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O homem do saco: Colm McCarthy traz terror genérico para as telonas

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A abertura promete. Uma panorama ampla, bastante aberta de um campo de beisebol. Quando a câmera se aproxima, o ângulo fecha em um adulto e uma criança, provavelmente, um pai e uma filha batendo bola. A conversa que eles estão tendo é sobre um pesadelo, um susto perto da entrada de uma velha mina. Escurece e eles voltam para casa. Junto do porta-malas do carro, a conversa se aprofunda e o homem diz que para vencer determinados medos é preciso se livrar de certas coisas da infância, no caso, um bicho de pelúcia que a menina carrega com ela para cima e para baixo. Pensando pelo viés psicológico, esta talvez seja uma boa ideia, mas como irá mostrar a mitologia de O Homem do Saco, dirigido por Colm McCarthy, no presente filme, não, esta não é uma coisa muito legal de se fazer. Conservem e não se desfaçam de objetos que lhe são caros. 

Na trama, roteirizada por John Hulme, Patrick McKee (Sam Claflin), depois de um tempo longe, decide voltar, acompanhado de sua esposa Karina (Antonia Thomas) e de seu filho Jake (Caréll Rhoden), para sua cidade natal, onde passou toda a infância. Quando criança, o pai de Patrick tinha o hábito de contar para ele e para o seu irmão, Liam, a história do tal Homem do Saco que batiza esta película, um monstro que rapta crianças indefesas e sonhadoras colocando-as em uma sacola. Lenda ou realidade? O público pode até já saber, em função da cena de abertura, mas o protagonista, infelizmente, não tem bem certeza e se isso não bastasse, os traumas do passado e do dia em que ele acredita ter escapado de um terrível encontro com esta entidade ainda o assombram no presente. 

Neste retorno para casa, Patrick está morando na residência que pertenceu a sua mãe e logo fica claro que sua vida está desorganizada. Ele trabalha em uma velha madeireira que pertenceu ao pai e hoje é administrada por Liam. Fica igualmente claro que ele deu um passo para trás. Em uma conversa fria, na varanda, durante um brunch, enquanto as esposas estão dentro de casa, o irmão o desencoraja em relação a um projeto e diz que a sua prioridade deve ser quitar as dívidas. Só que Patrick é um sonhador e quem sonha também costuma ter muitos pesadelos. E esses, os pesadelos, parecem ser sua maior preocupação neste exato momento. 

Noite após noite, depois desta conversa frugal, matinal e quase espectral de tão fria, Patrick e Karina passam a ter a sensação de que a casa onde estão residindo está prestes a ser invadida. São picos de luz, barulhos estranhos, passos no andar térreo, um conjunto de coisas que assustam a todos, porém, mais ele do que ela em função do seu passado com a cidade e a sua lenda. Neste ponto, o filme toma uma das suas melhores decisões: alternar cenas do passado com cenas do presente. Assim, enxergamos o protagonista ainda garoto e tomando conhecimento da história e da existência do Homem do Saco. Esta foi uma ótima forma de introduzir, aos pouquinhos, a tal mitologia a qual me referi no parágrafo inicial, garantindo que, ao término, todos os elementos para compreensão geral estejam ali. 

Se a opção por esta mescla de cenas em tempos diferentes foi uma decisão acertada, é nesta hora também que nos deparamos com o primeiro jumpscare. Até que não são tantos quanto eu temia ou quanto outras pessoas gostariam. Porém, eles estão lá. Presentes como sempre e desnecessários. O fato de não abusar deste recurso, muitas vezes utilizado como muleta, é uma boa notícia, contudo, uma notícia muito melhor seria simplesmente não utilizá-lo e apostar na criação do medo a partir da construção de uma atmosfera soturna e de uma ambientação pesada, principalmente, por meio da fotografia. E vejam que o longa-metragem de McCarthy tinha tudo para ser assim, pois a cena inicial e algumas outras subsequentes me remeteram, instantaneamente, à macabra Derry, das histórias de Stephen King. 

Em um gênero muito consumido e por isso com uma produção tão prolífica, O Homem do Saco enfrenta o mesmo problema de tantos outros filmes, ele padece de uma certa falta de originalidade. E quando isso acontece a melhor alternativa é trabalhar bem aquilo que a obra tem de bom. Como na questão do medo, McCarthy e Hulme ficaram no meio do caminho entre o susto fácil e a ambientação através de elementos como a fotografia, o ponto alto acabou sendo a mitologia por trás do monstro, que assusta Patrick desde a tenra infância. Acontece que mesmo essa, no final das contas, tem os seus problemas. Na ânsia de amarrar a história, os autores lançam mão de uma verborragia ilustrativa com o intuito de explicar tudo o que foi plantado, cena a cena, desde o comecinho. Uma pena. 

Desliguem os celulares e boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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