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Desafie a Escuridão: Damian Harris conta uma jornada de amizade

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Desconhecido para parte do grande público brasileiro, o cineasta Damian Harris tem uma carreira que já está na sua quinta década. Neste meio tempo, ele dirigiu sete longa-metragens, alguns curtas, episódios de séries de televisão e trabalhou com gente famosa tipo John Malkovich, Gleen Close e Jonathan Pryce, entre outros astros de maior ou menor grandeza. Dito tudo isso, confesso que não lembrava de nenhuma estreia sua nos nossos cinemas, pelo menos até agora, uma vez que o seu último filme, Desafie a Escuridão, uma história baseada em fatos reais ocorridos entre 1973 e 1986, chega de fininho, quase que escondido entre tantas produções mais badaladas e oscarizáveis, às salas do país. Movido por uma curiosidade real, fui ver e devo admitir que gostei do que assisti bem mais do que poderia imaginar. 

Desafie a Escuridão

A trama de Desafie a Escuridão é toda focada na relação de amizade entre dois homens: o jovem Nathan, vivido por Nicholas Hamilton, um problemático estudante do ensino médio; e o experiente Stan Deen, interpretado por Jared Harris (irmão do diretor), que trabalha como professor de inglês e teatro na escola Garden Spot, no condado de Lancaster, Pensilvânia. O contato entre eles começa na sala de aula, nos corredores do prédio onde funciona a instituição de ensino, na pista de atletismo em que o mestre, os alunos e os demais integrantes do colégio veem aquele adolescente se destacar em corridas de 200 metros e se estende para a vida. Uma relação baseada na vontade de ajudar o próximo, de não desistir de um amigo diante do primeiro problema. 

Por que Nathan é um aluno problemático? Toda a explicação está no seu passado. Desta forma, inteligentemente, o filme se desenrola em dois tempos: no presente, datado em 1986, e no passado, transcorrido em 1973. Os espectadores têm acesso aos fatos ocorridos mais de uma década atrás por meio das lembranças do jovem. E não vem tudo de uma vez, como um turbilhão de emoções. Na real, este processo de rememoração acontece como se o adolescente estivesse, aos poucos, desbloqueando memórias ruins que estavam travadas devido a traumas. E são esses traumas que explicam o comportamento do personagem ao longo de sua jornada estudantil em Garden Spot. Esta opção pelos flashbacks no formato de lembranças pode não ter nada de novo, mas é suficientemente interessante para capturar a audiência. 

A atuação de Nicholas Hamilton é boa, porém, a verdadeira estrela desta produção é Jared Harris. O veterano ator britânico, reconhecido por seus papéis televisivos, entre outros, o icônico publicitário Lane Pryce, no seriado “Mad Men” (2009 a 2012), e o químico Valery Legasov, na minissérie “Chernobyl (2019), dá vida ao epítome do que poderíamos chamar de um bom samaritano. O professor Deen, muito possivelmente, não é um santo; na realidade, não temos como saber, pois nada é mostrado em relação ao seu passado. Só que isso não importa diante de todas as suas atitudes no presente. Quando todos ameaçam dar as costas para Nathan, o mestre insiste em ficar ao lado do pupilo. Assim, ele também representa o epítome dos deveres de um bom professor: ensinar, educar e guiar. E Harris desempenha este papel com tanta candura e delicadeza, que acaba sendo bastante difícil não se afeiçoar à sua interpretação. 

Distribuído no Brasil pela Paris Filmes, mas produzido pela Angel Studios, uma companhia de películas cristãs, Desafie a Escuridão é, inegavelmente, um filme realizado dentro da cartilha desde subgênero fílmico tão popular em nossos tempos. No entanto, ele tem uma distinção brutal que o torna imensamente melhor do que seus congêneres brasileiros: os valores pregados pelo cristianismo estão lá, por exemplo, nas ações do professor, porém, o longa-metragem não advoga oficialmente em nome de nenhuma religião, o que é muito bom. Obras que fazem o contrário, muitas vezes, acabam incorrendo no proselitismo religioso. De resto, outra vantagem desta produção é a sua fotografia assinada pelo fotógrafo argentino Júlio Macat. Com os seus tons terrosos e o uso de um filtro sépia, ela remete a um velho filme oitentista, proporcionando, assim, uma eficaz experiência de imersão. 

Desliguem os celulares e boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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