Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra? aborda a diferença de gerações

Pré-indicado ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional, o longa-metragem tailandês Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra?, com direção de Pat Boonnitipat, segue uma antiga tradição de produções e coproduções orientais sobre famílias ou relações pessoais, muitas vezes disfuncionais, mas que por caminhos tortos acabam encontrando um destino repleto de ternura. Estas obras são dotadas de um leve sabor agridoce que, tal qual um delicioso Guo Bao Rou (iguaria conhecida por aqui como porco agridoce), aguça o nosso paladar e saboriza o final da história. Receita popular nos restaurantes de cozinha oriental, ela também costuma obter sucesso nas mostras de cinema, o que faz desta uma escolha inteligente para representar a Tailândia na maior premiação cinematográfica do mundo. 

O filme, com roteiro escrito pelo cineasta em parceria com Thodsapon Thiptinnakorn, traz a história de M (Putthipong Assaratanakul), um jovem que largou os estudos para tentar ganhar a vida como gamer. Sua rotina diária é jogar, participar de lives e ser cobrado pela mãe, Sew (Sarinrat Thomas), por não produzir nada de bom. Um dia, quando Agong (Phichai Prommate), avô da sua prima Mui (Tontawan Tantivejakul) falece e esta herda a casa dele, o rapaz decide assumir os cuidados da avó, Amah (Usha Seamkhum), que está gravemente doente, com a esperança de também herdar a residência desta. As motivações do protagonista não soam nada nobres, porém, como escrevi antes, há caminhos tortos que levam até a ternura. 

A partir do momento que o protagonista vai morar com a avó, o tempo passa de forma cada vez mais lenta. Boonnitipat procura desnudar cada canto da velha residência da família com bastante calma. A sensação alcançada é de como se fizéssemos parte daquele mundo e habitássemos aquele imóvel. De início, a senhora estranha, pois o garoto nunca a visitava. Só que a sua expressão taciturna vai desanuviando aos pouquinhos diante da personalidade jovial do neto. Ele também passa por uma mudança. No começo, M está pouco à vontade e precisa dos conselhos de Mui para se adaptar a esta nova dinâmica. Só que, igualmente aos pouquinhos, ele vai gostando de estar ali e se apegando a cada detalhe. 

Inicialmente repleta de segundas intenções, a aproximação de M não passa despercebida para o público, muito menos para nenhum dos demais personagens. A avó estranha, mas leva um tempinho para verbalizar e questionar o jovem. Da mesma maneira, os seus tios, tanto o rico e bem-sucedido Kiang (Sanya Kunakorn), quanto o endividado e fracassado Soei (Pongsatorn Jongwilas), estranham. Deste modo, ocorre uma polarização entre M e Kiang pela atenção da matriarca, acentuando, assim, as disfuncionalidades daquela família que está no centro das ações do filme “Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra?” e da trama. Esta, por sinal, ao começar e terminar com cenas semelhantes e no mesmo lugar, obedece ao conceito de que a vida é cíclica e fadada a ter um começo, um meio e um final inexorável. 

Estreia cinematográfica de Boonnitipat, Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra?, repito e friso, segue uma antiga tradição de produções e coproduções orientais com um leve sabor agridoce, onde se destacam, mais recentemente, obras do naipe de “Assuntos de Família” (2018), de Hirokazu Kore-eda, “Vidas Passadas” (2023), de Celine Song, e “Dias Perfeitos” (2023), de Wim Wenders. Um ponto de interseção entre estes três filmes citados é o fato de que todos, sem exceção alguma, foram indicados ao Oscar. Em breve, quem sabe o longa-metragem tailandês não seja o próximo a fazer parte deste grupo? 

Desliguem os celulares e ótima diversão.