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Luiz Melodia é revisitado em documentário em sua homenagem

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Entre tantos gêneros cinematográficos, o documentário, por vezes, é considerado um gênero menor. Uma enorme balela em um país como o nosso que produziu nomes como os diretores Eduardo Coutinho e Silvio Tendler, profissionais que estão entre os grandes não só do Brasil, mas como do cinema mundial. E dentro deste gênero, há cada vez mais formas e modos diferentes de contar histórias reais que merecem ser lembradas. A fórmula clássica faz o uso de depoimentos, trazendo, assim, o ponto de visto de terceiros em relação ao homenageado. Todavia, há, por exemplo, os documentários que parecem filmes ficcionais, com dramatização e tudo mais; e há também os que usam basicamente imagens de arquivo, entre elas, declarações do próprio personagem principal ao longo da vida. Esta foi a fórmula utilizada em Luiz Melodia – No Coração do Brasil, da cineasta Alessandra Dorgan. 

Falecido em 2017, aos 66 anos, vítima de um raro câncer de medula óssea, Luiz Carlos dos Santos, mais conhecido como Luiz Melodia, herdou o seu sobrenome artístico do pai, o sambista Oswaldo Melodia. Foi vendo o pai cantar, compor e batucar pelas ruelas do Morro de São Carlos, que o homenageado se interessou pela música e decidiu que faria dela o seu meio de sobrevivência, tudo isso para a contrariedade do progenitor, que queria que ele estudasse e virasse doutor. Para o bem da música nacional, o filho contrariou as ordens paternas e seguiu os desígnios de sua vocação. Luiz não frequentou uma aula de canto sequer ou uma escola de música, seus professores informais foram a vida, o pai e as influências com as quais esbarrou durante o seu percurso por este mundo. 

Como nasceu no Morro de São Carlos, berço da escola de samba Estácio de Sá, uma das mais tradicionais do cenário carnavalesco carioca, havia a expectativa de que Luiz Melodia fosse um artista exclusivamente ligado ao Samba e isso, por vezes, gerou críticas. No entanto, ele foi um músico e um compositor multifacetado, que transitava com igual facilidade por gêneros musicais diversos como a Música Popular Brasileira, o Rock, o Blues, o Soul e, óbvio, o próprio samba. Aliás, em um dado momento dos 75 minutos de Luiz Melodia – No Coração do Brasil, a cineasta utiliza uma gravação em que o personagem principal, com o intuito de encerrar a discussão e por fim a qualquer polêmica, fala olhando para a câmera: “Eu sou o Samba, a voz do morro sou eu mesmo, sim, senhor”, em alusão a canção de Zé Ketti, sambista que era uma de suas referencias. 

Compositor genial, dono de um voz melodiosa e possante, sua carreira teve o impulso inicial dado pelos poetas Wally Salomão e Torquato Neto. Foram eles que apresentaram Luiz Melodia a Gal Costa, que logo caiu de amores por aquele que se tornaria um dos seus compositores favoritos. A cantora incluiira no seu próximo disco, “Gal a todo vapor” (1972), umas das obras-primas de Luiz: “Pérola Negra”, que ainda batizaria o primeiro álbum de Melodia. Entretanto, as pessoas geniais muitas vezes são rebeldes. A genialidade que o fez ser gravado por gente como Caetano Veloso e Maria Bethânia, entre outros grandes intérpretes, que o fez compor enormes sucessos como “Ébano” e “Juventude Transviada”, andava de mãos dadas com a sua rebeldia que também o fez bater de frente com gravadoras e produtores. Ele era da mesmíssima estirpe do amigo Sérgio Sampaio (1947-1994) e isso gerou muitos problemas. 

Luiz Melodia – No Coração do Brasil, da diretora Alessandra Dorgan, cumpre aquele que entendo ser o principal objetivo de documentários do seu naipe: fazer o público conhecer melhor o homenageado através das impressões do próprio. Além disto, é bastante evidente o ótimo trabalho de montagem e costura de gravações realizado pelo editor Joaquim Castro, após uma rigorosa seleção de material. Contudo, filmes como esse acabam sendo reféns de uma fórmula que prioriza atrair, antes de tudo, os espectadores que já possuem um conhecimento prévio sobre o tema e têm interesse em saber mais. Para os neófitos no assunto, o risco é bem grande caso não haja um arrebatamento inicial e, daí em diante, a tendência é que todo o resto soe chato e desinteressante. Um risco calculado, mas que não deixa de ser perigoso. 

Desliguem os celulares e boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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