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“Bent” expõe o horror homofóbico num libelo romântico

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Dirigida por Luiz Furlanetto numa taquicardia de perigo imediato, com riscos contínuos a seus protagonistas, a atual montagem de “Bent”, no Teatro Vannucci, sublinha com inteligência a dimensão ultra romântica de um texto encenado pela primeira vez em Londres, em 1979, com sir Ian Mckellen (o eterno Gandalf). Filmada por Sean Mathias, em 1997, numa adaptação coroada com o Prix De La Jeunesse na Semana da Crítica do Festival de Cannes, a peça ganhou esse título em referência à gíria europeia que designa homossexuais. Foi batizada assim num empenho de flagrar violências históricas sofridas pela comunidade queer, sobretudo durante o jugo hitlerista, a partir de 1934. Seu autor, o americano da Filadélfia Martin Gerald Sherman, é um cronista de corpos em condição de vulnerabilidade sob a prática da intolerância, sobretudo gays e judeus.

 Suas peças de sucesso, como “Rose” (1999) e “Gently Down The Stream” (2017), falam de vivências vetorizadas por exclusões ou agressões, seja na luta contra a homofobia ou o antissemitismo, arranhando muitas vezes uma estrutura narrativa de painel de época. Seu olhar sobre os campos de concentração nazistas ganhou, no tempo, o viés de metáfora, usando os espaços de contenção gerido por forças de Hitler como signo do silenciamento da população LGBTQIAPN+. Sua releitura brasileira de 2025 expõe como esse simbolismo pode representar os homicídios contínuos de gays e lésbicas neste país, num gesto de alerta. 

Realizado por Hermes Frederico (idealizador da montagem ao lado de Gustavo Rodrigues da Procenium Produções Artísticas e de Augusto Zacchi), o “Bent” de Furlaneto se apoia numa cenografia funcional, de poucos elementos, para recriar a Alemanha perfumada a pólvora dos anos 1930. Nela, o jovem Max (Daniel Dalcin, em delicada atuação) leva uma rotina hedonista sob os lençóis, com múltiplos amantes, a despeito do carinho que recebe de seu companheiro, Rudy (Pedro Marques). Quando o cerco do nazismo se amplia, declarando o confinamento de homossexuais, o casal tenta escapar do país e partir para a Holanda, até ser capturado. Max acaba no campo de Dachau, na Bavária. 

Apresenta-se os oficiais da SS como judeu e não como gay, com medo da fúria homofóbica das tropas de Hitler, que, a seu ver, sem conhecimento específico, parece ser mais feroz do que o ódio a grupos judaicos. No cárcere, carregando pedras, o jovem conhece Horst, que foi detido sob o rótulo de pederasta. É uma figura afetuosa que San Lima executa com rigor. 

Pouco a pouco, dia após dia, Max se encanta com a coragem de Horst e se apaixona por sua determinação em assumir o que sente (e o que é) a despeito da brutalidade a seu redor. Numa encenação que evita excessos trágicos, Furlanetto explora a conexão entre esses homens como um libelo do benquerer em época de cólera. Os figurinos de Reinaldo Patrício, sob a luz criada e operada por Marcão, estampam o realismo cru buscado pelos diálogos de Sherman, em cenários delineados pelo já citados Gustavo Rodrigues e Augusto Zacchi. 

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