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TERRIFIER 3: Um filme de Natal aterrorizante

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Com o passar do tempo, a frase, “nada se cria, tudo se transforma”,  de autoria do químico francês Antoine Lavoisier, foi adaptada pela sabedoria popular para algo mais simples e direto como “nada se cria, tudo se copia” e aplicada a diversos campos da vida. Um dos campos onde tal formulação é bastante utilizada, sem dúvida alguma, é o artístico. Quantas e mais quantas ideias foram repaginadas sem que os seus usos não se configurassem em um mero simulacro ou plágio? Quando o primeiro filme da franquia “Terrifier”, em 2016, estrelada por Art The Clown, o cineasta Damien Leone, de uma vez só, atualizou a ideia do palhaço assassino, presente na crônica policial dos Estados Unidos e imortalizada pelo romance de Stephen King e por alguns filmes produzidos posteriormente, como concebeu um assassino serial que flerta com Jason Voorhees, o protagonista de “Sexta-feira 13”,  na questão da amplificação dos seus “poderes” no desenrolar de suas histórias. Nada de novo no fronte, diria um amigo, mas permeado de um frescor próprio desta “nova” ideia. De novo o tempo passou, o segundo capítulo foi lançado em 2022 e, agora, chega aos cinemas brasileiros “Terrifier 3”, onde reencontramos Art mais aterrorizante do que nunca. 

Terrifier 3

A trama deste novo capítulo começa cinco anos após os acontecimentos do último filme. Traumatizada, Sienna (Lauren LaVera) está em uma clínica psiquiátrica. Já o seu irmão, Jonathan (Elliott Fullam), mal ou bem, conseguiu prosseguir com sua vida e está na universidade, mas não sem alguma sequela. Sempre que alguém tenta falar sobre o que ocorreu no Condado de Miles, o rapaz se mostra desconfortável e desconversa. Com a proximidade do Natal, ela recebe alta para passar as festas de fim de ano na casa dos seus tios, Greg (Bryce Johnson) e Jessica (Margaret Anne Florence). Ele também quer aproveitar o feriadão, no caso, revendo a irmã. E neste exato momento, Art (David Howard Thornton), coincidentemente ou não, reaparece aterrorizando uma infeliz família que nunca mais será a mesma. Assim como fez no filme dois em relação ao um, no ínterim deste percurso inicial, Leone apresenta uma cena que linka o terceiro longa-metragem com o segundo e explica, mais uma vez, o ressurgimento do palhaço. 

Extremamente popular nos anos 80, os filmes de terror do subgênero slasher, volta e meia, ressurgem com força e bastante impacto. Em meados da década de 90, o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson apresentaram aos fãs de Jason Voorhees e companhia, Ghostface, o assassino mascarado protagonista da série fílmica “Pânico”. Tanto a primeira como as demais produções da franquia fizeram um enorme sucesso e preencheram uma lacuna que se encontrava vazia. Tal lacuna estava, novamente, vazia, desta forma, quando “Terrifier” foi lançado o resultado não tinha muito como ser diferente, pois a criação de Leone preenchia perfeitamente todos os pré-requisitos do subgênero: um serial killer sem um propósito claro, mortes do início ao fim, tripas e órgãos voando para todos os cantos e sangue, muito sangue farsesco, daqueles evidentemente falsos de tão vermelho, mas que consciente ou inconscientemente optamos por relevar. E se relevamos é porque sabemos que a proposta aqui, muito mais do que assustar, é divertir o público por meio do exagero e do gore. 

O orçamento à disposição de Leone foi crescendo com o sucesso comercial dos longa-metragens. Em 2016, foram 35 mil dólares; em 2022, 250 mil; e, agora, dois milhões. Se somarmos os três não chega ao valor que Craven teve em mãos só no seu primeiro filme: 14 milhões de dólares. Esta discrepância serve apenas para enaltecer os méritos de “Terrifier 3”, porém gerou alguns contras. Apesar de ser visível como os efeitos e a maquiagem ficaram melhores com mais dinheiro, o cineasta repetiu a mesmíssima pegada dos demais capítulos da franquia. E aí o exagero e o gore, que sempre estiveram presentes na maneira como são mostrados cada um dos crimes perpetrados por Art, ganharam detalhes mais nítidos e alongaram as cenas. Com um orçamento menos enxuto, qualquer realizador pode atentar mais para certas particularidades, no presente caso, por exemplo, um excesso de olhos esbugalhados. Consequentemente, esse sadismo divertido, segundo as notícias, acabou sendo um incômodo para algumas pessoas e a duração do filme também não foi muito bem recebida. 

Quando apontei lá atrás a existência de um frescor nesta “nova” ideia, eu estava me referindo, precisamente, ao personagem principal, Art The Clown. Mais do que um palhaço assassino, ele é um mímico igual àqueles que esbarramos na rua, ou melhor, em um velho filme de Charles Chaplin ou Buster Keaton: engraçado sem dizer uma palavra sequer. Como escrevi anteriormente, “Terrifier 3” e seus irmãos tem a proposta de divertir por meio do exagero e do gore, mas não é somente através disso. O protagonista é capaz de fazer caras, bocas, jeitos e trejeitos hilários e uma tomada sanguinolenta pode muito bem terminar com ele se preocupando em não deixar uma louça suja na pia. Art, como tudo na franquia, é criação de Damien Leone, mas, provavelmente, não existiria sem a colossal atuação de David Howard Thornton.

Para encerrar, preciso fazer uma confissão. Fui assistir à “Terrifier 3” sem ter visto antes o dois. A razão é que eu não tinha curtido tanto o primeiro longa. A verdade é que alguns filmes, às vezes, não são apreciados de primeira, da mesma maneira que outros perdem um pouco do encanto quando revistos. E foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. Após ver e adorar o terceiro capítulo da franquia, que classifico desde já como o mais divertido e aterrorizante filme de Natal produzido até hoje, revi o um e, finalmente, assisti ao segundo. E o resultado, para mim, não poderia ter sido melhor. Estou no aguardo do quarto filme. Sim, do quarto, pois, no desfecho, Leone plantou um gancho claríssimo para pelo menos mais uma obra. 

Desliguem os celulares, hohoho, e ótima diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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