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Zona de Exclusão: Um drama de guerra contemporâneo e sua fábrica de horrores

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Aos 75 anos, Agnieszka Holland ainda parece uma jovem diretora com suas ideias em frequente ebulição. Uma das provas disso é a estreia de Zona de Exclusão, o candidato da Polônia ao último Oscar de filme internacional, um filme que tem muito a dizer. Não podemos negar que falte vigor ou conexão emocional com o que está sendo contado, e o ritmo que está impresso na tela é invejável, são duas horas e meia que só assinalam novos pontos de tensão à narrativa. O espectador é hipnotizado pelo que está sendo assistido, e muito rapidamente o drama de guerra contemporâneo se transforma em uma fábrica de horrores, quase assumindo o gênero como mola propulsora da produção.

Indicada ao Oscar há mais de 30 anos pelo roteiro de um de seus melhores filmes (Filhos da Guerra), Holland já há alguns anos parece ter adquirido um apreço pela falta de sutileza. Em Zona de Exclusão, o tanto de tensão provocada se dá também pela ausência quase absoluta de humanidade em grande parte dos personagens do filme, onde o filme não provoca um contraponto ao mal. Acredito de verdade no que a produção aponta como ações perpetradas de par a par entre seres humanos. O que aborta as intenções do filme é o fato de que é apenas isso que vemos durante todo o projeto, sem criar um vínculo de reflexo entre as imagens propostas. É, certamente, só o horror pelo horror.

Pelo tanto de comunicação que o filme apresenta com a nossa realidade, grande parte dos espectadores irá acolher a produção. Particularmente, creio que Holland provoca um sufocamento de suas ideias pelo excesso. Tudo em Zona de Exclusão segue uma cartilha de show de horrores que conseguem fazer acessar certos gatilhos, que tem como finalidade promover seus predicados como realizadora. Como autora do roteiro, o que testemunhamos é um campo repetitivo de horrores, causando um questionamento a respeito dos motivos pelo qual tudo aquilo acontece. Que tipo de denúncia é válida enquanto só vemos o vilipêndio de corpos na floresta que separa a Polônia de Belarus?

Não se trata de “ser um filme pesado e eu sou contra misantropia”; a situação é mais complexa do que isso. Narrativamente, Zona de Exclusão é um filme que não apresenta contraponto ao seu ponto, logo acompanhamos um enorme périplo de sofrimento, depressão e desfile das piores características humanas sem que um outro lado seja mostrado, para nenhum núcleo. Todos os imigrantes sofrem muito e estão condenados a somente isso, e quem não o é, ou provoca esse flagelo (a maioria, na verdade), ou está condenado a assistir ao horror. Que no clímax algum posicionamento oposto seja tomado, é muito pouco para tirar da produção um grau de sadismo que o cinema não precisa para propagar uma ideia.

A fotografia em preto e branco torna tudo ainda mais carregado, sem espaço para respiro. Aliás, a maior parte das decisões estéticas e narrativas aqui aprisionam o filme em uma mesma nota de repetição, e a produção – mesmo sendo dividida em três universos que se esbarram – parece andar em círculos. E por mais que se acredite em atrocidades provavelmente ainda mais estarrecedoras acontecendo em tais lugares, o excesso de dramaticidade em grau máximo me faz lembrar Preciosa. Quando todos os piores eventos acontecem com o mesmo grupo de pessoas ininterruptamente, o espectador em determinado momento recebe as informações anestesiado, inerte diante da falta de dosagem.

Vencedor de prêmios ao redor do mundo, incluindo o Especial do Júri no último Festival de Veneza (onde exibiu um certo favoritismo), Holland será muito celebrada por esse seu novo filme. Mas existem certos limites que não precisam ser ultrapassados, exatamente para credibilizar as criações das obras, e não no relato da realidade. Zona de Exclusão é sem dúvida um filme bem dirigido, forte e impactante, mas não existe excesso sem cansaço. Saímos da sessão exaustos e com a certeza de que muito mais efetivo seria um filme menos agudo, onde sua carnalidade fosse construída não apenas pela imagens, mas também pela sugestão. Típico erro cometido dentro do cinema pornô, uma classificação bem propícia aqui – a pornografia do horror.

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