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Débora Lamm celebra o vaudeville e o legado de Gláucio Gil

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Saltitando entre os mais variados registros dramatúrgicos, como atriz e diretora, tendo o humor como um aríete, Débora Lamm abriu a semana levando o Teatro Gláucio Gil a sorrir (e a fazer sorrir) ao revisitar um dos maiores marcos cômicos das artes cênicas no país: “Toda É Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera”. O texto de 1962, que acaba de estrear, é assinado pelo autor que dá nome ao espaço de Copacabana: Gláucio Gill (1932-1965). Aliás, a montagem dirigida por Débora reúne em sua trupe Bruce Gomlevsky, Carolina Pismel, Danilo Maia, Leticia Isnard e Lucas Sampaio, além dos músicos Pedro Nego e Dom Yuri. Sua visita a um tratado dramatúrgico sobre a ideia de liberdade (no amor e nas relações familiares) abre um debate comportamental sobre controle e moralismo. 

"Toda donzela tem um pai que é uma fera"

Adaptada para o cinema por Roberto Farias (1933-2018) em 1966, “Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera” faz de uma Copacabana de antigamente (com muitos ranços morais ainda vigentes) sua arena. Na trama, um irascível coronel (Bruce Gomlevsky) se dedica a defender a honra da filha (Carolina Pismel) com uma pistola em punho depois de saber que a moça vai morar com o namorado (Lucas Sampaio). Por causa de um mal-entendido, o pai quer forçar a moça a se casar com o amigo mulherengo dele (papel de Danilo Maia). Uma vizinha mucho loca dos rapazes (Leticia Isnard) entra na história, ampliando a confusão.
Na entrevista a seguir, Débora explica ao Rota Cult a força estética que Gláucio Gil tem em fricção com as vivências do Rio de Janeiro de hoje. 


Qual seriam os costumes de que Gláucio Gil fala em seu espetáculo e o quanto esse mundo de pais neuróticos retratado em “Toda Donzela…” pode vir a se adequar às transformações comportamentais do mundo hoje?
Débora Lamm: 
As relações entre pai e filho são atemporais, né? Ultrapassam tempo, ultrapassam época. É claro que os costumes que o Gláucio traz são dos anos 1960 e acabam revisitados na peça. Refazer essa peça é trazer o vaudeville de volta aos nossos palcos. O vaudeville veio da Europa pra cá e, durante muito tempo, foi a nossa referência de comédia teatral. Mostramos de onde viemos. É a raiz de uma comédia que se fez muito no país.

Como preservar ou como atualizar o humor dele em tempos de discussão do patriarcado? O filme feito por Roberto Farias a partir da peça, em 1966, foi uma referência em alguma medida?
Débora Lamm:
 A primeira coisa que eu fiz foi assistir ao filme do Roberto, já que a gente sabe que o “Toda Donzela…” foi um clássico não só no teatro. Realmente, o texto é brilhantemente escrito e tem um grande apelo popular. A obra tem realmente esse poder incrível de comunicação através do riso. O que preservei ali foi justamente toda essa raiz do vaudeville que o Gláucio Gil traz. É um entra-e-sai, uma comédia de erros tendo como símbolo máximo do vaudeville a porta. É uma caixa preta onde só se vê uma margem branca, como se fosse uma porta e um entra-e-sai. É um texto dos anos 1960 que a gente traz para os dias de hoje, mas sem perder essa essência da comédia de erros, que tem um poder de comunicação.

Qual é o maior desafio e o maior prazer de fazer Gláucio Gil no Gláucio Gil?
Débora Lamm:
 Dirigir um texto do Gláucio Gil no Teatro Gláucio Gill é uma ideia sensacional do Rafael Raposo (ator, administrador e diretor artístico do teatro), que é quem está comandando toda essa reforma no espaço. Muitas pessoas não sabem quem foi Gláucio Gil e nem que aquele teatro leva aquele nome. Então, acho que faz todo sentido reabrir com uma peça dele. O maior desafio é justamente este, porque é uma peça que já foi escrita há um tempo, né? Analisar o que fez de “Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera” um sucesso: é, certamente, isso que eu procuro para colocar a peça em cena de novo de maneira que faça sentido.

Você consegue imprimir humor nas mais variadas franjas do gênero, até numa crônica social feito o filme Como É Cruel Viver Assim (lançado em 2017, sob a direção de Julia Rezende), encontrando graça até no silêncio. Qual é o humor que você explora ao dirigir?
Debora Lamm: 
O humor tem várias vertentes. Existem várias maneiras de se fazer comédia, e o humor que eu exploro ao dirigir ou ao atuar é sempre aquela coisa da ironia, do deboche. Para isso acontecer tem que ter muita humanidade, né? Você tem que se humanizar muito para que aquilo também tenha a crítica necessária. O humor tem um poder de comunicação surreal, porque ele pega quem tá do outro lado totalmente desprevenido. É uma conversa sem bloqueios, porque o humor te desmonta. É uma arma de desconstrução social, né? Um jeito de se fazer pensar muito inteligente.

O que o silêncio te oferece como ferramenta cômica?
Débora Lamm: 
O silêncio faz parte, né? Tudo é música de certa forma. “Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera” tem uma pontuação musical o tempo inteiro, inclusive com a presença de dois músicos em cena. Quando optamos pelo silêncio, ele se torna uma ferramenta, ainda mais quando você tem vaudeville, que é uma confusão, uma barulheira. Quando o silêncio vem, ele te joga para outro lugar, né? Ele reverbera muito. O que foi dito vira um instrumento de reflexão também.

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