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Paulo Betti faz um 360° de seu processo criativo

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A televisão brasileira aprendeu o que era plano-sequência (uma frase audiovisual sem cortes) com “Os Homens Querem Paz”, especial de TV sobre o cangaço, projetado na “Terça Nobre”, em 1991, que tinha como protagonista o paulista Paulo (Sérgio) Betti. Sua atuação à la Gary Cooper (com temperos marxistas) marcou época. Pouco antes, ele foi o atrapalhado Timóteo, de “Tieta”, hoje de volta à telinha, no “Vale A Pena Ver De Novo”. Naquela época, ele bombava nos palcos, sobretudo na Casa da Gávea, templo artístico na Zona Sul carioca, e virou um dos pilares da Retomada, termo usado para a reconstrução da produção cinematográfica nacional entre 1995 e 2010.

“Lamarca” (1994) e “Mauá – O Imperador e o Rei” (1999) fizeram dele uma das pedras fundamentais de uma indústria que voltou a (a)firmar sua excelência nas salas de projeção do Brasil e do exterior. Sucessos aos montes vieram depois, como o Téo Pereira da novela “Império” (2014-2015), somados a performances antológicas em teatros de todo o país. Rodou ainda os longas “Cafundó”, em 2005, e “A Fera na Selva” (com Eliane Giardini e Lauro Escorel) em 2017. Tanto trabalho, revertido em um baita êxito, deu numa peça… que deu em livro. O espetáculo, “Autobiografia autorizada”, estreou em março de 2015 e correu o país, indo parar em Portugal e Angola. O livro, derivado dela, numa edição luxuosa da Geração Editorial, ganha noite de autógrafos nesta segunda, às 18h30, na Livraria Janela do Shopping da Gávea. 

Paulo Betti

“Já vamos para a primeira reimpressão, pois no pré-lançamento, na Amazon, vedemos uns 700 exemplares. É um resultado forte que não vem do acaso, pois eu tenho pelo menos umas sete listas de contatos de whatsapp e uns 20 mil e-mails. Fiz questão de mandar um recadinho para cada um”, orgulha-se o ator, nascido no município de Rafard (SP), em 8 de setembro de 1952, e criado em Sorocaba, onde iniciou uma vivência profissional admirada. Num papo com o Rota Cult, Betti faz um 360° de seu processo criativo. 

Você não chamou jornalistas ou escritores profissionais para fazer a sua biografia, numa opção de estruturar o livro você mesmo, a partir de uma peça homônima que roda o Brasil há uma década. Como foi esse processo de escrita?
Paulo Betti
– Eu tenho uma biografia anterior, precoce, “Paulo Betti: Na Carreira De Um Sonhador”, esta, sim, escrita por uma jornalista, a Teté Ribeiro, que o fez quando eu tinha uns 50 anos. Quando eu decidi que queria fazer um monólogo, há cerca de uma década, eu percebi que escrevi a minha vida toda, e não só diários. Sempre fui um anotador compulsivo e eu tive uma coluna semanal num jornal de Sorocaba, a minha cidade, que tirava uns 30 mil exemplares ao dia. Seria uma bobagem não aproveitar esse material. O livro, certamente, é o monólogo aumentado.  

 O que essa revisão histórica (e literária) de sua trajetória revela sobre a sua vivência na arte? 
Paulo Betti
– Como todo ator de carreira longeva, eu queria fazer um monólogo, por ser mais prático em relação à agenda do elenco, uma vez que só tem uma pessoa – no caso, eu – em cena. Decidi que faria algo em homenagem à minha ancestralidade. Levo esse espetáculo pelo país há quase dez anos e, agora, quero que o livro circule, e fique. O maior desafio de escrever um texto autobiográfico é passar por cima de pudores. O primeiro foi me perguntar por que a minha infância e a minha adolescência mereciam ser contadas, no palco e, agora, em texto publicado. Fiquei buscando as razões. Nasci numa senzala, pois os imigrantes italianos que vieram para cá, na virada do século, depositaram-se em espaços que antes eram dos povos escravizados. Aos três anos, fui morar num quilombo numa região onde 95% dos moradores eram pessoas negras, com quem aprendi muito. Eu sou o filho caçula temporão de uma empregada doméstica que teve 15 crianças. Eu nasci quando ela já estava com 45… nos 45 do segundo tempo, literalmente. Meu irmão mais moço é dez anos mais velho do que eu. O único ali que estudou fui eu, logo sou depositário de muitas histórias.    

Na História do Brasil, a mais recente, você tem uma militância aguerrida pela democracia. Você sempre teve uma corajosa postura política de enfretamento da direita, sobretudo nos anos Bolsonaro. Como vê o atual governo? Está feliz com a gestão atual na presidência?
Paulo Betti
– Estou satisfeito, sim, e me sinto satisfeito também em ver o trabalho da Janja, uma Primeira Dama atuante, praticante, que pensa a nossa cultura. Estou muito mais esperançoso hoje do que estava antes, pois basta comparar o ser humano Lula com o ser humano Bolsonaro. Lula aguentou o tranco, ficou e lutou. Aliás, basta você pensar um aspecto, hoje, nós temos ministério da Cultura. Além disso, mais importante ainda: a Ministra da Cultura é uma mulher preta! É, certamente, motivo para termos mais esperança!  

O que a peça “Autobiografia Autorizada”, da qual seu livro se deriva, já te revelou sobre as plateias brasileiras neste momento de teatros cheios, pós-pandemia? 
Paulo Betti
– Eu estou em cartaz com “Os Mambembes”, correndo o Brasil com apresentações em praça pública para três mil pessoas. O teatro se mostra insubstituível no desejo de comunhão coletiva, no ato sagrado do encontro. Eu sinto que o cinema também pode estabelecer essa relação, mas ele depende de mecanismos técnicos, ligados à projeção. Teatro, como dizia (o diretor e pensador) Peter Brook, consegue se fazer com uma pessoa sentada na plateia e uma pessoa em pé, diante dela, no palco. Por isso mesmo, o cinema merece e precisa ser protegido, com dispositivos como a lei de cota de tela, sobretudo por conta da dominação americana maciça.

A arte cinematográfica é de suma importância da construção da identidade de um povo. Daí a alegria que eu sinto diante de um filme como “Ainda Estou Aqui“, que lota salas ao resgatar um caso tão importante como o episódio do sumiço do (engenheiro e ex-deputado) Rubens Paiva. Fico mais contente ainda por eu ter dirigido uma adaptação do livro “Feliz Ano Velho”, escrito pelo filho dele, o Marcelo Rubens Paiva, no teatro.   

Falando da produção cinematográfica, durante a covid-19, você embarcou no projeto de estreia de Caio Blat como realizador, o longa-metragem “O Debate“, mas não vimos mais você nas telonas, em títulos inéditos, depois daquele filme. Como anda sua relação com o cinema? 
Paulo Betti
– Tenho um filme para estrear, chamado “Loucos Amores Líquidos”, dirigido por Alexandre Avancini, que fala de brasileiros de origem italiano que saem busca de sua ancestralidade.  

Fora esse filme, o que temos de planos para 2025?
Paulo Betti
– Quero continuar com o meu monólogo e com “Os Mambembes” e quero dirigir “A Canção Brasileira – O Filme”, sobre a opereta de 1933 a partir da pesquisa do diretor Luiz Antônio Martinez Corrêa (1950-1987) sobre ela. Sobre TV, não tenho nada fechado, mas eu gostaria muito de fazer uma novela que tratasse de temas que as pessoas falam hoje e do modo como falam. Rodando o país com “Os Mambembes”, eu me deparei com uma discussão entre pessoas que não conheço sobre a Lei Rouanet que ilustra muito como o Brasil se vê. Isso deveria estar na tela.  

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