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Pasárgada: Dira Paes estreia na direção com poesia e timidez

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Pasárgada

Uma das grandes atrizes do cinema brasileiro contemporâneo, Dira Paes revela a pessoalidade de sua estreia como diretora e roteirista nas cartelas finais de Pasárgada, dedicando o filme aos seus pais e filhos e aos cineastas John Boorman e Walter Lima Jr., que deram as primeiras oportunidades para ela trabalhar no cinema, em A Floresta das Esmeraldas (1985) e Ele, o Boto (1987), respectivamente. Com isso, ela revela duas inspirações indiscutíveis da sua primeira aventura no cinema — uma aventura bonita, porém tímida.

Assim como A Floresta das Esmeraldas, Pasárgada retrata a tensão entre forças estrangeiras e a natureza amazônica, vítima de exploração. A relação da ornitóloga Irene (Dira Paes) com seu chefe Peter (Peter Ketnath) é conturbada desde a primeira cena: ele exige a liberação dos certificados necessários para traficar pássaros para fora do Brasil, ela reage com visível desconforto. Ele, estrangeiro e impositivo; ela, brasileira e acuada. Uma relação a dois que ilustra, em âmbito maior, o colonialismo e a exploração ilegal da Amazônia — temas que também são criticados no filme de John Boorman.

Pasárgada partilha muitas semelhanças com Eu, o Boto também. O protagonista do filme de Walter Lima Jr. vive um encantamento com a natureza, retratado como um lugar de magia e mistério. Em Pasárgada, a floresta serve de palco para uma jornada sensorial e de autodescoberta de Irene, que busca redescobrir seus desejos. Ambos os filmes exploram a natureza como um espaço de transformação íntima e libertação, como fica evidente no final. Dira Paes age de modo tão consciente que a Ivana de Pasárgada é a Tereza de Eu, o Boto: a atriz Cássia Kis.

Portanto, Pasárgada ecoa o tom introspectivo e ambiental de Eu, o Boto, ao passo que traz uma crítica ao impacto humano sobre a natureza, assim como A Floresta das Esmeraldas. Assim, Dira Paes se aventura na direção remetendo à sua primeira aventura como atriz (uma boa sacada), num retorno à Amazônia celebrado de forma mais autoral, pessoal e sensorial na relação com a natureza. Por isso, afinal, ela própria dá vida a Irene.

Isso resulta num belo filme, com coisas a dizer e um toque de poesia, no qual a libertação de Irene em seu voo final, quando ela abraça uma conexão plena com a natureza, representa o (novo) momento de vida de sua intérprete, agora cineasta, e numa atuação emocionada e performática. Apesar dessa bela emulação do poema de Manuel Bandeira, vejo a trama se desenrolar hesitante, com uma lentidão excessiva, sem que o seu ritmo contribua narrativa ou dramaticamente, soando como mero vício do cinema de arte. O romance é insosso. O tema central do filme — uma denúncia — destoa bastante da singeleza estética da obra. Dira tem boas ideias e já sabe o que fazer com suas referências, mas carece de experiência da diretora.

Raramente um longa-metragem de estreia é o melhor de um diretor e roteirista, por uma série de motivos. Em geral, os mais bem-sucedidos passaram anos construindo uma carreira em curtas-metragens, moldando seu próprio cinema e levando suas referências para a longa duração. O cineasta independente que lança de cara um filme de 90 minutos precisa depurar bastante suas inspirações cinematográficas (uma inevitabilidade) para realizar de cara uma obra coesa e autoral, pois é muito comum vermos o contrário: uma salada de cinemas alheios mal articulados entre si, principalmente em estreias.

Rodrigo Torres
Rodrigo Torreshttps://rodrigotorrex.wixsite.com/rt-port
Formado em Letras para servir bem à comunicação e ao jornalismo. Crítico membro da Abraccine e filiado à Fipresci.

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