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Bandida é uma experiência intensa de uma personagem tão cheia de camadas

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João Wainer está construindo sua carreira com muita calma, e tentativas sinceras de esmero. Dos documentários Pixo e Junho: O Mês que Mudou o Brasil até hoje, algumas possibilidades foram plantadas no trilho de conquistar não apenas um lugar ao sol na seara da realização, mas que esse lugar não seja leviano. O lançamento de Bandida: A Número Um, filme que tenta estrear há algum tempo e agora encontra seu momento, é a concretização desse movimento na direção de algo substancioso no ofício, que acaba trazendo ainda mais promessas para si. Por enquanto, esse crescimento exponencial de suas qualidades continuam apresentando movimento contínuo de superação, o que vemos aqui impressiona.

Bandida

Não apenas pela apresentação de seus atributos, mas pela concepção do que está sendo mostrado. Ambientado em três décadas, Bandida: A Número Um se cerca de dispositivos que nos aludem a um período que já foi extinto pelo audiovisual, mas que aqui volta à vida de muitas maneiras. E isso já é evidenciado com força em sua abertura, quando testemunhamos um intenso tiroteio e todos esses elementos de outros períodos explodem na tela. A abertura aqui é uma carta de apresentação das mais contundentes, porque expõe na tela muitas das texturas estéticas que veremos ao longo de sua projeção, sem intoxicar a narrativa, estão dispostos ali os mecanismos que vão alicerçar tudo o que veremos.

Sem se tornar refém de seu campo imagético, Bandida: A Número Um apresenta um cuidado com o detalhamento que ele mesmo propõe que produções grandes não conseguem bancar a contento, hoje. Mais uma vez reiterando que não se trata apenas de conseguir alcançar os lugares que almejou, mas simplesmente a ideia de construir tais lugares estéticos, que não passam exatamente por uma espécie de exploração. A pesquisa pelo campo proposto passa pela lógica dos programas de TV sensacionalistas que Gil Gomes preconizou, por um olhar generoso pela captura de imagens através de câmeras BETAMAX (que o filme resgata em cena), por alguma textura do surgimento da cultura do videoclipe. São referências muito preciosas e que não atropelam o andamento do roteiro para o exibicionismo formal.

A fotografia de Miguel Vassy é um exemplo de como tais elementos estão em confluência de ideias. O profissional é um dos mais brilhantes fotógrafos do cinema brasileiro contemporâneo, com brilho excepcional em obras como Sertânia, Breve Miragem de Sol, Jovens Polacas e Transeunte. Aqui em Bandida, o artifício mais uma vez rasga suas imagens para compor um painel de textura ambiciosa, porque relaciona seus personagens com o mundo e a época onde vivem. Além disso, a edição de Cesar Gananian casa à perfeição com essa construção estética de luzes quentes e que eventualmente estouram na tela, porque cortam os efeitos estroboscópicos eventuais presentes no todo. Além de alcançar ritmo invejável para uma produção que, em tese, trata-se de um campo biográfico sendo apresentado.

Nesse sentido, a concisão de Bandida é invejável. Não lembro, na História recente, de um filme ter apresentado tanto a respeito da essência de alguém em apenas 90 minutos. Isso mostra o trabalho incessante do trio de roteiristas, no qual Gananian também participa, e da ideia de oferecer ao espectador uma experiência intensa e muito focada a respeito de uma personagem tão cheia de camadas. Sem perder a mão, as possibilidades de perder-se eram imensas, e o filme escolhe um recorte muito específico da jornada de nascimento e descoberta de uma personalidade ímpar, e pouquíssimas vezes vista. Uma mulher em pleno controle de seus atos, realizando todos os movimentos que a fazem avançar em suas decisões, e nunca deixam de lado suas construções emocionais.

No elenco, uma centralidade jovem (formada por Maria Bomani e Jean Amorim) é equilibrada com um elenco experiente, onde se destacam Milhem Cortaz, Wilson Rabelo e Natália Lage. O trabalho pesado, no entanto, está reunido em torno desse time jovem, de idade e de experiência, que contribuem com sua jovialidade cênica para o campo geral. A química entre Bomani e Amorim, por exemplo, é o pilar de Bandida e depende dele que compremos grande parte das ações, desde o primeiro acorde de ‘Deslizes’, que resgata a força de Fagner para a MPB. São campos de muitas ordens que acabam criando um produto dos mais afinados em execução recente; tudo parece funcionar como um relógio em uma produção cheia de riscos. Felizmente, o saldo ultrapassa qualquer positividade imaginada.

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