados, transformaram o seu ponto de vista e a sua maneira de encarar tal fenômeno. Igualmente descrente era a cirurgiã Mary Neal, que passou a acreditar em vida após a morte depois de quase se afogar. Ela diz ter sentido a presença de Deus.

Os depoimentos mais vívidos e mais intensos, aqueles que empoderam o documentário, foram os prestados por Don Piper e Howard Storm. O primeiro voltava de carro para casa, em uma manhã chuvosa, quando sofreu um acidente. O segundo estava em Paris, de férias, com a esposa e uns amigos, e sofreu uma espécie de colapso até hoje mal explicado. Ambos relatam a sensação de estarem flutuando e de verem, de cima, seus respectivos corpos. O relato tanto de um como do outro prossegue com um passeio que despertou sentimentos opostos. Piper esteve em um lugar que ele garante ser o Paraíso. Estar lá e reencontrar o avô, já falecido e com quem tinha forte ligação emocional, fizeram ele não aceitar muito bem o retorno a este plano. Piper sentia que não pertencia mais a este mundo. De início, sua relação com a família foi um pouco difícil, mas no fim tudo se ajeitou.

Já Howard Storm conta que o lugar para o qual foi mais se assemelhava ao Inferno. Escuro e quente. No começo, achou que estava no corredor do hospital. Só que aí viu alguns homens trajando túnicas pretas. Estes o tratavam com rispidez e o empurravam por uma espécie de túnel. Assim, Storm foi conduzido até a presença de um grupo de anjos. No meio deles estava Jesus e foi Jesus que lhe mostrou como, até ali, ele tinha sido uma pessoa cruel. Apesar de todo o sofrimento sentido naquele instante, sua hora ainda não havia chegado. Ele tinha que voltar e espalhar o amor. O amor mudaria o mundo. Este era o plano de Deus. Storm logo cumpriu o que lhe foi pedido, mas, tido como um fanático religioso, seu relacionamento familiar se deteriorou. É curioso perceber que, mesmo com desfechos diferentes, ambos conservam a fé adquirida naqueles momentos únicos.

Com planos estáticos, o longa-metragem de Gray e Radtke é, no geral, um documentário convencional. Há duas tentativas frustradas de fugir deste panorama. A primeira, fazendo uso de uma fotografia bastante escura, talvez com o intuito de emular a escuridão que advém do último sopro de vida. A segunda, mesclando suas entrevistas com algumas poucas cenas de dramatização. Apesar do insucesso, no cômputo geral, nada disso representa um problema significativo, pois a grande força de Depois da Morte reside mesmo em sua mensagem. Lá pelas tantas, ao afirmar que as Experiências de Quase Morte (EQMs) são onde a ciência e a religião se encontram, a obra não tem vergonha nenhuma em assumir sua faceta proselitista e catequista. Ao final da sessão, após os créditos, ainda há tempo para uma breve aparição dos diretores e de outros envolvidos falando sobre a importância que o filme pode desempenhar na vida das pessoas.

Desliguem os celulares e boa diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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