- Publicidade -

Sorria 2: Uma obra criativa, cheia de jump scares

Publicado em:

Ninguém tinha a menor dúvida de que, ao faturar 200 milhões de dólares, somente em bilheteria, o longa-metragem Sorria, dirigido e roteirizado por Parker Finn, teria uma sequência. A despeito do que a crítica possa falar ou escrever, bem ou mal, produções lucrativas são sempre exploradas ao máximo. O plano é esgotar o filão e depois, quando ele não tiver mais nada a oferecer, passar para a próxima boa ideia. Que assim seja!

A franquia agora composta por dois filmes, o original, de 2022,  e Sorria 2, de 2024, de fato era uma boa ideia. O que muita gente tinha dúvida, inclusive eu, era como Finn, mais uma vez responsável pela direção e pelo roteiro, trabalharia o mote da sua história sem parecer mera repetição de situações já mostradas anteriormente e soar cansativo. 

Para quem não assistiu ao primeiro longa, um aviso importante: a trama de Sorria 2 se inicia exatamente seis dias depois dos acontecimentos vistos em Sorria. Assim, para àqueles que estão caindo de paraquedas nessa produção, talvez faça falta algumas explicações que foram dadas previamente, de qualquer jeito, não é impossível ver a segunda parte sem ter assistido à primeira. Na nova trama, o policial Joel (Kyle Gallner) tenta se livrar da maldição herdada de sua amiga, a médica Rose (Sosie Bacon). O plano não sai precisamente como o arquitetado e, por vias tortas, a maldição chega até Skye Riley (Naomi Scott), uma diva da música pop que está tentando retomar sua carreira e iniciar uma turnê após um grave acidente. 

Fios condutores dos dois filmes, Rose e Skye possuem uma particularidade em comum: são pessoas que carregam um grande trauma. A médica, ainda criança, viu a mãe cometer suicídio na sua frente. A cantora, já adulta, perdeu o namorado, um famoso ator, em uma batida de carro em que ela própria estava envolvida. É nesta semelhança que reside a boa ideia de Parker Finn. Como percebemos ao longo das duas tramas, a tal maldição, na verdade, uma criatura maligna, não é a única fonte da dor que acomete as protagonistas. Na realidade, da mesma maneira que uma infecção se alimenta da nossa baixa imunidade, a criatura se alimenta dos traumas prévios das suas vítimas. Quando mais fragilizadas, mais sucetíveis estas estão ao seu domínio. 

Boas ideias não são necessariamente originais. Alguns leitores podem e devem ter se lembrado de um filme chamado Corrente do Mal, lançado em 2014. Na obra de David Robert Mitchell, uma força, igualmente maligna, persegue e mata jovens. A sua forma de transmissão? O sexo. Ou seja: uma infeção e uma doença venérea. Dois exemplos de como os filmes de terror podem de forma lúdica tratar e alertar para males reias, que não possuem nada de sobrenaturais. A diferença está no modo como cada um dos diretores trabalhou as suas ideias. Em Corrente do Mal, longa-metragem que, aliás, adoro, há uma sutileza que, sinceramente, não vejo em Sorria 2 ou na franquia como um todo. 

A apresentação e a fixação da ideia e do mote de Parker Finn é feita com competência. Em Sorria 2, especificamente, esta é realizada com o auxílio das músicas de Skie que versam sobre a sua própria confusão mental devido ao trauma. Feito isso, o passo seguinte é mergulhar em uma espiral de jump scares que só se justifica se você for adepto do susto pelo susto. Finn é um cineasta com bastante potencial. Dá para ver como, da obra de 2022 para a de 2024, sua direção evoluiu. Tendo isso em mente, dá para reconhecer também a existência de algumas cenas muito boas como, por exemplo, uma ocorrida no apartamento da protagonista perto do desfecho da história. E é curioso como esta cena remete instantaneamente a outra vista antes, em um ensaio para a turnê. Todavia, falta equilíbrio na hora combinar essas cenas com tantos sustos. 

Sorria 2 tem outros acertos ainda dignos de nota. Muito da trama acontece em sonhos, ou melhor, em pesadelos. Na maior parte do tempo, logo fica claro o auê é real e o que é pesadelo, porém, há uma parte que Finn consegue manter em suspense até quase os minutos derradeiros e aí nos surpreender com uma revelação bem orquestrada. Além disso, o último frame também é muito bom e dotado de um gancho que pode perfeitamente ensejar uma nova sequência. Contudo, como escrevi no parágrafo anterior, todos estes acertos e mesmo as boas cenas, haja vista as supracitadas, seguem perdidos em meio a tantos sustos. E aí acaba que o resultado é uma obra interessante, criativa, mas, no cômputo geral, um pouco cansativa. 

Desliguem os celulares e boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -