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Liam Neeson volta ao drama em filme sobre erros do passado

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Quando vocês pensam em um filme estrelado pelo Liam Neeson, o que vem a mente, como imaginam esta produção? Não estou pedindo  para tentarem pensar em todos os longas da carreira do ator, a ideia, na realidade, para este exercício de imaginação, é um recorte, sei lá, dos últimos vinte anos. Imaginaram? Pois bem, eu sim: tiro, porrada e bomba. Nada de anormal para quem decidiu ser o Charles Bronson ou o Clint Eastwood de sua geração. Obras como a trilogia Busca Implacável ou as produções em parceria com espanhol Jaume Collet-Serra estão aí para não me deixar mentir. E foi exatamente com esta expectativa que fui assistir ao seu mais novo trabalho, Último Alvo, dirigido pelo cineasta norueguês Hans Peter Molland, afinal, tanto o título, como a sinopse, os trailers e tudo mais me induziam a acreditar que não existia a menor possibilidade de eu ser surpreendido. Que ledo e doce engano! 

Liam Neeson

Em primeiro lugar, esqueçam o título tal como está em português e a sinopse reproduzida por todos os veículos de comunicação. O nome em inglês, Absolution, que, traduzido ao pé da letra, significa Absolvição, tem muito mais a ver com a obra e dialoga com mais propriedade com o drama que se desenrola diante dos nossos olhos. Já em relação à sinopse, não é que ela esteja totalmente errada ao afirmar que o enredo versa sobre um velho gângster de Boston que busca se reconectar com sua família e corrigir os erros do passado, quando, de repente, percebe que seu estilo de vida criminoso ameaça destruir tudo o que ele mais considera. Não, de fato, ela não está completamente equivocada, porém, esta busca pela reconciliação familiar é, na verdade, o destino final e não o ponto de partida de toda a história. 

Em segundo lugar, esqueçam também os tiros, as porradas e as bombas as quais ficamos mal acostumados, com citei mais acima, o que temos diante de nós é um drama denso e, por vezes, bastante reflexivo. Em Último Alvo, Liam Neeson dá vida a Thug, capanga e executor de Charlie Conner (Ron Perlman), um mafioso Irlandês que controla o seu pequeno reino sentado atrás de uma mesa, nos fundos de um negócio legítimo, uma loja de móveis. Na primeira vez que o vemos, o protagonista está servindo de segurança para Kyle Conner (Daniel Diemer), filho de Charlie, em uma negociação com uma quadrilha latina. Uma vez provocado, Thug não poderia ser mais ameaçador. Sua presença evoca respeito, sua fala destila medo. Quando lá pelas tantas o bairro de Dorchester é mencionado, a sensação é de que estamos acompanhando uma das muitas histórias de Dennis Lehane, romancista e roteirista que situa todos os seus livros policiais em uma Boston povoada de homens maus e violentos. Esses até estão presentes, todavia, a violência só irromperá perto do desfecho da trama. 

O motor do drama surge aos poucos, com pinceladas aqui e acolá. Em uma reunião com seu chefe, Thug simplesmente esquece o nome desse. Ao cobrar uma dívida de um médico viciado em oxicodona, igualmente dá mostras de que a memória não anda lá estas coisas. É aí, então, que o doutor sugere que ele procure um especialista e se submeta a uma bateria de exames. Sugestão acatada, o vaticínio é cruel: ele sofre de “Encefalopatia Traumática Crónica”, também conhecida com “Demência Pugilística”, provavelmente, fruto dos seus anos como boxeador amador e das inúmeras brigas que se envolveu devido à vida como mafioso. Entre o diagnóstico e o aceite do destino, muito pouco tempo se passa e do segundo vem a guinada que torna este longa-metragem, em grande medida, uma obra reflexiva, inclusive, culminando na busca por uma reconciliação com a filha Daisy (Frankie Shaw), de quem está distante há anos. 

Com uma filmografia composta por doze filmes, o norueguês Hans Peter Molland ganhou relevância internacional ao apresentar para o mundo o excelente O Cidadão do Ano, de 2014, uma obra sobre vingança estrelada de forma magnífica por Stellan Skarsgård. Um produtor norte-americano certamente viu o longa-metragem e pensou que um remake protagonizado por Liam Neeson seria uma ótima ideia. Dito e feito, o ator aceitou fazer uma refilmagem, em 2019, dirigida sabem por quem? Pelo próprio Molland. O resultado não foi dos melhores, mas deste encontro entre os dois, possivelmente, surgiu a vontade de trabalharem juntos mais uma vez, só que, agora, em um projeto de maior sucesso. O resultado está aí e a obra concebida por Molland em parceria com o roteirista Tony Gayton, para além do drama denso e reflexivo, pode ser categorizada como uma película noir fatalista, com todos as nuances de uma produção do gênero capturadas pelas lentes do diretor de fotografia norueguês Philip Øgaard, parceiro habitual do cineasta.

Reflexivo e fatalista são dois adjetivos que caem bem à Último Alvo e que, por sua vez, se alimentam. A descoberta da doença impulsiona a reflexão a qual o protagonista passa a proceder. Já esta o empurra rumo a um destino que estava traçado há muito tempo, mas que ele apenas não tinha como saber de que jeito seria. Quando você entra para o mundo do crime, deve supor que as chances de se safar, de terminar a vida bem, são pequenas, contudo, alguns desfechos são mais previsíveis do que outros. No centro disto tudo, Liam Neeson, um grande ator que um belo dia resolveu encarnar sempre o mesmo personagem (aliás, isso não é uma crítica). Acontece que o astro não desaprendeu o seu ofício, logo, quando teve a oportunidade de desempenhar um papel que congrega um pouco do que ele faz de melhor hoje, com um tanto do que ele sempre fez muito bem, dificilmente algo de errado aconteceria. Agora, você pode assistir ao novo longa com Liam Neeson nas principais salas de cinema do país. 

Desliguem os celulares e muito boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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